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Centro direita derrota bolsonarismo e esquerda nas eleições municipais

Eleitor vota em São Paulo, em 29 de novembro de 2020 afp_tickers

A centro-direita confirmou sua condição de grande vencedora no segundo turno das eleições municipais deste domingo (29) no Brasil, em detrimento dos candidatos da esquerda e dos apoiados pelo presidente ultradireitista Jair Bolsonaro.

Bruno Covas, do PSDB (centro-direita), atual prefeito de São Paulo, a cidade mais rica e populosa do país, com 12,5 milhões de habitantes, derrotou Guilherme Boulos, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), por 59,38% contra 40,6%.

No primeiro turno, em 15 de novembro, foram eliminados tanto o candidato apoiado pelo presidente Bolsonaro quanto o do Partido dos Trabalhadores (PT), do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No Rio de Janeiro, segundo maior colégio eleitoral do país, com 6,7 milhões de habitantes, Eduardo Paes (Democratas, centro-direita), obteve 64,1% dos votos, contra 35,8% para o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), um bispo evangélico licenciado aliado de Bolsonaro.

“Hoje vocês estão livres para voltar a confirmar essa cidade como a cidade a diversidade. É uma cidade tão ampla, que aceita todos, que abraça todos”, disse Paes após a divulgação do resultado.

As eleições foram celebradas com seis semanas de atraso, devido à pandemia do novo coronavírus, que já deixou quase 173.000 mortos e mergulhou o país em uma grave crise econômica, com desemprego recorde de mais de 14 milhões de pessoas.

Bolsonaro, sem partido há um ano, apoiou 13 candidatos, dos quais apenas dois foram eleitos. No segundo turno, além de Crivella, sua última esperança era Wagner Sousa Gomes, conhecido como Capitão Wagner, que foi derrotado em Fortaleza pelo candidato do PDT (centro-esquerda), José Sarto.

Os resultados privam o presidente de uma base eleitoral sólida nestes municípios, mas “isso não significa que não haverá (nas eleições presidenciais) em 2022 uma fusão de Bolsonaro e dos partidos da direita”, disse à AFP a cientista política da Universidade de Brasília Flávia Biroli.

A esquerda sofreu outra decepção com a derrota em Porto Alegre de Manuela D’Ávila, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), para Sebastião Melo (MDB, centro-direita).

Recife, um reduto tradicional da esquerda, foi palco de uma disputa entre dois primos e herdeiros políticos do histórico líder político Miguel Arraes (1916-2005): João Campos (filho do ex-candidato à Presidência Eduardo Campos, morto durante a campanha para as eleições de 2014), do Partido Socialista Brasileiro (PSB), venceu com 56,2% dos votos Marília Arraes, do PT, com 43,73%.

O PT, por sua vez, não conseguiu frear seu declínio e, pela primeira vez desde a democratização do Brasil, nos anos 1980, não venceu em nenhuma das 26 capitais estaduais. Governará apenas em 180 prefeituras (do total de 5.570), pouco menos de um terço das 600 que tinha em 2012.

Debora Thomé, cientista política da Universidade Federal Fluminense (UFF), chamou atenção para o fato apenas uma mulher ter sido eleita nas capitais: Cinthia Ribeiro, reeleita em Palmas, capital do Tocantins.

“O perfil que predominou nestas eleições foi o do homem branco (…) Continua sendo muito difícil para uma mulher vencer uma eleição majoritária”, constatou.

– Covas: “política sem ódio” –

Os prefeitos têm um amplo leque de competências no Brasil, que inclui a saúde. Portanto, para muitos eleitores, a resposta à pandemia foi um fator a considerar na hora de votar.

No momento mais crítico da propagação da covid-19, Bolsonaro minimizou sua importância e pressionou contra as medidas de confinamento, determinadas por governadores e prefeitos.

“É possível fazer política sem ódio, é possível fazer política falando a verdade A democracia está viva. São Paulo demostrou que ficam poucos dias para o negacionismo e o obscurantismo. São Paulo disse sim à democracia”, acrescentou.

Os prefeitos que vão assumir suas funções em 1º de janeiro de 2021 para um mandato de quatro anos terão que enfrentar desafios gigantescos nas áreas de segurança, transportes e educação, com cofres vazios por causa da crise, que só se espera que comece a amenizar quando surgir uma vacina.

– ‘Fake News’ –

Bolsonaro, que votou no Rio, aproveitou a ocasião para reiterar suas dúvidas sobre a confiabilidade do sistema de votação eletrônica em vigor no Brasil.

“Não podemos continuar votando e não sabendo, não tendo a certeza de que aquele voto foi para aquela pessoa (eleita)”, disse.

As campanhas de desinformação nas redes sociais se concentraram este ano mais no processo eleitoral do que nos candidatos, ao contrário do ocorrido nas eleições presidenciais de 2018.

Entre postagens falsas nas redes sociais, montagens e alegações enganosas, a coalizão de checagem da qual a AFP faz parte, junto com outros oito veículos, verificou mais de 70 publicações que tentavam confundir os eleitores.

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SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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