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Forte presença de filmes latino-americanos em Friburgo

Cena do filme de competição "Agua fria de mar" Keystone

A participação do cinema do Brasil e a de seus vizinhos deverá ser mais marcante do que nunca no próximo Festival Internacional de Filmes de Friburgo, que se realiza de 13 a 20 de março.

A balança do Festival, desvantajosa para os asiáticos e africanos, pendeu desta feita e de forma muito clara para o nosso continente, como revela o farto programa do FIFF, divulgado quarta-feira, 3. Confira:

Homenagens a dois cineastas brasileiros, Carlos Reichenbach e Jorge Furtado, três filmes colombianos – um na abertura e dois em competição (da qual participam também dois filmes mexicanos) – um filme argentino no encerramento e outro competindo, e, ainda, uma película costarriquenha: o Festival Internacional de Filmes de Fribourg – FIFF – revela-se, mais uma vez, uma excelente vitrina para a produção cinematográfica da América Latina.

Dos brasileiros homenageados, Reichenbach, 64 anos, conta com 4 filmes na programação – Anjos do Arrabalde, 1986; Alma Corsária, 1993; Dois Córregos, Verdades… 1999 e Garotas do ABC, 2003.

“Anjos do Arrabalde” (kikito de ouro do Festival de Gramado, RS) foi o mais destacado pelo diretor do Festival, Edouard Waintrop.

Reichenbach, como se recorda, é reconhecido internacionalmente desde que se distinguiu, nos anos oitenta, em várias participações no festival de Rotterdam, Holanda.

Brasil continua em destaque

Com este novo ‘panorama’ sobre o cinema brasileiro – que inclui igualmente Jorge Furtado – o diretor Waintrop, que há 3 anos vem dirigindo o Festival, termina mais um capítulo sobre a cinematografia brasileira. Em 2008 selecionara “Alma Corsária” e “Falsa Loura”, de Reichenbach. No ano seguinte, o programa intitulado “Fábulas da Favela” foi uma boa amostra dos problemas sócio-políticos do Brasil vistos pelo cinema.

Esta 24a. edição do FIFF traz novas facetas da diversidade brasileira, ilustradas também por 6 obras de Furtado, entre as quais se distinguem “Ilha das Flores”, 1989, uma verdadeira jóia, e “O Homem que Copiava”, estreado em 2003.

Como consta do programa “O Homem que Copiava” será apresentado em pré-estréia, em Berna (Movie 1, terça-feira, 9 de março), com convidados especiais, entre os quais vários políticos locais. A idéia é suscitar um mais amplo interesse pelo festival friburguense, particularmente entre os suíços de língua alemã, para romper uma barreira linguística desta Suíça de 4 culturas. Mas o ingresso só é possível para convidados!

Treze filmes em competição

Refletindo o que o diretor do festival descreve como “um ano marcado pela qualidade excepcional do cinema latino-americano”, a honra de abrir o evento caberá ao “road movie” “Los Viajes del Vento”, de Ciro Guerra, da Colômbia, país onde desponta um cinema de qualidade, diz , impressionado, Edouard Waintrop. Do programa consta ainda outros dois outros filmes colombianos na lista dos concorrente ao prêmio principal.

Uma obra muito distinta, “El Secreto de sus Ojos”, irá fechar o evento, sábado, dia 20. É assinada por Juan José Campanella, argentino, que trabalha mais nos Estados Unidos, em séries como Dr. House. O que, no parecer do diretor Waintrop, mostra uma crescente tendência do cinema em superar fronteiras, através de colaborações internacionais.

Se, no México, a boa saúde do cinema continua, a emergência de Costa Rica é uma revelação. “Água Fría de Mar”, por exemplo, da jovem cineasta Paz Fábrega (30 anos), em competição, foi premiado recentemente em Rotterdam. Sinal de que o pequeno país centro-americano “entra no mapa do cinema mundial”.

Por seu lado, se a Argentina tem produzido filmes instigantes há muitos anos, a película “Rompecabezas”, de Natalia Smirnoff – que disputa o prêmio “Regard d’Or em Friburgo” – “revela uma mutação do cinema platino, menos influenciado pelo cinema francês e de características mais pessoais”.

