A estada de Mussolini na Suíça

19.06.19003 : a polícia de Berna ficha o futuro Duce como simples delinqüente. swissinfo.ch

Em 30 de junho de 1903, um jovem italiano de 20 anos é conduzido de trem para ser expulso do território suíço. Era Benito Mussolini.

O futuro Duce passou quase dois anos na Suíça fugindo da pobreza e do serviço militar no seu país.

Benito Mussolini chega à Suíça em 9 de julho de 1902, em busca de trabalho. Em Gualtieri (comuna comunista da província italiana de Emilia), ele era professor suplente em escola primária. Mas seu contrato não foi renovado depois de um caso com uma mulher casa, cujo marido estava no serviço militar.

Chegando na Suíça, com a intenção de viajar para Genebra, Mussolini permanece de início em Yverdon e Orbe, (oeste, cantão de Vaud), onde trabalha alguns dias como operário. Pouco tempo depois chega a Lausanne, onde tem a primeira encrenca com a polícia.

Foi preso por vagabundagem na manhã de 24 de julho de 1902, debaixo de uma ponte onde passara a noite. No bolso trazia o passaporte, um diploma de Escola Normal e… quinze cêntimos.

Ativismo socialista

Um vez solto, ele vegeta trabalhando como operário ou como doméstico. Mas torna-se aos poucos conhecidos como agitador socialista, conferencista e redator do jornal L’Avvenire del Lavoratore, órgão dos socialistas italianos na Suíça.

Na primavera de 1903, ele se instala em Berna. Mas a polícia o prende sob suspeita de incitar os trabalhadores italianos à greve e à revolta. É conduzido a Chiasso (fronteira com a Itália) para ser entregue às autoridades italianas.

Mas o aviso de expulsão vale apenas para o cantão de Berna. Mussolini volta logo à Suíça e fica em Bellinzona, cantão do Ticino, sul do país.

Em julho de 1903, toma a palavra em alguns comícios socialistas da região e dá uma conferência sobre o ateísmo. Desde então, o Ministério Público da Confederação Suíça informa as polícias cantonais ser preciso ficar de olho nesse “anarquista”.

Doutor honoris causa

Em fins de outubro ele volta à Itália, à cabeceira da mãe, gravemente enferma. Regressa à Suíça antes do fim do ano, para escapar do serviço militar em seu país. Instala-se, então, em Genebra.

Mas os aborrecimentos continuam. Em abril de 2004, ele evita, graças à intervenção do governo ticinês, a expulsão e uma condenação na Itália por ter fugido do serviço militar.

Instala-se em seguida em Lausanne onde se inscreve na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade. Segue durante alguns meses os cursos do sociólogo Vilfredo Pareto.

Esse modesto percurso acadêmico está na origem do título de doutor honoris causa que a universidade lhe concederá em 1937. Mas se deve lembrar que nesse meio tempo, o agitador Mussolini se tornara o Duce.

Por hora, pouco satisfeito com sua vida errante na Suíça, Mussolini regressa à Itália em fins de novembro de 1904. Condenado por contumácia por não ter feito o serviço militar, ele beneficia-se da anistia concedida por ocasião do nascimento do príncipe herdeiro, Humberto de Sabóia.

Uma experiência marcante

Os biógrafos de Mussolini insistem na importância dos dois anos passados na Suíça para sua formação política. Foi, de fato, na Suíça que ele se familiarizou com a propaganda e a agitação revolucionárias. Ele experimenta também a dura condição do imigrante.

Talvez essa experiência explique por que em um de seus comentários ele tenha escrito no L’Avvenire del Lavoratore:“Hoje não se consegue chegar ao conforto por meios honestos”.

Registram-se outras permanências de Mussolini na Suíça entre 1908 e 1910. Em Lugano (sul), ele trabalha como operário na construção de rodovias e ferrovias. É ali que ele trava conhecimento com o líder socialista Guglielmo Canevaschini que lhe oferece hospedagem.

A seqüência de sua carreira é mais gloriosa. Ele só voltará à Suíça como primeiro-ministro italiano para participar de encontros internacionais e, em particular, o mais célebre de todos, a conferência de paz de Locarno, em 1925.

Swissinfo, M.Marcacci/O.Pauchard
(Tradução e adaptação : J.Gabriel Barbosa)

Fatos

Benito Mussolini nasceu em 29 de julho de 1883.
1919: Milita pelo partido socialista antes de fundar os Fasci di Combattimento (grupos de combate, futuro Partido Nacional Fascista).
1922: Tomada do poder
1940: Itália entre em guerra ao lado da Alemanha
Outubro de 1943: Demitido de suas funções em julho, ele cria a Repubblica Sociale Italiana, no norte do país.
28 de abril de 1945: é executado por parteggiani.