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‘Preparem a pipoca’ para o próximo capítulo do duelo de titãs entre Trump e Musk

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A espetacular briga entre Elon Musk e Donald Trump certamente fará correr rios de tinta, com prováveis consequências para as carreiras, fortunas e legados do homem mais rico do mundo e do mais poderoso.

Os assessores de ambos os líderes se esforçam para tentar conter a onda expansiva de uma novela que está na boca de todos e preocupa muitos por suas possíveis repercussões.

Tudo isso por causa de desavenças sobre o projeto de lei orçamentária de Trump, muito criticado por Musk, convencido de que ele aumentará o déficit dos Estados Unidos.

“Nunca vi duas pessoas tão importantes se enfrentarem de forma tão desagradável em todo o tempo que estou nesse negócio. Isso não pode ser bom para nenhuma das partes”, declarou à AFP Chaim Siegel, analista da empresa de serviços financeiros Elazar Advisors.

“Preparem a pipoca”, antecipou o analista, dando como certo que haverá uma segunda parte.

Os aliados de Trump estão preocupados com o fato de que a ruidosa ruptura afete seu legado, as perspectivas eleitorais dos republicanos e os laços entre o governo e o Vale do Silício.

Musk enfrenta graves consequências para suas finanças depois que Trump ameaçou eliminar os subsídios e contratos federais do magnata da tecnologia, o que colocaria em risco o modelo de negócios da Tesla e cerca de 22 bilhões de dólares (R$ 123 bilhões) em receitas públicas da SpaceX, duas de suas empresas.

Mas, se isso acontecer, Musk pode responder com represálias: os foguetes da SpaceX transportam os astronautas americanos à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), sua constelação de satélites Starlink cobre o mundo com internet banda-larga e a empresa está envolvida em projetos do Pentágono, como o rastreamento de mísseis hipersônicos.

– Dom Dinheiro –

O desentendimento foi tão grande que Musk pediu a destituição de Trump e insinuou, sem provas, que o republicano tem vínculos com o financista Jeffrey Epstein, que se suicidou após ser acusado de crimes sexuais.

A briga abalou a frágil coalizão entre o movimento de Trump “Make America Great Again” (“Faça a América Grande de Novo”), mais conhecido pela sigla em inglês MAGA, e os líderes tecnológicos aliados a Musk.

Figuras influentes dos conservadores pediram que se investigue o status migratório do sul-africano Musk e seu suposto consumo de drogas.

No Congresso, os republicanos pedem uma trégua na disputa, classificada pela mídia americana como um “choque de titãs”.

E é que, como escreveu o poeta espanhol Francisco de Quevedo, “poderoso cavalheiro é dom dinheiro”. Os congressistas conservadores temem que o homem mais rico do mundo use sua carteira para se vingar nas eleições de meio de mandato de 2026.

Pois Musk e Trump selaram sua aliança com um talão de cheques.

Musk contribuiu com quase 300 milhões de dólares (R$ 1,68 bilhão) para a campanha eleitoral de Trump e, como recompensa, conseguiu ser o rosto visível da comissão de eficiência governamental, encarregada de cortar os gastos federais.

“Sem mim, Trump teria perdido as eleições”, publicou Musk em sua plataforma social X.

– Dois colossos –

Como presidente dos Estados Unidos, Trump é possivelmente a pessoa mais poderosa do mundo.

Mas o megafone de Musk — o X — é muito maior do que a plataforma Truth Social de Trump e alcança instantaneamente milhões de pessoas.

Além disso, seus quase 100 contratos com 17 agências governamentais lhe dão um enorme poder.

É possível que o presidente de 78 anos precise agir com cautela diante do risco de Musk pressionar o Congresso para derrubar seus planos orçamentários.

Os congressistas republicanos receberam Musk de braços abertos. Muitos concordam com ele sobre a necessidade de cortar gastos e são gratos pelo dinheiro de campanha.

Mas, na hora de escolher um lado, a maioria dos republicanos que se manifestaram tende a ficar com Trump, conhecido por colocar na linha aqueles que resistem a seguir suas ordens.

Musk, de 53 anos, que sonha colonizar Marte, respondeu com uma reflexão: “Trump ainda tem 3,5 anos como presidente”, mas “eu estarei por aqui por mais de 40 anos”.

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