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Uma viagem para conhecer o gigante de concreto

A parede da barragem de Emosson (cantão do Valais) tem mais de 180 metros de altura. swissinfo.ch

Mais de 200 gigantes feitos pela "mão humana" se escondem nos Alpes suíços. O jornalista da swissinfo Simon Bradley escreveu uma reportagem sobre uma das maiores barragens do país.

Localizada a mais de dois mil metros acima do nível do mar e frente ao famoso Mont Blanc, o pico mais elevado da Europa, Emosson está localizada no cantão do Valais e é a segunda mais longa estrutura desse tipo na Suíça.

Nosso passeio começa embaixo, no vale do Rhône. Nessa região, a linha férrea Mont-Blanc Express ligou Martigny e Chamonix (França) há mais de um século. Hoje os trens continuam se arrastando ruidosamente através de vinhedos e florestas de pinheiros.

Quase beirando o despenhadeiro, o trem passa pelo vilarejo de Salvan, onde o engenheiro italiano Guglielmo Marconi testou pela primeira vez com sucesso o seu telégrafo sem fio, e também por Les Marécottes, conhecida pelo “Wonderland Zoo”, um zoológico especial habitado por ursos, lobos e marmotas selvagens.

Nós desembarcamos no povoado de Châtelard, mas ainda precisamos percorrer mais um pedaço de chão para alcançar a barragem. Por sorte, os nativos foram espertos o suficiente de terem construído o funicular de dois vagões mais inclinado do mundo (inclinação de 87%), que leva os visitantes a uma altura de 1.821 metros.

Do local, um pequeno trem panorâmico nos leva por um outro caminho de tirar o fôlego para o alto da montanha. Depois um outro funicular miniatura finalmente nos larga de frente para o colosso de concreto.

O lugar é tão silencioso que dá para escutar uma agulha caindo no chão. Nosso grupo ficou com a boca aberta ao deslumbrar esse colosso, mais conhecido como Emosson, descansando depois de ter passado o verão coletando águas alpinas. Do outro lado, as montanhas cobertas de neves do maciço do Mont Blanc pareciam estar um braço distantes.

Catedral de concreto

A barragem de Emosson é uma parede espetacular de concreto liso com 180 metros de altura enquadrada por duas bases rochosas. A estrutura segura 225 milhões de metros cúbicos de neve derretida e água de chuva.

“Essa é a barragem mais bonita da Suíça”, afirma orgulhoso Bruno Gay des Combes, o chefe da barragem, no momento em que ele a admira.

“Eu adoro dizer isso para os visitantes da França”, adiciona meu guia privado durante o dia com uma expressão facial quase insolente.

Quando descemos profundamente nas entranhas do gigante, Gay des Combes explica como a barragem de Emosson começou a funcionar em 1974 e que ela é a segunda maior do gênero na Suíça depois da barragem de Grande Dixence, distante apenas alguns quilômetros do local.

Gerida pela Eléctricité Emosson, uma joint-venture franco-suíça, a barragem coleta água das montanhas da região. Quatro hidrelétricas, incluindo duas que pertencem a Companhia Suíça de Trens, produzem anualmente 1,25 terawatt-horas (n.r: um terawatt equivale a um bilhão de watts) de energia, o suficiente para abastecer 40 mil residências.

Segurança

Emosson é uma barragem de arco duplo, com o seu design forçando o peso da água contra as laterais do vale.

Ela é regularmente monitorada pelos chamados “pendulums”, instrumentos que servem para medir até os movimentos mais imperceptíveis e que é capaz de emitir alerta no caso de variações maiores.

Estamos agora na parte inferior da barragem, 160 metros abaixo do seu topo. Estamos cercados por um milhão de metros cúbicos de concreto. Começo a ter sentimentos de claustrofobia. Acho que estou precisando de ar fresco da montanha.

“O muro pode mover entre sete e oito centímetros quando a barragem está cheia”, conta o chefe. Eu tenho visões de estar surfando em gelo descongelado até Martigny. “Porém a barragem é perfeitamente segura”. Até o último terremoto ocorrido no ano passado – 4,9 graus na escala Richter, só conseguiu sacudir um pouco o gigante.

Descobertas

De volta ao topo, eu abro o meu guia, publicado recentemente pela Associação de Eletricistas da Suíça ocidental. Ele propõe uma série de caminhadas e atividades nas 50 barragens suíças.

Com tantas coisas para fazer e ver, não dá tempo de ficar parado em algum lugar: tempo é dinheiro, eu diria. “Não, água é dinheiro”, afirma Gay de Combes para me corrigir.

As barragens são certamente uma excelente desculpa para descobrir alguns dos tesouros escondidos da região. Um desses que não podem ser ignorados é a trilha que sobe ao sair da barragem de Emosson, atravessando o desfiladeiro de Veudale. Ele leva o turista para uma viagem ao tempo, mas exatamente 230 milhões de anos da nossa história.

Ao chegar ao topo a 2.400 metros de altura, abaixo de Aiguille-du-Charmo, o robusto visitante é premiado com 800 pegadas de dinossauro perfeitamente preservadas, descobertas em 1976 por um geólogo francês.

E talvez, num futuro distante, outros cientistas irão se perguntar sobre o gigante de concreto que está lá embaixo no vale.

swissinfo, Simon Bradley

O total da produção de energia elétrica na Suíça em 2004 foi de 63.5 TWh, sendo que energia hidroelétrica correspondeu a 55% e nuclear 40% do montante.
A indústria elétrica suíça, que faz parte da rede européia, é auto-suficiente.
De qualquer maneira, a Suíça é um importante centro de comércio de energia, onde a importação e exportação chegam a ser dez vezes maior do que ocorre na média européia.
A Suíça tem 217 barragens, sendo que 84% delas produzem energia.
Quatro barragens tem mais de 200 metros: Grande Dixence (285 metros), Mauvoisin (250 metros), Luzzone (225 metros) e Contra (220 metros).
A mais antiga barragem foi construída no século XIX. A maior parte das barragens no país foram construídas entre 1950 e 1970.

Graças a sua topografia e as taxas pluviométricas elevadas, a Suíça oferece condições ideais para o desenvolvimento de energia hidroelétrica.

No início dos anos 70, usinas hidrelétricas era responsável por 90% da produção de energia elétrica para uso doméstico. Porém esse número caiu para 60% depois do início de operação das usinas nucleares, permanecendo nesse nível desde 1985.

Energia hidroelétrica continua sendo a mais importante fonte de energia renovável do país.

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