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Bruno Lehmann, suíço em Portugal.

Bruno Lehmann é um suíço globalizado: ele nasceu no Brasil, viveu em Zurique e nos EUA e agora está em Portugal swissinfo.ch

Bruno Lehmann, 53 anos, é um suíço que nasceu fora do seu país, mas sempre esteve ligado às suas origens.

Hoje o engenheiro vive em Portugal e representa uma grande empresa suíça na área de recursos humanos. Sua filha estuda nos EUA, mas passa os verões com os avós em Berna.

Como foi a decisão de abandonar a Suíça para uma vida no exterior?

Eu, na realidade, não tenho uma típica história de migrante suíço, já que nasci no Brasil. Meu pai é um suíço-alemão que, como técnico de máquinas, imigrou para a Argentina mudando-se logo depois em 1949 para Porto Alegre, no Brasil.

Como você define então suas raízes suíças?

Meu pai era do cantão de Berna e minha mãe do cantão de St. Gallen. Eu nasci em 1950 no Rio Grande do Sul e fiquei no Brasil até completar os nove anos de idade. Em 1959 eles mudaram-se para Lisboa, onde viveram até 1989. Desde então eles estão vivendo como aposentados em Berna, na Suíça.

Seus pais não tiveram problemas para se readaptar na Suíça, depois de tanto tempo no exterior?

A única pessoa que tinha medo do retorno deles à Suíça depois de 40 anos passados fora era eu. Eu tinha esse receio. Eu pensei que eles não iriam se readaptar. Porém, apesar da idade média dos dois, na casa dos setenta, eles conseguiram fazer um bom círculo de amigos.

E quais as vantagens para eles na vida em Berna?

Eu acho que uma cidade como Berna, em termos de serviços de saúde, transporte e comunicação do que Lisboa, onde é necessário ter o próprio carro ou pegar táxi, por exemplo.

Você cresceu e sempre viveu em Portugal?

Em Lisboa eu freqüentei a escola portuguesa e depois retornei para a Suíça, onde concluí o curso de engenharia mecânica em Zurique.

Uma constante entre os imigrantes é o fato deles sempre enviarem seus filhos para estudar na Suíça? Como se explica essa confiança no sistema educacional suíço?

A Escola Politécnica Suíça é uma das duas melhores universidades da Europa e do mundo. Para o meu pai, não havia uma outra alternativa. Como eu gostava da técnica, ele me inscreveu diretamente em Zurique. Com 18 anos eu cheguei na Suíça, onde completei os estudos e vivi até os 25 anos. Durante esse tempo eu cheguei mesmo a fazer um ano e meio de serviço militar. Apesar de me sentir muito suíço, sempre tive uma costela latina. Me considero uma mistura, onde tento sempre tirar para mim os bons pontos da Suíça e os bons pontos do mundo latino.

E como é possível manter o dialeto suíço vivendo no exterior?

Por uma questão de família. Nós falamos sempre língua materna, ou não? Em casa nós aprendemos o dialeto de St. Gallen, que é o idioma falado pela minha mãe. Meu pai fala o dialeto de Berna.

Depois dos estudos que caminhos você tomou até chegar em Portugal?

Com vinte e cinco anos fui para os Estados Unidos, onde fiz um curso adicional. Lá eu trabalhei e vivi durante quatro anos. De 1978 a 1982 estive também em São Paulo, trabalhando para uma empresa americana. Em 1982 eu mudei de emprego e de país, retornando para a Suíça. Esse foi então o meu segundo estágio na terra dos meus pais, onde vivi em Zurique até 1989. Depois eu fui enviado pela minha atual empresa, a Egon Zehnder International, para montar uma filial em Portugal. Desde então vivo nesse país.

Além dos pais, como você mantém o contato com a Suíça estando no exterior?

O contato se realiza através da família e profissionalmente, pois trabalho para um empresas suíça que é uma das maiores no ramo dos recursos humanos e tem 60 escritórios no mundo inteiro. Sou o responsável pela Egon Zehnder International em Portugal. Por isso eu venho pelo menos cinco vezes para a Suíça, onde costumo também passar minhas férias.

E para se informar sobre a Suíça?

Costumo comprar, nos fins-de-semana, o Neue Zürcher Zeitung.

Como funciona a participação política dos suíços no estrangeiro?

Há vários anos eu voto. Não é uma vez ou outra, mas sempre! Voto naqueles temas pelos quais somos questionados, sempre em nível federal. Agora nós teremos as eleições parlamentares. Para nos informarmos sobre os partidos, propostas, candidatos ou conteúdos dos plebiscitos, gosto de ler a brochura distribuída pelo governo. Porém, quando o povo suíço tem de decidir determinados temas como o plebiscito sobre a adesão a Organização das Nações Unidas (ONU) ou a adesão à primeira adesão sobre a União Européia, nós costumamos organizar um jantar no clube suíço. Depois da comida, fazemos um debate político sobre o tema.

Qual o tamanho da comunidade suíça em Portugal?

Em Portugal somos aproximadamente três mil suíços. Do clube suíço participam uma média de 100 pessoas.

Qual é o típico passatempo de suíços?

Um deles é o “jass”, um jogo de cartas típico na Suíça. Infelizmente o número de suíços tem diminuído em Portugal. Antes o nosso clube era formado por pessoas que vinham profissionalmente ao país. Agora, o diretor-geral da Nestlé em Portugal já não é mais suíço, o diretor-geral da Novartis não é suíço, o diretor-geral da Schindler não é suíço, mas sim espanhol. Por isso somos cada vez menos. Na geração do meu pai, a colônia suíça vivia mesmo, uma vez por ano, o torneio de “jass”. Hoje em dia nós mal conseguimos reunir gente suficiente. Porém nosso clube organiza jantares para a comunidade, onde oferecemos pratos típicos. Num dia nós temos chucrute, fondue, “raclette” e o “saucisson”.

A Suíça, como um país de várias culturas, ou 26 cantões, não dificulta a integração dos seus cidadãos no exterior, como entre os originários da parte francesa e alemã?

Quando estamos no exterior, não existe mais diferença entre suíços. Somos todos do mesmo país, apesar da diferença de culturas.

Você tem filhos? Eles querem um dia viver na Suíça?

Tenho uma filha de vinte anos. Nos anos em que vivemos em Zurique, ela aprendeu o suíço-alemão. Porém a minha esposa é americana. Por essa razão, a língua que falamos em casa é o inglês. Ela fala alemão, inglês e o dialeto sem problemas. Porém ela decidiu conhecer os EUA e por isso foi estudar nesse país. No próximo semestre ela vai passar uma temporada em Berlim. Apesar de ter o passaporte suíço, não sei se ela vai viver um dia na Suíça. As pessoas tem muita mobilidade hoje em dia.

swissinfo, Alexander Thoele em Crans-Montana

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