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Resoluções de Ano Novo: confiar na ciência, aprender com a natureza

Sara Ibrahim

Na Suíça, 2021 terminou como em muitos países: com uma nova onda de infecções por Covid-19, principalmente devido à variante Ômicron. Embora os dados comprovem que as vacinas protegem contra casos graves e morte, ainda há quem encare a ciência com ceticismo e desconfiança.

O Ano Novo começou onde o antigo terminou – com perigosos vírus e meteoritos ameaçando destruir o planeta Terra. O vírus é, obviamente, o SARS-CoV-2, que está afetando inexoravelmente cada vez mais pessoas do meu círculo de conhecidos. Mas ele não é o único em circulação.

Há também um vírus que causa uma gripe intestinal violenta e súbita, e força seus hospedeiros a ficarem sempre entre a cama e o banheiro. Meu companheiro foi contagiado entre a noite de Ano Novo e o dia 1º, o momento que, para alguns, define o destino de cada um para o ano… 

Por outro lado, os meteoritos em direção ao nosso planeta só existem nas telas, por enquanto. Durante as férias de Natal, assisti ao filme “Não Olhe Para Cima”, o mais comentado do momento. A trama é simples: dois astrônomos não tão conhecidos percebem que um meteorito gigante está prestes a se chocar com a Terra, mas não são levados a sério pela mídia e por um presidente americano que lembra muito Donald Trump.

O que acontece depois? Não quero estragar o filme, que já é um dos mais populares da Netflix na Suíça, mas, para aumentar o moral e instigar o otimismo, talvez fosse melhor optar por clássicos natalinos como “Trocando as Bolas” ou “Esqueceram de Mim”. 

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Teste rápido de Covid-19

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Boletim: Coronavírus na Suíça

Este conteúdo foi publicado em Acompanhe também a evolução da pandemia no mundo através de uma série de gráficos atualizados semanalmente.

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Por que o sentimento antivacina está tão difundido na Suíça?

O filme satírico de Adam McKay, “Não Olhe Para Cima”, certamente suscita algumas reflexões profundas sobre nossa sociedade atual, que realmente é caracterizada pelo seu ceticismo e desconfiança em relação à ciência. Este fenômeno é mais forte nos Estados Unidos e em certas partes da Europa, particularmente nos países de língua alemã.

Como isso pode ser explicado? O sentimento antivacina parece estar intimamente ligado à política antissistema e populista – que frequentemente cria raízes onde o poder é altamente descentralizado – em países como a Suíça, Áustria e Alemanha. Apesar de sua riqueza, a Suíça, em particular, tem uma das taxas de vacinação mais baixas da Europa Ocidental. 

Segundo Suzanne Suggs, professora de comunicação da Universidade de Lugano, esta tendência também pode ser atribuída à falta de emoção na forma como as autoridades desses países se comunicam com a população. Isso facilitou que teorias da conspiração preenchessem o vácuo “emocional” existente. 

Mas, numa análise mais detalhada, a principal razão para o ceticismo em relação às vacinas nos países de língua alemã é a inclinação cultural da população para a homeopatia e curas naturais, afirmam alguns especialistas. A historiadora suíça Eva Locher disse recentemente à SWI swissinfo.ch que esta cultura é derivada de movimentos como a Lebensreform (Reforma da Vida), que floresceu na Alemanha e na Suíça na virada dos séculos XIX e XX.

Além de pregar um estilo de vida próximo à natureza e uma dieta vegetariana ou vegana, a Lebensreform propõe a medicina alternativa e modelos antroposóficos de vida, baseados na filosofia de Rudolf Steiner, no lugar da ciência tradicional.

Especialmente nos Alpes, a população de língua alemã confia mais no ar fresco, nos produtos orgânicos e nos chás de ervas do que nos medicamentos tradicionais, afirmou recentemente o médico Patrick Franzoni ao New York Times. Franzoni é o vice-diretor da Unidade de Covid em Bolzano, uma província italiana com a maioria da população de língua alemã e a taxa de vacinação mais baixa do país.

Menos ceticismo e mais pesquisa sobre a Covid-19 em 2022

No entanto, a parcela mais cética da população suíça sofreu um duro golpe em novembro, quando os eleitores suíços apoiaram esmagadoramente uma emenda à lei Covid-19 que estabelece a base legal para o “Certificado Covid”.

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Dados sobre a variante Ômicron e sobre o excesso de mortalidade nos últimos dois anos (ver gráficos abaixo) podem fazer até os mais céticos mudarem de opinião: os dados mostram que as vacinas funcionam porque protegem contra as formas graves da doença e contra a morte.

Para compreender a eficácia das vacinas, não devemos focar no número de infecções. Estar vacinado não significa que você não ficará doente, mas sim que estará protegido contra as formas mais graves da doença.

Graph
swissinfo.ch
Graph
The Economist

Enquanto isso, a pesquisa científica está avançando: quatro empresas sediadas na Suíça receberão financiamento estatal para desenvolver uma série de novos medicamentos contra o coronavírus, que deverão estar disponíveis até o final de 2022. Eles se destinam a tratar certos sintomas causados pela Covid-19 – como os sintomas neuropsiquiátricos que afetam sobretudo as pessoas com Covid longa – e a mitigar sua duração e gravidade. 

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Frau mit Müdigkeitserscheinungen (Symbolbild)

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O que se descobriu sobre a Covid longa até agora

Este conteúdo foi publicado em A Covid longa ameaça o sistema de saúde da Suíça? Pesquisadores tentam descobrir sobre as consequências das doenças de longa duração ligadas à contaminação pelo novo coronavírus.

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Aqueles que sofrem de belonofobia (medo de agulhas), por outro lado, ficarão satisfeitos em saber que a Unisanté em Lausanne testará este mês, em 26 voluntários, uma vacina contra a Covid-19 em forma de adesivo.

O que a natureza pode nos ensinar em 2022

Ter fé na ciência não significa que a natureza não tem nada a nos ensinar – muito pelo contrário: ela pode nos ajudar a entender melhor quem somos. Basta pensar, por exemplo, que na natureza a homossexualidade foi observada em cerca de 1.500 espécies, escreve meu colega Luigi Jorio: “Indivíduos de muitas espécies animais podem mudar de sexo durante a sua existência, e algumas espécies têm dezenas, se não milhares, de sexos diferentes”.

É o caso do Schizophyllum commune, um fungo com 23.328 sexos diferentes, que são conhecidos como tipos de acasalamento. Luigi entrevistou Christian Kropf, biólogo e curador da exposição “Queer – A diversidade está em nossa naturezaLink externo”, que está atualmente em exposição no Museu de História Natural de Berna.

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Se você ainda não viu a exposição, recomendo que o faça. Sozinho, com seus filhos ou mesmo com seus avós, amigos e parentes. Reconhecer que a natureza é um espetáculo esplêndido de diversidade é o primeiro passo para respeitar e amar a nós mesmos e aos outros.

Adaptação: Clarice Dominguez

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