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Aumenta a pressão sobre Bolsonaro, que deverá usar tornozeleira eletrônica

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A pressão judicial sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro aumentou nesta sexta-feira (18), apesar de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter anunciado uma guerra comercial contra o Brasil em apoio a seu aliado.

Bolsonaro, de 70 anos, deve utilizar uma tornozeleira eletrônica por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o acusa de incitar “atos hostis” dos Estados Unidos contra o Brasil para obstruir o julgamento no qual é réu por uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022.

Os Estados Unidos anunciaram horas depois que ordenaram revogar o visto de Alexandre de Moraes pelo que considera uma “caça às bruxas” judicial contra Bolsonaro. O ministro, a quem Bolsonaro chama de “ditador”, é o relator do caso em que o ex-presidente é réu por golpismo no STF.

“Ordenei a revogação de vistos para Moraes e seus aliados na corte […] com efeito imediato”, escreveu o secretário de Estado Marco Rubio na rede social X, ao responsabilizá-los por uma “censura” tão “ampla” que “se estende para além das fronteiras do Brasil”.

Bolsonaro denunciou nesta sexta uma “suprema humilhação” ao sair das instalações da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, em Brasília, para onde foi levado após uma operação de busca em sua casa pela manhã.

Além da tornozeleira eletrônica, Bolsonaro está proibido de usar redes sociais e de manter contato com embaixadas estrangeiras. Também deverá manter o recolhimento noturno e não poderá sair de casa nos fins de semana, embora ele tenha negado qualquer intenção de deixar o país: “Nunca pensei em deixar o Brasil, nunca pensei em ir para uma embaixada”.

O ex-presidente é alvo de “medidas cautelares” nesta nova investigação por obstrução de Justiça, relacionada a uma campanha conduzida por seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que há meses tenta convencer o governo Trump, nos Estados Unidos, a interceder em favor do pai.

Moraes acusa Jair e Eduardo Bolsonaro de “induzirem, instigarem e auxiliarem governo estrangeiro a prática de atos hostis ao Brasil” e de buscarem ostensivamente a “submissão do funcionamento do Supremo Tribunal Federal aos Estados Unidos da América”.

Ainda segundo Moraes, Bolsonaro confessou ter ajudado financeiramente o filho nos Estados Unidos, ao transferir-lhe R$ 2 milhões, o que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), demonstra uma “convergência de propósitos” entre ambos para “obstruir” o julgamento.

– ‘Sufocando a gente’ –

A defesa do ex-presidente afirmou nesta sexta-feira que as “graves medidas cautelares foram impostas em função de atos praticados por terceiros”, segundo nota divulgada por veículos da imprensa.

“Estão sufocando a gente”, reclamou o ex-presidente, que se diz vítima de uma “perseguição”. Se for considerado culpado pelo STF, Bolsonaro poderá pegar até 40 anos de prisão.

Após várias semanas de interrogatórios, a PGR pediu nesta semana a condenação de Bolsonaro por supostamente liderar uma conspiração fracassada para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois que o petista o derrotou nas eleições de 2022.

Trump ameaçou impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto caso o julgamento não seja interrompido, o que Lula classificou de “chantagem inaceitável” e ameaçou adotar ações recíprocas.

Lula também afirmou na quinta-feira, em um discurso transmitido em rede nacional, que “alguns políticos brasileiros” são “traidores da pátria” por apoiarem as tarifas impostas por Trump.

– Campanha em Washington –

Eduardo Bolsonaro licenciou-se em março do mandato como deputado federal e mudou-se para os Estados Unidos, onde mantém contato com autoridades e parlamentares republicanos para promover sanções contra autoridades brasileiras, inclusive os ministros do STF.

Alexandre de Moraes “está tentando criminalizar o presidente Trump e o governo dos Estados Unidos. Impotente contra eles, ele escolheu fazer meu pai refém”, declarou Eduardo em uma mensagem na rede X.

A PF apreendeu nesta sexta-feira R$ 7 mil e US$ 14 mil em espécie na casa do ex-presidente, que negou qualquer irregularidade em relação ao dinheiro.

Bolsonaro está inelegível até 2030 por ter disseminado desinformação sobre o sistema de votação eletrônica. Ainda assim, insiste em que pretende ser o candidato da direita nas eleições presidenciais de 2026.

Lula, de 79 anos, também planeja concorrer novamente. “Pode ter certeza que serei candidato outra vez”, afirmou o presidente nesta sexta-feira em um evento público no estado do Ceará.

jss/ffb/nn/cjc/mel/yr/fp/jc/ic/am/rpr

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