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ONU aponta uso excessivo da força por polícia do Peru em protestos

Um manifestante peruano, apoiador do presidente deposto Martin Vizcarra, segura uma bandeira do Peru durante um protesto em 14 de novembro de 2020 afp_tickers

A polícia do Peru fez “um uso desnecessário e excessivo da força” durante os protestos em novembro contra a designação de Manuel Merino como presidente do país e que deixaram dois mortos – afirmou o Escritório dos Direitos Humanos da ONU nesta terça-feira (12).

“O direito internacional é claro: as pessoas têm direito a se reunir pacificamente, e as reuniões podem ser dispersadas apenas em casos excepcionais”, afirmou em um comunicado a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

Em 9 de novembro, o Congresso peruano destituiu o então presidente do país, Martín Vizcarra, que foi substituído pelo presidente da Câmara, Manuel Merino.

A decisão deflagrou uma onda de protestos sociais que deixou dois mortos e centenas de feridos, obrigando Merino a renunciar cinco dias após a posse. O centrista Francisco Sagasti assumiu a Presidência.

Em um informe divulgado hoje, esta agência da ONU aponta que as forças da ordem não distinguiram entre manifestantes pacíficos – “a maioria” – e aqueles que “supostamente” agiram de forma violenta.

“A polícia disparou balas de chumbo com espingardas calibre 12 e cartuchos de gás lacrimogêneo diretamente na cabeça e na parte superior do corpo dos manifestantes, de maneira indiscriminada e à queima-roupa”, disse o comunicado.

Outras violações constatadas são a falta de identificação dos policiais à paisana no momento das prisões; a ausência de assistência jurídica aos detidos, alguns dos quais se autoincriminaram sob pressão; e as condições degradantes de detenção.

“Dez detidos denunciaram à missão da ONU terem sofrido abusos físicos, e oito apontaram supostos abusos psicológicos”, destaca o comunicado do escritório, a cuja missão também se informou “oito casos de violência sexual e de gênero contra mulheres e homens”.

– Contribuição para as investigações –

Pacha Sotelo, irmão de Inti Sotelo, uma das duas vítimas fatais das manifestações, garantiu à AFP que o relatório foi contundente, já que descreveu o ocorrido. Segundo Sotelo, a polícia não distinguiu entre os poucos que incitavam a violência e a maioria que marchava pacificamente.

“Pedimos transparência nas investigações. A polícia está em uma fase de negação. Dizem que não violaram os direitos humanos apesar de haver perícia balística e evidência audiovisual”, afirmou Sotelo, 26, que também participou do protesto.

“Este relatório é muito importante. As investigações são bastante lentas, vejo que não há disposição do Ministério do Interior para avançar no esclarecimento de responsabilidades”, disse à AFP o ativista e advogado da Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos, Miguel Jugo.

Por sua vez, a presidente do Congresso, Mirtha Vásquez, destacou à imprensa a importância do relatório. “Nos dá insumos e recomendações essenciais que os diferentes poderes do Estado precisam coletar para fazer cumprir as normas para que isso não volte a acontecer”, declarou ela.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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