Confirmado no cargo funcionário suspeito de obstruir investigação sobre estudantes
O chefe de polícia da Cidade do México, Omar García Harfuch, foi confirmado no cargo nesta segunda-feira (22) depois que um relatório oficial mencionou sua suposta participação em uma reunião para desviar as investigações sobre o desaparecimento de 43 estudantes em 2014.
"É um homem íntegro (...), desempenhou um papel extremamente importante", disse Claudia Sheinbaum, prefeita da capital e potencial candidata presidencial do governo de esquerda, ao destacar à imprensa que García Harfuch será mantido no cargo de secretário de Segurança.
Um relatório da secretaria de Governo (ministério do Interior), divulgado na quinta-feira passada, acusa autoridades de terem obstruído a investigação sobre o desaparecimento dos normalistas de Ayotzinapa, em Guerrero (sul), ocorrida entre 26 e 27 de setembro de 2014.
Na sexta-feira foi capturado o ex-procurador-geral Jesús Murillo Karam, encarregado das investigações, acusado de "desaparecimento forçado, tortura e crimes contra a aplicação da justiça".
Na acusação contra o ex-funcionário, o Ministério Público aponta García Harfuch por ter participado, junto com cerca de 30 autoridades, de uma reunião em Guerrero em 7 de outubro de 2014, na qual teria sido acordada uma linha de investigação que excluía a suposta responsabilidade de militares.
Na sexta-feira também foi determinada a detenção de 20 militares e 44 policiais.
"Rejeito a versão absurda de ter participado de uma reunião para 'forjar a verdade histórica'", assegurou no Twitter García Harfuch, próximo de Sheinbaum e que na ocasião era delegado da Polícia Federal.
"Vão sair muitos nomes e isso não responsabiliza ninguém", relativizou nesta segunda-feira o presidente Andrés Manuel López Obrador.
Em 26 de junho de 2020, García Harfuch sobreviveu a um atentado do cartel Jalisco Nova Geração na Cidade do México, no qual morreram três pessoas.
Segundo a versão apresentada pelo ex-promotor, cujo cargo era subordinado à Presidência de Enrique Peña Nieto (2012-2018), os estudantes, que organizavam um protesto, foram capturados por policiais da cidade de Iguala e entregues ao cartel Guerreros Unidos, que os assassinou e incinerou, ao confundi-los com rivais.
Esta versão foi contestada pelo Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), que fez uma investigação depois de um acordo entre o governo de Peña Nieto e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Sobre o relatório governamental, o GIEI saudou nesta segunda-feira em um comunicado que "existam eventuais novas revelações", mas denunciou que as autoridades não compartilharam os novos elementos.
"Uma vez que tenhamos acesso direto a esta informação (...), compartilharemos nossas avaliações sobre as novas revelações", ressalta o texto.
O GIEI denunciou em março que algumas instituições, às quais não identificou, resistem a entregar informações para avançar nas investigações, incluindo dados de Inteligência.
O caso Ayotzinapa, que gerou ampla condenação internacional, constitui uma das maiores violações aos direitos humanos no México, onde há cerca de 100.000 desaparecidos.