The Swiss voice in the world since 1935

Avanço das energias renováveis perde fôlego

Painel solar
A produção de eletricidade a partir do sol e de outras fontes renováveis no mundo quase duplicou entre 2015 e 2024. Keystone / Gaetan Bally

O Acordo de Paris sobre o clima de 2015 deu um impulso decisivo às fontes renováveis de energia na Suíça e no mundo. No entanto, a energia solar e eólica estão perdendo força em alguns países e os objetivos climáticos permanecem distantes.

A produção de energia nunca foi tão limpa como hoje: quase um terço da eletricidade no mundo provém do sol, vento e água. Os investimentos nas energias verdes superam os dos combustíveis fósseis e em muitas regiões as renováveis custam menos que o gás. No primeiro semestre de 2025, as fontes renováveis geraram mais eletricidade que o carvão. Isso nunca havia acontecido antes.

Dez anos após o Acordo de Paris sobre o clima, as fontes renováveis são um pilar das políticas climáticas nacionais. A difusão global da energia solar e eólica desde 2015 “superou até mesmo as projeções mais otimistas e continua a crescer de modo exponencial”, aponta um estudoLink externo recente da ONU.

Conteúdo externo

No entanto, embora as fontes renováveis avancem na Suíça e no mundo, o crescimento ainda é muito lento e as dificuldades não faltam. O relatório da ONU destaca que persistem “significativos obstáculos políticos e econômicos” na transição dos combustíveis fósseis para as renováveis.

As incertezas políticas e as tensões internacionais estão redefinindo as estratégias energéticas. A segurança do abastecimento energético nacional tende a prevalecer sobre a sustentabilidade climática. Isso é evidenciado pelo retorno do carvão na Alemanha, a nova corrida às fontes fósseis nos Estados Unidos ou ainda o renovado interesse pelo nuclear em alguns países.

O ritmo atual de crescimento das fontes renováveis não é compatível com o objetivo de zero emissões líquidas até a metade do século. A intenção de triplicar a capacidade global das fontes renováveis até 2030, acordada há dois anos na conferência sobre o clima das ONU, é por ora “apenas uma miragem”, segundo EmberLink externo, um “think thank” especializado na análise de dados energéticos e climáticos.

O que esperar para o futuro? A evolução das renováveis desde o Acordo de Paris ajuda a entender o que nos aguarda nos próximos anos.

É o primeiro acordo climático internacional e juridicamente vinculativo. Ele compromete todos os países a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Foi adotado em 12 de dezembro de 2015 em Paris, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP21).

O Acordo de Paris tem como objetivo limitar o aquecimento global a bem menos de 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, visando a um aumento máximo de 1,5 °C. Para isso, um balanço líquido de emissões zero (neutralidade climática) deve ser alcançado até 2050.

O acordo foi assinado por 196 países. A Suíça o ratificou em 2017.

Na série de artigos “10 anos do Acordo de Paris”, destacamos o que foi feito nas áreas de emissões, energias renováveis e pesquisa climática na Suíça e em todo o mundo.

Energia renovável dobrou desde 2015

Os habitantes notam isso quando passeiam hoje nas cidades ou no campo: painéis solares estão surgindo por toda parte, em telhados e fachadas de edifícios ou em lugares mais incomuns. Somente na Suíça, cerca de 56 mil novos sistemas fotovoltaicos serão instalados em 2024, três vezes mais do que em 2020, de acordo com o ministério suíço da Energia.

Se excluirmos a energia hidrelétrica – historicamente a principal fonte renovável do país, cuja produção tem se mantido estável a longo prazo – o desenvolvimento das energias renováveis na Suíça é espetacular: 433% para energia fotovoltaica, 237% para biomassa e 55% para energia eólica nos últimos dez anos.

Mostrar mais
Painéis solares nas montanhas

Mostrar mais

Soluções para o clima

Suíça quer quadruplicar energia solar até 2050 com inovações

Este conteúdo foi publicado em A Suíça quer quadruplicar sua energia solar até 2050, cobrindo trilhos, montanhas, lagos e fazendas com painéis fotovoltaicos. É possível conciliar inovação, paisagem e produção agrícola?

ler mais Suíça quer quadruplicar energia solar até 2050 com inovações

Em comparação com a tendência global, entretanto, o crescimento de todas as energias renováveis na Suíça (cerca de 30% desde 2015) é mais moderado. Impulsionada principalmente pelo desenvolvimento da energia solar e eólica, a produção global de eletricidade a partir de fontes renováveis quase dobrou (81%) nos últimos dez anos.

