Candidato indígena denuncia tentativa de fraude para excluí-lo das urnas no Equador
O líder indígena esquerdista Yaku Pérez, que está travando um duelo acirrado para chegar ao segundo turno no Equador após as eleições de domingo, denunciou na segunda-feira (8) uma suposta tentativa de fraude para excluí-lo das urnas.
O economista Andrés Arauz, de 36 anos e herdeiro político do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), aparece como o vencedor do primeiro turno, realizado no domingo, com 32,10% dos votos, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Mas, com 99,43% dos votos apurados, Pérez, um advogado ambientalista de 51 anos, surpreendeu somando 20,07% dos votos, enquanto Lasso, de 65 anos, registrou 19,49%.
A contagem foi atrasada pela necessidade de revisão de 7,90% das atas devido a inconsistências, como a falta de assinaturas dos membros das mesas eleitorais.
Nesse contexto, Pérez afirmou que “se conspira uma fraude (…) para nos impedir de chegar ao segundo turno”, garantindo que 15 pontos percentuais de seus votos foram transferidos para outros candidatos, com os quais ultrapassaria Arauz, e pediu a abertura de urnas.
A presidente da CNE, Diana Atamaint, declarou que “cada candidato tem o direito de esgotar todas as instâncias legais para contestar os resultados”. “Se tivermos de abrir as urnas, abriremos”, afirmou a repórteres.
“Quando tivermos 100% das atas analisadas, divulgaremos os resultados”, acrescentou.
– “Calma” e “paciência” –
A missão de observadores da OEA pediu para “aguardar com calma os resultados finais” e que as informações oficiais “mostravam fortemente” uma “estreita margem entre os candidatos que ocupam o segundo e o terceiro lugar”.
Os Estados Unidos também pediu “paciência enquanto as instituições do Equador acabam de contar os votos” das eleições às quais se apresentaram 16 candidatos.
O segundo turno está marcado para 11 de abril, quando será eleito o sucessor do impopular Lenín Moreno, que não se candidatou à reeleição e cujo mandato de quatro anos termina em 24 de maio.
Se a tendência da contagem parcial se mantiver, Pérez e Arauz disputarão um inédito segundo turno entre candidatos de esquerda no Equador, país de 17,1 milhões de habitantes, castigado pela pandemia e com uma vultosa dívida econômica provocada pela queda dos preços do petróleo.
Arauz declarou em uma entrevista à AFP que “o povo equatoriano tem sido enérgico em falar a favor do antineoliberalismo. As opções que prevaleceram foram o progressismo, a unidade plurinacional e a social-democracia”.
O herdeiro político de Correa acrescentou que, caso ganhe a eleição, a relação com os Estados Unidos “será excelente” e que as condições de um acordo em setembro passado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para a obtenção de um empréstimo de 6,5 bilhões de dólares “não poderiam ser cumpridas por nosso governo porque atacariam diretamente os bolsos das famílias equatorianas”.
O FMI está “aberto” para ajustar o programa com o novo presidente “se o governo desejar”, disse o diretor da agência para as Américas, Alejandro Werner. Pérez também planeja revisar o acordo.
– Correísmo ressuscitado –
As eleições, nas quais também foram nomeados 137 membros da Assembleia Nacional, marcaram o ressurgimento de Correa, que, da Bélgica, evita a prisão a que foi condenado por corrupção, após quatro anos de acirrada campanha contra Moreno, seu antigo aliado.
“O grande triunfo foi vencer no primeiro turno e os correístas apostaram nisso, enquanto por outro lado havia quem pensasse que o correísmo estava morto, o que não é verdade”, disse o analista Pablo Romero, da Universidade Salesiana, à AFP.
Pérez, que obteve um bom resultado com um discurso ambientalista e de rejeição à exploração do petróleo e da mineração, é um grande rival do ex-presidente socialista.
O líder indígena apontou suas suspeitas de fraude contra Lasso e seus aliados e contra Correa. “Ele tem pânico de entrarmos no segundo turno”, acusou, referindo-se ao ex-presidente.
Em 2019, Pérez foi eleito governador da província andina de Azuay (sul) nas urnas e é o primeiro indígena a chegar tão longe na disputa pela presidência do Equador, onde os povos indígenas representam 7,4% dos população.
Nesta segunda, a banda uruguaia Cuarteto de Nos protestou contra o “uso indevido” de uma de suas canções na campanha de Pérez, cuja equipe de comunicação destacou que se tratou de “uma contribuição da cidadania”.
Se os resultados parciais forem confirmados, os equatorianos terão que escolher entre duas alternativas de esquerda: uma nacionalista com desejo de vingança, representada por Arauz, e outra com caráter ambientalista que, segundo Pérez, dará lugar a um “Estado plurinacional, digno, honesto e inclusivo”.