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Universidades suíças expandem suas fronteiras

Estudantes nas novas instalações da ETH de Cingapura. Naomi Hanakata/ETH

Com o aumento da colaboração internacional em projetos de tecnologia de ponta, as instituições suíças de pesquisa estão se instalando em campus fora do país, embora por razões diferentes.

Incentivadas por patrocínio oferecido por governos estrangeiros, as instituições suíças estão exportando sua competência para expandir o alcance de sua pesquisa.

No início deste mês, o ministro suíço do Interior, Alain Berset, inaugurou o Centro da ETH (a politécnica federal de Zurique), em Cingapura, dedicado à sustentabilidade ambiental mundial. Um projeto que conta até agora com 119 pesquisadores no microestado asiático.

A presença da ETH em Cingapura foi estabelecida há mais de um ano com uma equipe de apenas cinco pesquisadores. Sua concepção surgiu no mesmo tempo em que a Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) se estabelecia nos Emirados Árabes Unidos, em 2009.

Franco Vigliotti, decano da EPFL no emirado de Ras al-Khaimah, disse à swissinfo.ch que os Emirados Árabes foram escolhidos pela localização estratégica, na interseção dos continentes da Ásia, Europa e África.

Segundo Vigliotti, 13 a 15% dos estudantes da EPFL vêm do Oriente Médio, do norte da África e da Índia.

“A EPFL é um instituto de altíssimo nível na Europa que vem atraindo muito a atenção desses países. Vai haver um grande número de estudantes interessados em vir e não podemos simplesmente continuar assim, precisamos fornecer uma maneira de realizar algo mais perto dos países com grande potencial”, disse.

Vigliotti explica que os Emirados Árabes Unidos fizeram um grande esforço para atrair nomes internacionais da área de pesquisa para o país, a ponto que 25% dos campi estrangeiros do mundo estão baseados lá.

“Houve um crescimento extremamente rápido no esforço para transformar os Emirados Árabes Unidos em um hub para o ensino superior na região”, disse.

Internacionalização

A crescente internacionalização tem sido uma característica da pesquisa científica nas últimas duas décadas que se acelerou com a evolução dos meios de comunicação e das facilidades de viagem.

Mauro Moruzzi, responsável das relações exteriores da Secretaria Federal de Educação e Pesquisa (SER), disse que 35% dos artigos científicos publicados em todo o mundo envolvem a colaboração internacional, um crescimento de mais de 25% nos últimos 15 anos.

“Na Suíça, uma equipe de pesquisa é extremamente internacional, na ETH – como em todas as universidades suíças – cerca de metade do corpo docente é formado de estrangeiros, e acho que cerca de dois terços dos doutorandos e pós doutorandos”, disse Moruzzi.

Gerhard Schmitt, diretor do centro da ETH de Cingapura, disse que a decisão de se estabelecer no país resultou das colaborações já significativas do instituto de pesquisa com os parceiros asiáticos, como Cingapura, Japão, Índia, China e Austrália.

“Nós já tínhamos uma cooperação bastante forte com Cingapura em termos de publicação de trabalhos de pesquisa e intercâmbio de estudantes. Sabíamos que eles tinham uma universidade muito boa aqui e um pessoal altamente qualificado. Isso foi importante para nós, para tornar o país atraente para nossos professores”, disse.

Colaboração

A decisão de criar um centro de pesquisa no exterior é mais do que uma simples questão de querer trabalhar mais estreitamente com os colegas estrangeiros. É também um meio de expandir o trabalho científico para além do que pode ser alcançado na Suíça.

“Não queremos pesquisar fora da Suíça tendo um centro como a ETH, não há nenhuma razão para isso. É por isso que dizemos que o ensino tem que acontecer na Suíça, o que podemos fazer melhor na Suíça deve ser feito lá”, disse Schmitt, referindo-se ao fato de que a ETH Cingapura não oferece cursos de graduação.

“Mas existem algumas áreas nas quais possuímos muito conhecimento acadêmico, mas não podemos aplicá-lo nas imediações da Europa ou na Suíça por causa das condições climáticas, geográficas, políticas ou geopolíticas”, disse.

Schmitt comenta que instituições de prestígio como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade de Berkeley, na Califórnia, com quem a ETH já mantinha laços fortes, também se estabeleceram no “Campus de Cingapura para Pesquisa e Empresas Tecnológicas” (Create, na sigla em inglês). “É claro que é muito mais fácil trabalhar com pessoas, se você está no mesmo prédio”, acrescentou.

“Acontece que a questão da urbanização é de grande interesse para nós, e o MIT se interessa em aspectos particulares como a mobilidade. E áreas como a eficiência dos prédios, que é muito importante para nosso projeto Cidades do Futuro, é de grande interesse para a Universidade de Berkeley. Aqui nós temos um grande grupo urbano trabalhando junto por interesses comuns”, disse.

Desbravando novos caminhos

Já Vigliotti diz ver os Emirados Árabes como um “novo mercado de pesquisa”, que permitiu à EPFL explorar novas áreas que não seriam possíveis na Suíça.

“Aqui podemos, por exemplo, testar as células solares projetadas na Suíça para condições muito adversas e extremas. Assim podemos ver se é possível exportar tais painéis para regiões como esta”, disse.

Vigliotti disse que, se a Suíça quer manter sua posição de liderança em pesquisa e inovação, o que é essencial para prosperidade do país, “é preciso que ela se abra para o mundo”.

“A Suíça é um país pequeno e, até por uma questão numérica, fica difícil encontrar alunos e professores o suficiente.”

Para Schmitt, a presença da ETH no Create de Cingapura representa uma ruptura com as velhas estruturas do modelo universitário.

“Estamos utilizando pesquisadores e tornando possível a interação de diferentes maneiras, com foco em temas, e não em disciplinas. Nos concentramos nos resultados científicos e na divulgação e interação com os melhores do mundo”, acrescentou entusiasmado.

“É realmente um novo modelo e estamos muito curiosos para ver onde ele vai levar.”

O Future Cities Laboratory (FCL) é um centro de pesquisa transdisciplinar com foco na sustentabilidade urbana em um quadro global.

É o primeiro programa de pesquisa do Singapore-ETH Centre for Global Environmental Sustainability (SEC). É o lar de uma comunidade de mais de 100 especialistas que trabalham em diversos temas relacionados com as cidades do futuro e a sustentabilidade ambiental.

Especificamente, o FCL está focado em como as cidades podem ser concebidas, construídas, administradas, mantidas e habitadas de forma a suportar os objetivos de sustentabilidade global.

O FCL aborda tanto os problemas como os potenciais da cidade contemporânea e as implicações específicas destas questões através de uma estrutura transdisciplinar.

A EPFL do Oriente Médio está baseada em Ras Al Khaimah, nos Emirados Árabes, e concentra pesquisa de graduação e pós-graduação nas áreas de energia e sustentabilidade.

O instituto oferece mestrado e doutorado em pesquisa nas áreas de transporte urbano, energia eólica e hidráulica, bem como cursos de formação executiva em áreas afins.

Adaptação: Fernando Hirschy

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