“Na década que se seguiu ao Acordo de Paris, houve uma aceleração da produção eólica e solar nunca antes observada em outras tecnologias de geração de eletricidade”, disse Kostantsa Rangelova, analista da Ember. estamos agora na fase de decolagem”, diz.

A produção de eletricidade solar no mundo levou onze anos para passar de zero a 2 mil Terawatt-hora (TWh) por ano. Para a eólica foram necessários 17, enquanto o gás e o carvão levaram mais de 40 anos, explica Rangelova.

Conteúdo externo

China lidera a corrida

A China é o país que mais produz emissões de CO2. No entanto, é também a nação líder em energia renovável. No ano passado, o país instalouLink externo duas vezes mais painéis solares e turbinas eólicas do que o resto do mundo.

Os Estados Unidos e, principalmente, a Índia e o Brasil também registraram um crescimento significativo na última década. As grandes economias emergentes reunidas no grupo de países BRICS geraramLink externo mais da metade (51%) da eletricidade solar do mundo em 2024, em comparação com 15% em 2015.

As renováveis oferecem independência energética e segurança econômica, especialmente nos países que dependem das importações de combustíveis fósseis como China e Índia, afirma Rangelova.

Enquanto no passado as novas usinas para a produção elétrica no mundo funcionavam predominantemente a gás ou carvão, desde 2015 observa-se uma predominância de sistemas de energia renovável. As centrais solares e eólicas representaram quase 90% das novas instalações em 2024.

Conteúdo externo

Rangelova explica que foi sobretudo a inovação que favoreceu o rápido crescimento das renováveis. Novos materiais e processos aprimorados incrementaram a eficiência e reduziram os custos. “Hoje, na maior parte do planeta, a energia solar e eólica são as fontes mais econômicas para produzir eletricidade nas novas usinas”, afirma.

As renováveis superaram os combustíveis fósseis em todas as regiões do mundo, com exceção do Oriente Médio. Alemanha, Espanha e Itália lideram o aumento da potência instalada na Europa.

Para Wolfram Sparber, presidente da Associação dos Centros Europeus de Pesquisa sobre Energias Renováveis (EUREC), a progressão das renováveis está ligada também ao ataque da Rússia à Ucrânia. “Contribuiu para aumentar o interesse dos governos europeus em autoproduzir energia através das renováveis e reduzir sua dependência de fontes fósseis importadas”, diz. 

1/3 da eletricidade mundial proveniente de fontes renováveis

As renováveis atraem cada vez mais dinheiro. Os investimentos globais na transição energética – entre eles renováveis, eficiência energética e ampliação das redes elétricas – alcançaram em 2024 o nível recorde de 2 trilhões de dólaresLink externo (contra 1,2 trilhão em 2015). É quase o dobro em relação ao dinheiro investido na indústria fóssil e também neste caso a China e a Ásia são as forças motrizes.

Conteúdo externo

O resultado é que a participação das energias renováveis na produção global de eletricidade aumentou de 23% em 2015 para 32% em 2024. Atualmente, mais de 60 países geram mais da metade de sua eletricidade a partir de fontes renováveis. A Agência Internacional de Energia prevê que a participação das energias renováveis no mix global de eletricidade chegaráLink externo a 46% até 2030.

A Suíça é um dos países europeus com a maior participação (67% em 2024), graças principalmente à energia hidrelétrica. A contribuição da energia fotovoltaica e eólica, por outro lado, permanece modesta. Com apenas 11% da eletricidade gerada por energia solar e eólica (28% na UE), a Suíça ocupa a 22ª posição entre 28 países europeus, de acordo com um estudoLink externo publicado este ano pela Fundação Suíça da Energia.

Conteúdo externo

Combustíveis fósseis continuam 

Apesar da trajetória ascendente das energias renováveis, a transição para um sistema de energia compatível com um aquecimento global de 1,5 °C – o limite mais ambicioso do Acordo de Paris – ainda é muito lenta.

Enquanto 32% da eletricidade do mundo é renovável, os 68% restantes não são. O gás, o carvão, o petróleo e, em menor escala, a energia nuclear continuam a gerar grande parte da eletricidade. Os combustíveis fósseis também continuam sendo a base do suprimento mundialLink externo de energia em termos de energia usada para aquecer edifícios, abastecer veículos e apoiar processos industriais. A participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global é de 80%, um pouco abaixo dos 83% registrados em 2015.

A transformação do fornecimento de energia leva tempo. A substituição da infraestrutura antiga por novas tecnologias renováveis está progredindo principalmente em áreas como geração de eletricidade e transporte leve, mas permanece limitada em outros lugares, observam os autores do relatório da ONU.

