Estrelas do futebol europeu cozinham contra fast-food
Vinte por cento das crianças suíças são obesas. Na Europa são 20 milhões. Na Suíça e em vários outros países discute-se a proibição da publicidade de "junk-food". Treze estrelas do futebol cozinham contra "fast-food".
Para proteger crianças com menos de 16 anos contra uma alimentação prejudicial à saúde, duas organizações suíças de defesa do consumidor pedem uma proibição parcial da publicidade de comida não saudável.
A campanha é patrocinada pela Organização Internacional de Defesa do Consumidor (Consumers International), que elaborou diretrizes a serem apresentadas no início do ano que vem à Organização Mundial de Saúde (OMS), em Genebra.
Governo lava as mãos
A esperança da Fundação de Defesa do Consumidor (SKS, na sigla em alemão), que reivindica do governo suíço uma diretiva nesse sentido, até agora foi frustrada. “No momento, não temos a intenção de restringir a publicidade de alimentos”, informa a Secretaria Federal de Saúde, acrescentando que confia na auto-responsabilidade dos consumidores e da indústria.
“Essa posição das autoridades me deixa perplexa e decepcionada”, diz a presidente da SKS, Simonetta Sommaruga, à swissinfo. Isso porque se sabe que a obesidade é hoje é um grave problema de saúde infantil. “Precisamos do apoio das autoridades para a nossa campanha”, diz Sommaruga.
Mesmo assim, ela vê chances para a campanha por ser internacional. Além disso, autoridades de outros países “são mais abertas do que as nossas na Suíça. Os problemas de saúde das crianças obesas atingem a todos e custam muito à sociedade. Por isso, temos de chegar a um consenso”, afirma a presidente da SKS.
Pasta à Cannavaro
Um apoio indireto à campanha vem de outro lado. A União Européia de Futebol (Uefa) e a Federação Mundial do Coração lançaram, com apoio da União Européia, o livro de culinária Eat for Goals!, com a participação de 13 estrelas do futebol (entre elas, três mulheres).
Um pacote de pasta, 6 tomates, 2 beringelas, 12 olivas pretas, 4 colheres de sopa de óleo, manjericão, alcaparras, 2 cebolas, 4 dentes de alho – assim Fabio Cannavaro, zagueiro do Real Madrid e capitão campeão mundial da seleção italiana, prepara seu “espaguete à siciliana”. Uma receita simples e sem gordura.
Também estrelas como Thierry Henry e Carles Puyol (ambos do Barcelona), Ruud van Nistelrooy (Real Madrid), Lukas Podolski ou Miroslav Klose (ambos do Bayern de Munique) fornecem a lista detalhada dos ingredientes e instruções precisas para preparar 13 pratos saudáveis e gostosos para crianças.
“O livro mostra a jovens jogadores e torcedores de futebol como cozinham e comem os campeões”, diz o capitão do FC Liverpool, Steven Gerrard.
Nenhum jodador disse “não”
Foi relativamente fácil convencer as 13 estrelas a participar do projeto do livro, disse o diretor de projetos sociais da Uefa, Patrick Gasser, à swissinfo. “Nenhum dos craques disse não. Contatamos os clubes e então os jogadores e foi fácil obter as receitas.”
A seleção dos jogadores é mais ou menos representativa da Europa, mas nenhum suíço foi escolhido. Será porque Tranquillo Barnetta, atacante da seleção helvética, faz propaganda para do McDonald’s? Gasser ri: “Isso não teve nada a ver. Temos 53 federações ligadas à Uefa. Engajar um jogador de cada país teria extrapolado os limites do projeto.”
Pressão sobre o McDonald’s
As diferentes campanhas contra obesidade e o fato de hoje existirem mais de 20 milhões de crianças com esse problema na Europa aumentam a pressão sobre o McDonald’s. A Grã-Bretanha já aprovou restrições legais à publicidade de alimentação gordurosa. Também em outros países aumentam os pedidos de proibição da publicidade de fast-food, especialmente em programas televisivos infantis.
Desde que a OMS declarou a obesidade com epidemia mundial, a multinacional norte-americana está cada vez mais na mira das autoridades sanitárias e da medicina preventiva.
Por enquanto, o faturamento do McDonald’s, que tem 56 milhões de clientes diários, continua aumentando (6% no terceiro trimestre de 2008). Mas a sede mundial da empresa acompanha com atenção as campanhas contra comidas gordurosas.
Neste ponto, com suas dicas de receitas, Cannavaro, Gerrard, van Nistelrooy, Henry, Klose e Podolski podem ser mais perigosos para o McDonald’s do que para os goleiros dos adversários em campo.
swissinfo, Jean-Michel Berthoud
As organizações de defesa do consumidor pedem a proibição da publicidade de fast-food entre 6h e 21h na TV, bem como na internet e via SMS.
Além disso, querem que essa propaganda seja proibida nas escolas e em locais muito freqüentados por crianças, e uma proibição de promoções de produtos alimentícios com presentes e brinquedos que podem ser colecionados.
Por fim, reivindicam o fim desse tipo de publicidade com personalidades conhecidas, personagens de histórias em quadrinho ou através de competições.
Desde 2007, existe na Suíça uma aliança entre 11 grandes fabricantes de alimentos para adotar normas de uso moderado da publicidade. Isso, sobretudo, para impedir uma regulamentação do Estado, como pede a SKS.
Nestlé, Burger King, Coca-Cola e Kraft Foods, por exemplo, se comprometem a não fazer propaganda de produtos para crianças com menos de 12 anos que não atendam aos padrões internacionais de nutrição.
As normas válidas para os países da União Européia, em parte, também são cumpridas na Suíça, por exemplo, pela Kraft Foods.
Segundo a presidente da SKS, não se sente os efeitos dessas medidas. A tendência, segundo ela, vai na direção oposta: a publicidade de fast-food para crianças se torna cada vez mais agressiva.
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