
Interesse de Meneses pelo Brasil continua intacto

O violoncelista Antonio Meneses, radicado em Basiléia, faz questão de voltar de 3 a 4 vezes por ano ao Brasil, dar recitais e tocar com orquestras do País. “Temos ótimas orquestras”, diz.
E mostra interesse pelos compositores brasileiros.
O Brasil continua sendo da maior importância, afirma Antonio Meneses quando indagado sobre seu empenho com a música de seu país. Não apenas ele regressa com freqüência ao Brasil, como também faz questão de tocar com as orquestras brasileiras.
O músico, que tocou com todas as prestigiosas orquestras do mundo, estima que há orquestras muito boas no Brasil, como a OSESP – a Sinfônica do Estado de São Paulo – que dispõe de “uma sala maravilhosa”, a Orquestra da Petrobrás, a Sinfônica Brasileira “que está voltando ao que era”, a Orquestra Municipal de São Paulo, com a qual o artista tocou na atual temporada…
Trabalho “gratificante”
A atenção com os compositores brasileiros não é menor. E provas não faltam. Ele acabou de estrear na cidade suíça de Basiléia – onde reside – uma sonata de Almeida Prado que o compositor paulista escreveu para ele.
Gravou igualmente peças de Guarnieri e Guerra Vicente, encomendou obras a Edino Krieger e Marco Padilha. Este último escreveu “um concerto maravilhoso para viola”. Ao ouvi-lo, Meneses também quis um para o seu instrumento, o violoncelo, no que foi atendido. Pretende estrear a nova obra em 2006.
Para Meneses “é muito gratificante” estar em contato com os músicos brasileiros de hoje. O que não quer dizer que se esquece dos compositores do passado. O artista faz questão, aliás, de dizer que gravou toda a obra de Villa-Lobos para violoncelo, tanto com orquestra quanto com piano, enfatizando que isto também faz parte de sua carreira.
O talento do mestre carioca
Falando do mestre carioca, Meneses considera Villa-Lobos um caso único: “Foi um talento extraordinário, embora eu ache que ele devesse ter sido um pouco mais disciplinado na hora de escrever”.
Feita a ressalva, o violoncelista lembra a capacidade de invenção “absolutamente incrível” do compositor: “O que ele talvez não tivesse, fosse a capacidade de transformar, de criar a partir de células. Nisso Beethoven era um grande mestre, pois de três notas ele criava uma sinfonia”.
Meneses acha que Villa-Lobos era muito bom nas obras mais curtas – violão, piano: “Ele era mais forte mesmo nas formas pequenas: prelúdios, bachianas…”.
Espaço para música clássica
Por outro lado, o violoncelista parece achar uma lorota essa história de que não haja bastante interesse do publico brasileiro pela música clássica. “O interesse é muito grande”, rebate o artista.
Meneses admite que em qualquer parte do mundo a música clássica é elitista. Seja na Europa, seja nos Estados Unidos é sempre “aquele público que aprecia que vai aos concertos”. Público pode ser pouco maior que no Brasil.
Naturalmente, no País, é nos grandes centros – Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba… – que se pode dar concertos. Mas que haja um público interessado, não haveria a menor dúvida.
“Todas as vezes que toquei onde se diria existir público menor, sempre vi salas lotadas”, diz o artista. E cita o exemplo de São Luiz do Maranhão: “Era um público menos conhecedor. No início até fazia barulho. Mas era interessado. Ouviu o recital inteiro de violoncelo e piano com obras de Bach, Beethoven, Debussy… e saiu feliz”.
Para Meneses é algo gratificante, pois “na Europa, nos Estados Unidos e no Japão notam-se dificuldades em lotar as salas”.
E não eram só seus recitais que sempre estavam lotados, afirma, pois quando ia a recitais de seus colegas notava o mesmo fenômeno. Portanto, “existe interesse e quanto mais se incentivar esse interesse melhor”, conclui.
Criar o próprio espaço
Outro argumento, o de que os músicos clássicos brasileiros se exilam porque no Brasil não há espaço de trabalho é também refutado pelo violoncelista.
Ele acha que dependendo do que se quer fazer, há campo para a música clássica no Brasil, estimando que “cada um tem que criar seu próprio campo”. Aliás muitos músicos clássicos criaram o próprio espaço.
Para os que querem fazer uma carreira internacional, “é mais fácil morar na Europa ou nos Estados Unidos para expandir a própria carreira”.
Mesmo assim, acha que com as facilidades de comunicação, com vôos diários existentes já não é complicado ter domicílio no Brasil e realizar uma carreira no exterior. E conclui: “Eu também poderia viver no Brasil. E talvez o faça em futuro próximo”.
swissinfo, J.Gabriel Barbosa

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