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Suíço constrói casas em favela

Na Rocinha vivem aproximadamente 100 mil pessoas um cotidiano muitas vezes violento e perigoso. swissinfo.ch

Roland Müller, suíço do cantão de Argóvia imigra para o Brasil e investe na construção de quatro apartamentos na Rocinha, a maior favela da América do Sul.

Apesar da vista panorâmica para praias famosas, habitantes sofrem com a violência diária e tiroteios entre traficantes e policiais.

Suíço constrói casas em favela

Roland Müller, suíço do cantão de Argóvia imigra para o Brasil e investe na construção de quatro apartamentos na Rocinha, a maior favela da América do Sul.

Apesar da vista panorâmica para praias famosas, habitantes sofrem com a violência diária e tiroteios entre traficantes e policiais.

“Hoje em dia eu não faria mais isso”, afirma Roland Müller ao se lembrar nos acontecimentos das últimas semanas. Há quatro anos, o suíço do cantão da Argóvia seguiu os conselhos da sua empregada doméstica e comprou na Rocinha, a maior favela da América do Sul, um terreno de 60 metros quadrados. “Ela me convenceu a investir em algo que eu pudesse bancar”.

O que o suíço não poderia imaginar é que a favela, considerada até então um lugar seguro no Rio de Janeiro, fosse viver batalhas campais entre policiais e bandidos. “Eu fiquei muito surpreso e chocado, quando vi as primeiras imagens na televisão”. Durante o feriado da Páscoa, na metade de abril, dez pessoas foram mortas na Rocinha, incluindo também o chefe de uma quadrilha de traficantes de drogas.

O conflito sangrento em abril não é um fato isolado. Na favela, os mais de 100 mil estimados habitantes estão acostumados a um cotidiano violento provocado pelas disputas entre quadrilhas rivais de traficantes pelos melhores pontos de venda. Afinal, o comércio de drogas como cocaína e maconha chega a movimentar 4,5 milhões de francos suíços (10 milhões de reais) por semana.

Apesar de pobre, a Rocinha está localizada num dos pedaços mais bonitos da chamada “Cidade Maravilhosa”, entre bairros de luxo, as montanhas e o litoral. Roland Müller ficou, desde o início, apaixonado pela vista a partir do seu pequeno terreno na favela. Não são muitos brasileiros que podem admirar da janela de casa a lagoa Rodrigo de Freitas e as famosas praias de Ipanema e Leblon.

Casa para alugar

“Ninguém tem uma vista dessas”, se orgulha Müller, que desde 1983 viaja regularmente ao Brasil. Ele comprou o terreno na Rocinha e, um ano depois, construiu para alugar uma casa com quatro apartamentos de um quarto. Hoje o suíço percebe que pagou muito caro pela propriedade.

“Minha namorada brasileira se ocupa da casa”, explica Müller, que vive na realidade em Santa Teresa, um bairro de classe média no Rio de Janeiro. “Eu só vou lá de dia e nunca me senti inseguro”. Dentro da Rocinha não acontece nada, “nem mesmo roubos, que são punidos através de uma lei interna muito severa”.

Porém uma vez o suíço teve um briga verbal com uma vizinha, devido à instalação de um cabo elétrico. “Ela me ameaçou e prometeu que daria um jeito, para que eu não pudesse mais visitar a favela”. Sua namorada era da opinião que Roland Müller deveria se desculpar e não subir mais o morro por um período limitado.

Becos estreitos e perigosos

O visitante sai da rua e avista morro abaixo os vários degraus numa inclinação vertiginosa, que levam a casa de Roland Müller. “Os becos aqui são estreitos e podem ser perigosos”.

Apesar da varanda ainda não estar pronta, dois apartamentos na casa já foram alugados. Cada um dos locatários paga 120 francos (270 reais), que representa apenas uma ínfima parte do dinheiro investido. Para comprar o terreno e construir a casa, Müller já gastou 35 mil francos (80 mil reais).

Depois do conflito em meados de abril, os alugueis na Rocinha caíram drasticamente e as pessoas pensam duas vezes antes de morar na maior favela da América do Sul.

“Na área onde foi construída a casa não houve tiroteios”, conta Henrique dos Santos, 38 anos, que toma conta da propriedade do suíço. Há trinta e cinco anos ele vive na Rocinha, onde já conhece a maioria dos moradores do bairro. “Desde janeiro a situação estava tensa na favela e, vez ou outra, ocorriam trocas de tiros. Porém essa guerra em abril nos deixou muito surpreso”. No momento a situação está sob controle, podendo explodir a qualquer momento.

Robert Müller pretende adiar por um tempo determinado a construção do terraço. Os aluguéis dos dois apartamentos que ainda estão vazios também terão de ser reduzidos. Sua esperança é que a situação de segurança na Rocinha se normalize e que volte a crescer a procura por imóveis. “Acho que só o futuro poderá dizer se meu investimento terá retorno ou não”.

swissinfo, Brigitte Ariane Müller
traduzido por Alexander Thoele

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