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Novo presidente quer uma Suíça mais participante

Kaspar Villiger assume na vaga de Moritz Leuenberg, 2° plano Keystone Archive

As vésperas de assumir o poder por um ano, o novo presidente suíço Kaspar Villiger constata que a Suíça não é uma ilha, precisa aderir à ONU e contribuir para a solução de problemas globais.

A seguinte entrevista foi concedida a Peter Salvisberg, redator-chefe de swissinfo e a Mariano Masserini, da redação italiana.

O ano que termina caracterizou por eventos imprevisíveis e trágicos, também para a Suíça. Que lições o Sr. tira desses trágicos acontecimentos para enfrentar 2002?

Vimos que tudo que sucede no mundo também repercute na pequena Suíça. Os dramáticos acontecimentos de Nova York tiveram repercussões terríveis in loco, mas também nós também as ressentimos. Eles provavelmente deram o golpe de misericórdia na Swissair, nos fizeram compreender que a luta contra o terrorismo deve ter uma dimensão mundial e repercutiram na Bolsa.

Não podemos ficar alheios ao que acontece no mundo, não estamos numa ilha. Devemos participar e contribuir para a solução de problemas globais que se apresentam, na medida de nossas forças.

Entendo que acontecimentos como a tragédia de Zug (perto de Zurique), o incêndio no túnel do São Gotardo (leste) e o incidente aéreo de Crossair possam ter abalado as pessoas. Gostaria porém de lembrar que, não obstante essa grande insegurança, a situação da Suíça continua privilegiada. Incito a todos a enfrentarem os problemas com coragem e confiança.

Em 1995, para seu primeiro ano de presidência, a Suíça já havia vivido momentos difíceis, com a crise econômica e a questão dos fundos hebraicos. Pode-se estabelecer paralelos entre a situação da época e de hoje?

Não acho. Na época, a economia suíça não estava estruturalmente pronta para o desafio da globalização. As negociações bilaterais com a União Européia marcavam passo e estávamos muito inseguros. Arregaçamos as mangas e solucionado esses problemas.

No meu domínio, tratava-se de sanear as finanças do país, mas precisava também reestruturar diversas empresas, rever a política agrícola, liberalizar as telecomunicações.

Estou convencido de que hoje nos encontramos em situação melhor que então. As duas situações são distintas, mas a lição é a mesma: deve-se enfrentar os problemas.

Que prioridades pretende definir para este ano presidencial?

Segundo a tradição, o presidente é na Suíça um “primus inter pares” (primeiro entre iguais) e procurarei privilegiar o trabalho colegial com os outros (seis) ministros. Representarei o país e receberei visitas de hóspedes estrangeiros. Também viajarei para o exterior.

Com as pessoas e GLI AMBIENTE na Suíça buscarei o diálogo: explicarei a política do governo, mas também escutarei as pessoas. Para ser mais concreto citarei duas prioridades: a votação sobre a adesão às Nações Unidas e a Expo-02 (vasta exposição nacional suíça a partir de meados de maio).

Como explicará a seus colegas do exterior uma eventual recusa pelo povo suíço de aderir à ONU?

Espero não precisar. Espero convencer os cidadãos do país a votarem sem hesitar pela adesão. Hoje, um povo não pode resolver por si próprio os problemas que o atinge. A ONU é talvez a única organização que se ocupa em plano global de graves problemas como pobreza, meio ambiente ou promoção da paz. A participação na ONU é de nosso interesse. Devemos levar nossa contribuição, nossos conhecimentos.

A Quinta Suíça (suíços do exterior) poderia também dar uma contribuição?

Acho que a Quinta Suíça seja particularmene sensível ao empenho de nosso país no exterior. Espero sinceramente que os concidadãos participem da votação, mesmo se, às vezes, o procedimento é fastidioso. Estamos testanto o voto eletrônico e, quando tivermos resolvido os problemas de segurança que aparecem, poderemos sugerir esta nova forma de participação. No entanto, o “e-voting” não está assegurado para esta votação.

A respeito da Expo-02: que papel o Sr. pode desempenhar pela coesão nacional, um evento pelo qual ninguém consegue se entusiarmar?

Acho que mesmo em 1964 (quando se realizou a exposição precedente) tínhamos uma situação semelhante. O entusiasmo veio só depois da abertura. A Expo limimta-se a pôr à disposição um quadro, uma estrutura e programas. Teremos um local de encontro para nossa cultura, para a História e para o futuro. As pessoas virão de todo o país e estou convencido de desenvolverá uma boa dinâmica. Somos um país de diversas culturas e de quando em quando é bom investir na convivência da diversidade.

A Expo-02 será um ponto de encontro das 4 línguas nacionais: a Suíça pode se dar ao luxo de uma introdução precoce do inglês na escola?

O inglês é importante para a profissão. Não sou especialista, mas constato que quanto mais cedo se começa, melhor se consegue aprender uma língua. Acho que devemos dar grande destaque às línguas nacionais, porque se desejarmos conviver bem com outras culturas devemos compreendê-las e por conseguinte poder falar a língua.

Acho que podemos exigir o ensino de uma língua nacional e do inglês. Quando era jovem não gostava de estudar línguas, mas estou muito satisfeito que meu pai me tenha obrigado a aprender até o italiano, após o francês e inglês.

Quanto à Europa, a Suíça está sob pressão no que diz respeito ao sigilo bancário. O Sr. estima que seja, por assim dizer, um dogma intocável?

Mesmo se o governo quisesse suprimir o sigilo bancário, o povo não estaria de acordo, porque ele está incrustado em nossa tradição de discrição. Nas duas últimas décadas e mais rapidamente nos últimos 5-6 anos, completamos o conjunto de normas legislativas em torno ao sigilo bancário: assistência judiciária, lei contra reciclagem de dinheiro sujo e controle sobre dinheiro dos ditadores.

Hoje, o sigilo bancário não protege atividades criminosas. Nos últimos tempos, fizemos mais que outros países. E como funciona hoje, o sigilo é perfeitamente defendível. E uma praça financeira tão importante quanto a nossa é obrigada a observar regras morais e éticas, se se deseja sobreviver a longo prazo.

As finanças da Suíça estão de novo em má situação. Seu trabalho (ingrato) é comparável ao de Sísifo?

Um ministro das Finanças jamais termina sua fadiga. Se uma rocha fica em cima da montanha e não rola de novo ladeia abaixo posso ficar satisfeito. Acho que as finanças da Confederação Suíça se encontrem em melhor situação que há alguns anos, graças à conjuntura e aos programas de estabilização DEL DISAVANZO e das despesas.

O problema vem do fato que apenas as finanças melhorem, as demandas aparecem de novo. Naturalmente é impossível satisfazer a todos. Devíamos aprender que as finanças precisam ser consolidadas e evitar repetição de erros cometidos dez anos atrás.

Durante este ano de 2002, em que o Sr. exercerá a presidência, deverá participar a dezenas de eventos oficiais. Quais deverão dar-lhe particularmente prazer?

Em geral, agrada-meessa atividade, parte integrante da vida de um político. Alegro-me principalmente com a inauguração da Expo-02 (em maio), pelo contato que proporciona com ministro de outros países.

O ano presidencial é um momento gratificante, mas convida ao mesmo tempo à modéstia, até porque dura somente um ano. Pode ser também um ano difícil, como aconteceu em 2001 com o presidente Moritz Leuenberger, confrontado a tantas catástrofes. Só posso augurar que sejamos poupados de dramas como os ocorridos nesse ano.

Entrevista realizada por Peter Salvisberg e Mariano Masserini.

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