Perspectivas suíças em 10 idiomas

Cientistas premiados querem mostrar imagens de buraco negro em tempo real

Shep Doeleman, diretor do projeto Event Horizon Telescope, em 16 de maio de 2019 afp_tickers

Quando divulgaram a primeira imagem de um buraco negro, em 10 de abril, os cientistas da colaboração internacional do Event Horizon Telescope já estavam preparando o que viria depois, a primeira imagem animada mostrando os movimentos de gases sugados para sempre nesses objetos celestes.

Observações já foram feitas por telescópios em 2017 e 2018, e os pesquisadores estão trabalhando ativamente, neste momento, para produzir vídeos a partir das montanhas de dados obtidos – eles esperam publicar com sucesso um primeiro filme, talvez um pouco bruto, em 2020.

De qualquer forma, “até o final da próxima década, faremos filmes de buracos negros de alta qualidade e em tempo real, que revelarão não apenas sua aparência, mas seu comportamento no palco cósmico”, diz à AFP Shep Doeleman, diretor do enorme projeto de astronomia, que reúne 347 coautores de todo o mundo que receberam coletivamente nesta quinta-feira um prêmio de US$ 3 milhões, o Breakthrough Prize, em reconhecimento dos avanços científicos realizados.

“Estou trabalhando nisso há 20 anos, e minha esposa está finalmente convencida de que estou fazendo algo importante”, explicou o pesquisador de 52 anos, pai de dois filhos e astrônomo no Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian.

A ideia que o ocupou desde sua tese de doutorado é a seguinte: os astrônomos podiam detectar a luz engolida por buracos negros, “mas não tínhamos a precisão necessária para ver a forma da luz”.

“Para criar uma imagem, era preciso ligar vários telescópios”, explica o astrônomo: vários telescópios espalhados pela Terra e que juntos reproduziriam o equivalente a um telescópio virtual gigante, capaz de resolução sem precedentes, para observar em detalhes uma estrela que aparece microscopicamente no céu.

– “Um primeiro filme bruto” –

No final dos anos 2000, a tenacidade começou a dar resultados. O projeto usou três telescópios para provar o conceito e publicou em 2008 as primeiras medições de um buraco negro.

Mas foi apenas em abril de 2017 que o projeto conseguiu reunir oito radiotelescópios no Chile, nos Estados Unidos, no Polo Sul…

Os telescópios observam altas frequências. Graças a isso, “fomos capazes de ver através de todo o gás e poeira de nossa galáxia, e através dos gases acumulados no buraco negro, até a borda do buraco negro”.

Além disso, durante esta semana de abril de 2017, os telescópios observaram não apenas o buraco negro no centro da galáxia M87, mas também aquele no centro da nossa, Sagittarius-A*. Eles também os observaram em 2018 e planejam fazer isso novamente no próximo ano.

Nosso buraco negro é mais turbulento e, portanto, mais difícil de observar. “Leva cerca de um mês para que a matéria circule em torno de M87. Mas para Sagittarius-A, leva apenas meia hora e, em uma noite de observação, Sagittarius-A pode mudar na nossa frente”, diz.

“É possível que façamos um primeiro filme um tanto bruto”, acrescenta o cientista. Idealmente, seriam necessários mais telescópios, na Terra ou na órbita terrestre, para aumentar a resolução. “Mas refinaremos isso com o tempo, talvez como os primeiros filmes no cinema”.

A primeira imagem do M87 abriu portas e Shep Doeleman está otimista. “Seremos apoiados por agências de financiamento em todo o mundo, por fundações, talvez até por doadores privados, para dar o próximo passo”.

Segundo ele, a próxima geração do Horizon Telescope Event, na década de 2020, produzirá vídeos cada vez mais precisos de buracos negros.

O projeto “criou mais valor do que qualquer outro projeto científico da história”, afirma.

“Nós nos vemos como exploradores”, diz Shep Doeleman. “Somos instrumentos à beira de um buraco negro e voltamos para contar o que descobrimos”.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR