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Cerca de 20% das exportações brasileiras à UE vem de desmatamento ilegal, diz estudo

Segundo dados oficiais, o desmatamento da Amazônia brasileira registrou um recorde semestral de 3.070 km² entre janeiro e junho, uma alta de 25% em relação ao mesmo período de 2019 afp_tickers
Este conteúdo foi publicado em 16. julho 2020 - 17:31 minutos
(AFP)

Aproximadamente 20% das exportações de soja e carne bovina do Brasil à União Europeia (UE) provêm do desmatamento ilegal, segundo o artigo "As maçãs podres da agroindústria brasileira", estudo publicado nesta quinta-feira (16) no periódico científico americano Science.

O documento foi publicado em meio a um contexto de forte resistência europeia à ratificação do acordo de livre comércio assinado no último ano entre a UE e o Mercosul, já que há um avanço no desmatamento na Floresta Amazônica desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder no país.

O estudo foi elaborado por 12 investigadores do Brasil, Alemanha e Estados Unidos, feito por meio de um software de alta potência que, segundo os cientistas afirmam, lhes permitiu analisar 815.000 propriedades rurais e identificar áreas de desmatamento ilegal, principalmente na Amazônia e no Cerrado.

"Entre 18% e 22% — possivelmente mais — das exportações anuais do Brasil para a União Europeia são fruto de desmatamento ilegal", afirma Raoni Rajão, líder do projeto e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo os autores do estudo, "cerca de 80%, dos agricultores segue o Código Florestal", e defendem que o novo software poderia ajudar a "tomar medidas rápidas e decisivas contra os infratores".

O Brasil tem a capacidade de se tornar uma "potência ambiental mundial, capaz de proteger seu ecossistema e, ao mesmo tempo, alimentar o mundo", ressaltam os autores.

O país "já possui os meios, só precisa de vontade política" para chegar a esse estágio, acrescentam.

Porém, atualmente parece estar indo na direção oposta à proposta.

"As florestas brasileiras se encontram em um ponto de ruptura", argumenta o professor Britaldo Soares-Filho, co-autor do artigo e também professor da UFMG.

Soares atribui tal ameaça ao impacto dos "efeitos das políticas que favorecem o desmatamento, especialmente para a grilagem de terras", referindo-se ao apoio de Bolsonaro a projetos de abertura das reservas indígenas e áreas de proteção ambiental para atividades de mineração e agricultura.

Segundo dados oficiais, a Amazônia brasileira registrou um recorde semestral de desmatamento, uma área de 3.070 km2 entre janeiro e junho. Isso representa um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado, estabelecendo um recorde desde o início da série, em 2015.

O relatório também "aponta para a responsabilidade de cada mercado estrangeiro nesse processo".

- "Apetite europeu" -

As "maçãs podres" do agronegócio brasileiro, de acordo com os autores, "destroem a floresta para saciar o apetite europeu".

Segundo o estudo, cerca de dois milhões de toneladas de soja cultivadas em propriedades onde foi registrado desmatamento ilegal - principalmente no Cerrado - teriam como destino a UE.

Nas últimas duas décadas, o Brasil, o maior produtor mundial de soja, quadruplicou sua produção de grãos e deverá aumentar mais um terço nos próximos 10 anos.

Os representantes do setor da soja rejeitaram as conclusões do estudo, afirmando que a pesquisa não indica quanto das áreas identificadas com desmatamento ilegal estão efetivamente embargadas para a plantação do cereal na região amazônica.

"A soja produzida em áreas desmatadas ilegalmente, embargadas por órgãos de fiscalização ambiental e incluídas na lista de trabalho escravo não entra na cadeia produtiva do setor" e, por consequência, não pode ser exportada, se defendeu em comunicado a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).

Em relação à carne bovina, os autores descobriram que, de um total de 4,1 milhões de cabeças enviadas para os matadouros, ao menos 500.000 viriam de propriedades que podem ter sido desmatadas ilegalmente.

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