Se seis filmes concorrentes vêm da América Latina (nenhum do Brasil), os outros 7 procedem do Vietnã, Armênia, Filipinas, Irã, Geórgia, Egito e Palestina. Para a programação completa, recorra, por gentileza, ao site do festival.

Policiais não faltam

Até aqui enfocamos apenas uma faceta deste evento anual, voltado para as produções que não têm vez nos circuitos internacionais de distribuição. Fiel à sua vocação de abrir horizontes novos, o evento propõe, efetivamente, o que de melhor tem sido feito, nos últimos anos – ou mesmo décadas – em países marginalizados cinematograficamente. Em outras palavras, trabalhos excluídos dos grandes circuitos de distribuição.

Nesta edição, o FIFF oferece oportunidade de descobrir, por exemplo, cineastas russos principalmente jovens (19 filmes !!!). Mostra igualmente que países como Bulgária, Romênia, Eslovênia ou Islândia têm cinema de qualidade.

Merece destaque no programa uma pequena mas estimulante retrospectiva da obra de Jean Rouch (“inventor da chamada comédia etnográfica e padrinho da “Nouvelle Vague””), representando a África, cujo cinema enfrenta grave crise.

A Ásia – onde, em contrapartida, o cinema vai bem – será representada pela Coréia do Sul, com “filmes de grande público”, nos quais corre muito sangue.

Com temática diferente e ingredientes semelhantes, o Japão marca também presença, através de Kinji Fukasaku, com sete filmes, sendo quatro policiais, abordando o mundo violento e perverso dos Yakuzas. Fukasaku transforma esses supostos heróis em “em homens sem moral nem coragem.” (Note-se que o diretor do FIFF adora policiais, havendo, em consequência vários no atual programa).

Se falta espaço para maiores detalhes, a escolha é muito farta. Sirva-se.

J.Gabriel Barbosa, swissinfo.ch

O FIFF deu carta branca este ano a Rui Nogueira, competente e estusiasta cinéfilo, ex-crítico de cinema, que dirige há décadas o CAC Voltaire (Centro de Animação Cinematográfica), de Genebra. Ele apresenta dois “westerns” (faroestes) americanos: Seven Brides for Seven Brothers e Westward the Women. Neste último, nove personagens são mulheres. Um bom remédio para erradicar preconceitos contra esse gênero de filmes, na avaliação do diretor do FIFF, Edouard Waintrop.

Em tempo: 1 – assinale-se a projeção, dia 19, de O Ritual dos Sádicos, 1970, filme do brasileiro José Mojica Martins… 2 – O diretor do FIFF tem uma estima especial por Extérieur Nuit, de Jacques Bral, filme de 1980, remasterizado, tendo como protagonista Gérard Lanvin.

O Festival Internacional de Filmes de Friburgo é o principal evento cultural do ano na cidade de Friburgo, de 34 mil habitantes. Ela é parcialmente conhecida no Brasil porque foi daqui que partiu a maioria dos primeiros colonos suíços que fundaram Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.

O FIFF se distingue pelo fato de projetar filmes excluídos dos grandes circuitos de distribuição, dominados pelos Estados Unidos. O primeiro prêmio é modesto, ou seja, 30 mil francos – menos de 30 mil dólares. Mas no total são 75 mil a serem distribuídos. O festival pode se constituir numa rampa de lançamento para alguns alguns filmes de interesse que, de outra forma, ficariam no anonimato. Tanto que com o correr dos anos, o evento vem conquistando espaço e respeitabilidade.

A propósito, a safra 2010 parece de muito boa qualidade. O júri também é de prestígio. Entre os integrantes, a personalidade mais conhecida é a atriz alemã Hanna Schygulla, grande nome do cinema nos anos 70 e 80. Ela trabalhou com realizadores como Volker Schlöndorff, Wim Wenders, Rainer Werner Fassbinder, Marco Ferreri e Ettore Scola. Schygulla acaba de realizar um primeiro filme sobre sua colega de profissão, a cubana Alicia Bustamante, cujo documentário será apresentado nesta 24a. edição do Festival Internacional de Filmes de Friburgo.

Os outros membros do júri são a iraniana Rakhshan Bani Etemad, o francês Michel Ciment, o ucraniano Igor Minaev e o suíço Patrick Ferla.

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