O Dalai Lama possui um pequeno vinhedo no município de Saillon, no cantão do Valais.
Este conteúdo foi publicado em
4 minutos
Trabalho com tópicos relacionados às relações suíço-italianas, sejam elas econômicas, políticas, históricas ou culturais.
Sou jornalista, vivo em Lugano e tenho um nome que revela as origens da minha família. Estudei em Neuchâtel e Friburgo, com uma curta estadia em Bonn (Alemanha). Trabalhei para o jornal Corriere del Ticino e Giornale del Popolo tratando de temas ligados à política e notícias, na mídia impressa e digital. Desde 2021, faço parte da equipe da Tvsvizzera.it, que faz parte de SWI swissinfo.ch.
Monge tibetano e líder espiritual budista, o Dalai Lama é, desde 1999, proprietário de um vinhedo no município de Saillon, no cantão do Valais, a cerca de 20 quilômetros de Sion e 80 quilômetros de Lausanne. Chamado “Vigne à Farinet”, o vinhedo tem apenas três videiras espalhadas por 1,67 metro quadrado, o que lhe confere a fama de menor vinhedo do mundo.
Apesar da pequena área coberta, cerca de 1000 garrafas de vinho recebem anualmente – pelo menos em parte – essas uvas especiais. As garrafas são vendidas para fins de caridade.
Por que um vinhedo no Valais?
A razão pela qual o Dalai Lama, líder espiritual e ganhador do prêmio Nobel da Paz de 1989, possui videiras no Valais também pode despertar curiosidade. A verdade é que foi um presente. O terreno pertencia ao abade Pierre (“Abbé Pierre”, pseudônimo de Henri Antoine Grouès (1912-2007)). Abbé Pierre foi um famoso padre católico francês, combatente da resistência, homem político e fundador do Compagnons d’Emmaüs (Companheiros de Emaús), uma organização para os pobres e refugiados criada em 1949 e até hoje presente em 41 países (incluindo a Suíça).
O Abbé Pierre em 1999.
Keystone / Fabrice Coffrini
Em agosto de 1999, Abbé Pierre recebeu o monge tibetano em Saillon, perto do vinhedo. Naquele dia, os dois homens não fizeram nenhum discurso, mas foram direto ao trabalho, amarrando as três videiras com ráfia. Em seguida, soltaram duas pombas no céu. O abade Pierre serviu então ao Dalai Lama a sopa de Emaús, à qual foram acrescentados tomates, que o convidado – segundo aqueles que lhe eram próximos – adora.
A videira da paz e da abertura
Com tal proprietário, o vinhedo de Farinet se tornou “a videira da paz e da abertura”, atraindo o interesse de celebridades e políticos visitantes. Entre aqueles que se detiveram para ajudar a cuidar dos ramos e do solo – pelo menos para tirar uma foto – estão celebridades como Claudia Cardinale, Roger Moore, Zinedine Zidane e várias personalidades políticas.
A região também é ideal para caminhadas. Situada em uma região caracterizada pelo clima ameno, Saillon não apenas possui damasqueiros, amendoeiras e figueiras em flor, mas também é uma das mais belas cidades da Confederação Suíça. Terminando “o trabalho braçal”, celebridades e outros visitantes podem relaxar em um dos banhos termais que dão fama ao local.
O Robin Hood dos Alpes
Uma última curiosidade sobre o vinhedo do Dalai Lama diz respeito ao seu nome. O menor vinhedo do mundo tem o nome do falsificador de moedas Joseph-Samuel Farinet, apelidado de Robin Hood dos Alpes. No século XIX, esse generoso personagem rocambolesco fabricava moedas falsas para distribuir aos pobres.
Quem foi o Abbé Pierre?
Para lutar contra a miséria dos desabrigados, Abbé Pierre fundou a associação Emaús em novembro de 1949. Em meio a uma crise habitacional, os membros da associação construíram moradias para acolher várias famílias.
Em seguida, o abade ganhou notoriedade durante o inverno extremamente frio de 1954, quando fez um apelo na rádio por uma “insurreição de bondade”, que resultou em 500 milhões de francos franceses (na época) em doações. Quando ele morreu em 2007, aos 94 anos de idade, Abbé Pierre havia passado 60 anos de sua vida não apenas denunciando a pobreza e a miséria, mas também agindo para mitigá-las.
Adaptação: Clarice Dominguez
Adaptação: Clarice Dominguez
Mais lidos
Mostrar mais
Política exterior
Quatro em cada dez adultos na Suíça têm origem migratória
Na Suíça, falta moradia e os aluguéis disparam. A imigração cresce, mas a construção não acompanha. Gentrificação avança e a crise habitacional se agrava. Acontece o mesmo onde você vive?
Mau tempo impulsiona roubo de uvas nos vinhedos suíços
Este conteúdo foi publicado em
Desde o início da colheita da vinha em setembro, cerca de 1,5 toneladas de uvas foram roubadas no cantão vinícola do Valais.
Este conteúdo foi publicado em
Um tracasset é um pequeno veículo motorizado usado pelos vinicultores para percorrer suas vinhas. A primeira corrida destes veículos pelas pistas íngremes e estreitas dos vinhedos ocorreu em 1956. O evento desapareceu por um tempo, mas foi reativado há cerca de vinte anos. Começa com um desfile de tracassets lindamente decorados e às vezes jocosos.…
Este conteúdo foi publicado em
A reportagem de swissinfo fez um passeio gustativo na região de Sierre, estado do Valais (sudoeste), na propriedade de Michel Savioz, no Castelo Ravire. Pendurado num desses lugares altos e cercados de verde típicos do vale do rio Ródano, o castelo Ravire domina a cidade de Sierre. A área é de 25 hectares de vinhedo,…
Este conteúdo foi publicado em
No vilarejo de Visperterminen, cantão do Valais (sul da Suíça), tem fama mundial. Graças a suas videiras plantadas entre 650 e 1.150 metros acima do nível do mar, as uvas do tipo “Heida” produzem um vinho branco também conhecido pela denominação “Pérola dos vinhos dos Alpes”. Em plataformas estreiras, seguradas por muros de pedra, as…
Este conteúdo foi publicado em
Varios miles de personas se reunieron en Zúrich el 14 de octubre para ver al Dalai Lama, la máxima autoridad del Budismo Tibetano.
Este conteúdo foi publicado em
O fotógrafo Manuel Bauer nos recebe em seu ateliê no bairro industrial de Winterthur, perto de Zurique. Faz muitos anos que é o lugar de trabalho e de retiro de Manuel Bauer, repleto de ampliadores de fotografias, caixas, livros e imagens de suas exposições. Nos chama a atenção uma foto em branco e preto de…
Este conteúdo foi publicado em
Desde 10 de março de 1959, milhares de tibetanos vivem exilados em vários países do mundo, incluindo a Suíça. Swissinfo visita uma comunidade. O primeiro contato foi feito ao acaso. Estou no centro de Winterthur, uma cidade distante trinta quilômetros de Zurique. Aqui já podem ser notados os primeiros traços da forte presença de exilados…
Participe da discussão