Mais pessoas morrem de droga

Um viciado em drogas injeta heroína na frente de policiais em Zurique na noite de 21 de setembro de 2002. Keystone

No ano passado 212 pessoas morreram na Suíça devido ao abuso de drogas. Esse é o número mais elevado nos últimos oito anos.

Especialistas são cautelosos em explicar as razões para o crescimento e preferem analisar melhor os dados. Outros acreditam que a mistura de drogas e a existência de viciados em idades avançadas seria um fator.

Uma pesquisa realizada pela agência de notícias AP em todos os cantões suíços revelou que 212 pessoas morreram em 2005 devido ao consumo de drogas. Esse é o número mais elevado dos últimos oito anos. Em 2004 foram registradas 182 vítimas. Em 2003, apenas 194.

Segundo a Agência Européia de Informação sobre a Droga (AEID), o número de overdoses passou de 8.838 (2003) para 8.306 (2004) nos países da União Européia.

O órgão alerta que as estatísticas fornecidas diferem na sua metodologia, sobretudo pelo fato de muitas mortes não serem relacionadas com o consumo de drogas. Nesse sentido, o número de overdoses deve ser muito maior.

Na Alemanha a tendência é de redução. As estatísticas mostram o número de mortes tem diminuído progressivamente nos últimos quatros anos, como informa o Ministério da Saúde alemão.

Analisar os números

A Suíça estaria indo contra esse desenvolvimento na Europa. Porém especialistas helvéticos não chegaram a uma conclusão para saber se o crescimento do número de mortes por consumo de drogas é uma tendência ou apenas um fenômeno temporário.

Jürg Kauer, membro da Associação de Familiares de Viciados (Ada) explica para a swissinfo que ainda não pode avaliar as estatísticas. Ele se mostra espantado com o crescimento.

– Talvez tenha alguma coisa a ver com a tendência atual da politoxicomania (vício em diferentes drogas ao mesmo tempo). Há muito tempo que os viciados não tomam apenas heroína, mas outras coisas também. O preço das drogas também abaixou muito nos últimos tempos – explica.

A dúvida é compartilhada também por Jakob Huber, gerente da Fundação Contact em Berna, um órgão privado especializado no tratamento de viciados, para quem os números na Suíça precisam ser analisados com atenção, assim como a razão das mortes.

Viciados de idade avançada

Há muitos anos está em vigor na Suíça a famosa política de “quatro pilares”. Seu principal objetivo é promover um melhor acompanhamento dos dependentes de droga. Diversos órgãos públicos e estatais no país fornecem doses controladas de heroína ou metadona – que substitui a heroína – para os viciados e os ajudam com programas de desintoxicação, reintegração e ajuda à vida.

Dessa forma a vida de muitos dependentes suíços melhorou significavelmente nos últimos anos. Na opinião de especialistas como Huber, essa talvez seja paradoxalmente uma razão para o aumento do número de mortes por overdose:

– Essas pessoas alcançam idades cada vez mais elevadas, o que antes não ocorria. Porém os viciados “idosos” ficam com a saúde cada vez mais debilitada com o passar dos anos. É possível que o ano passado tenha tido casos de falecimento de algumas delas.

Outro problema detectado pelos assistentes sociais é o hábito cada vez mais comum de misturar diferentes tipos de drogas, sobretudo o consumo excessivo de cocaína.

– Essa droga das elites está agora muito mais barata e qualquer um pode então consumi-la – afirma Huber.

Sucesso da política de drogas

Huber e Kauer estão convencidos que a política suíça relativa às drogas e seu princípio dos quatro pilares (prevenção, terapia e reintegração, reduzir os riscos, repressão) é bem-sucedida. Ela precisaria apenas ser melhorada e desenvolvida.

Os dois especialistas ressaltam que, também devido ao aumento do número de mortes por overdose, a sociedade deve aprender a viver com o problema das drogas. Na sua opinião, um mundo sem drogas seria uma ilusão. Porém os avanços das terapias oficiais já mostram seus frutos:

– A criminalidade provocada por aqueles que assaltavam e roubavam para financiar o consumo, está diminuindo. Através do fornecimento controlado de heroína e da metadona, a saúde dos dependentes melhorou consideravelmente, assim como sua integração na sociedade – reforça Huber. A sociedade estaria vendo os viciados mais como pessoas doentes do que como criminosos.

Em Zurique e Berna os governos locais continuarão a fornecer a droga com acompanhamento. Porém a maior parte dos partidos é contra a liberalização completa, como mostra o debate da maconha.

Jakob Huber acredita que cada vez mais países irão adotar a política suíça.

– Esse são países que aceitaram a realidade de um mundo onde a droga sempre vai existir. Outros continuarão a nos combater.

swissinfo, Urs Maurer

Fatos

Mortes por abuso de drogas na Suíça:
2000: 205
2001: 197
2002: 167
2003: 194
2004: 182
2005: 212

Breves

A política suíça relativa a drogas funciona segundo o princípio dos quatro pilares:

1 – Prevenção
2 – Terapia e reintegração
3 – Reduzir os riscos (ajuda à vida normal)
4 – Repressão