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“Sem anistia!”: manifestantes protestam contra possível perdão a Bolsonaro e imunidade parlamentar

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Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas protestar neste domingo (20) contra uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a imunidade dos legisladores e um projeto de anistia que poderia beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na maior mobilização da esquerda desde 2022.

Dias depois de Bolsonaro ter sido condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe pelo Supremo Tribunal Federal (STF), seus críticos saíram às ruas em números não vistos desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas há três anos, segundo o Monitor do Debate Político da Universidade de São Paulo (USP).

Aos gritos de “Sem anistia!”, e com cartazes com frases como “Ditadura nunca mais” e “Congresso vergonha nacional”, uma multidão tomou as ruas de cerca de trinta cidades.

Lula celebrou as mobilizações, que segundo ele, “demonstram que a população não quer a impunidade, nem a anistia”. “Estou do lado do povo brasileiro”, escreveu no Instagram

Em São Paulo, cerca de 42 mil pessoas lotaram a avenida Paulista, segundo cálculos do Monitor, que registrou número semelhante em uma manifestação bolsonarista há duas semanas.

O mesmo número de manifestantes foi visto no Rio de Janeiro, onde o protesto se transformou em um show com os ícones da música popular brasileira Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, na orla da praia de Copacabana.

Na terça-feira, a Câmara dos Deputados, de maioria conservadora, aprovou a proposta de emenda constitucional conhecida como PEC da Blindagem, que exige que o Congresso autorize por meio de voto secreto qualquer acusação penal contra deputados e senadores.

A medida provocou a ira de cidadãos nas redes sociais, que passaram a chamar a proposta de ‘PEC da Bandidagem’.

A indignação cresceu na quarta-feira, quando os deputados aprovaram a tramitação em regime de urgência de um projeto de lei para anistiar cerca de 700 bolsonaristas condenados pela insurreição em Brasília em janeiro de 2023.

O texto também poderia incluir um perdão a Bolsonaro.

– “Revolucionário” –

As manobras no Congresso foram criticadas por Caetano Veloso, que disse diante do abarrotado calçadão de Copacabana que não podia “deixar de responder aos horrores que vem se insinuando à nossa volta”.

O músico, de 83 anos, havia lembrado pouco antes em suas redes sociais que os três intérpretes se reencontravam nas ruas após marcharem juntos em 1968 contra a ditadura militar (1964-1985).

Vestida com um top de biquíni azul para suportar o forte calor que assolou o Rio de Janeiro neste domingo, Giovana Araújo estava entre os presentes em um show que definiu como “revolucionário”.

“Eles foram literalmente boicotados durante a ditadura militar e vê-los aqui é sinônimo de resistência”, disse à AFP a estudante de psicologia, de 27 anos.

“Mais uma vez os artistas movimentando o povo para pedir justiça nesse país”, afirmou por sua vez Yasmin Aimeé Coelho Pessoa, estudante de sociologia de 20 anos, com purpurina dourada nos olhos.

Na praia, um gigantesco boneco inflável de Bolsonaro, com listras brancas e pretas de presidiário, oscilava ao lado de um do presidente americano, Donald Trump, que tem punido o Brasil com tarifas em represália pelo julgamento de seu aliado político no STF.

Em São Paulo, os manifestantes estenderam uma gigantesca bandeira do Brasil, em resposta à bandeira dos Estados Unidos erguida na manifestação bolsonarista no início do mês, que gerou controvérsia.

Milhares de manifestantes também se concentraram em Brasília, de onde partiram da Esplanada dos Ministérios rumo ao Congresso, constatou a AFP.

“A esquerda está se reorganizando para um novo momento de aproveitar a nova maré, um novo momento, que é justamente todas essas atrocidades, e eu acho que está chegando num momento de entalado, está na garganta de gritar”, disse Henrique Marques, engenheiro ambiental de 42 anos.

– Deputados pedem perdão –

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu a proposta de emenda constitucional conhecida como PEC da Blindagem, que ele classificou como uma proteção contra abusos judiciais.

Vários deputados pediram desculpas nas redes sociais por votar a favor da proposta, assegurando que foram pressionados por seus partidos.

Ambos os textos enfrentam um caminho espinhoso no Senado.

O presidente Lula prometeu vetar a lei da anistia e qualificou a PEC como algo que não é do tipo de “assunto sério” com o qual os legisladores deveriam se ocupar.

rsr/gv/lm/fp/am

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