Até agora, em vez de substituir os combustíveis fósseis, as energias renováveis contribuíram principalmente para aumentar a produção geral de energia para atender à crescente demanda.

Considerando todo o ciclo de vida, as energias renováveis na Suíça “são muito mais limpas do que os combustíveis fósseis”, diz Jürg Rohrer, chefe do grupo de pesquisa de energias renováveis da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique (ZHAW), à Swissinfo.

O impacto climático de um sistema fotovoltaico no telhado é de cerca de 39 gramas de CO2 equivalente por quilowatt-hora de eletricidade produzida. O da energia eólica é, em média, de 25,9 g de CO2e/kWh. Esses valores incluem a fabricação de materiais, a construção da usina, a operação da usina e o gerenciamento do fim da vida útil. Em comparação, o gás natural emite cerca de 485 g de CO₂e/kWh e o carvão cerca de 1.000 g de CO₂e/kWh.

A energia hidrelétrica também gera poucas emissões de CO₂, mas envolve compensações ecológicas locais, explica Rohrer. Por exemplo, com relação ao escoamento residual e ao transporte de sedimentos.

No entanto, é possível reduzir ainda mais os impactos das energias renováveis, enfatiza Rohrer. Há três caminhos possíveis: reduzir a demanda por meio de uma melhor eficiência energética; projetar instalações sem comprometer a natureza (por exemplo, colocando painéis solares em superfícies já construídas); e promover a economia circular e a reciclagem.

Metas nacionais “insuficientes”

O objetivo de triplicar a capacidade das renováveis até 2030, adotado na conferência sobre o clima de Dubai em 2023 e reafirmado no ano passado, ainda está distante. Desde então, apenas cerca de vinte países, em sua maioria na Europa, formularam objetivos mais ambiciosos, segundo uma análiseLink externo da Ember.

“Triplicar as energias renováveis nesta década é o passo mais importante para se alinhar ao objetivo de 1,5°C. No entanto, apesar do compromisso histórico assumido em Dubai, os objetivos nacionais permanecem em grande parte insuficientes em relação ao que é necessário”, diz Kostantsa Rangelova.

A desaceleração mais acentuada ocorreu nos EUA, onde o investimento em energias renováveis caiuLink externo 36% no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024. O que pesa é sobretudo o contexto político alterado. Na nova e “grande” América de Donald Trump, os combustíveis fósseis voltaram a ser protagonistas. Haverá menos incentivosLink externo e mais restrições para as renováveis, em particular a eólica.

Os Estados Unidos anunciaram sua retirada do Acordo de Paris, uma decisão que pode levar outros países a revisar seus compromissos climáticos para baixo.

O impulso poderia vir não apenas da Ásia, mas também da ÁfricaLink externo. Não é mais apenas a África do Sul que está importando cada vez mais painéis solares para o continente, mas também cerca de 20 nações, incluindo a Nigéria e a Argélia. Em setembro, a Etiópia inaugurou a “Barragem do Milênio”, a maior da África e uma das maiores do mundo. Ela fornecerá eletricidade a milhões de pessoas.

Conteúdo externo

Proteção ambiental ou produção de energia?

Também a Suíça está atrasada. O ritmo de ampliação da capacidade de geração a partir de fontes renováveis é insuficiente para alcançar os objetivos compatíveis com um cenário de emissões líquidas zero, afirma o próprio governo em uma avaliaçãoLink externo de 2022.

As autorizações para a construção de novas usinas de grande porte, como as usinas de energia solar dos Alpes, representam um desafio devido a possíveis conflitos de interesse entre a proteção ambiental e a produção de energia, diz o governo.

A nova Lei sobre eletricidade aprovada no ano passado pelos eleitores em um plebiscito, que simplifica os procedimentos de autorização das usinas renováveis, poderia preencher a lacuna. A Suíça pretende também realizar 16 novos grandes projetos hidrelétricos.

Renováveis desaceleradas pelo protecionismo e tarifas comerciais

Rana Adib, diretora executiva da REN21, uma rede política internacional que promove o desenvolvimento das renováveis no mundo, afirma que o impulso da energia solar e outras energias permanece forte. As redes elétricas e o armazenamento de energia estão se tornando uma prioridade para numerosos países.

“No entanto, o protecionismo, o aumento das tarifas e os altos custos de financiamento poderiam desacelerar a difusão das renováveis”, diz.

A indústria precisa de clareza para poder tomar decisões de investimentos importantes e de longo prazo, diz Wolfram Sparber da EUREC. O desenvolvimento dependerá das escolhas políticas, mas “não tenho dúvidas de que as renováveis continuarão a crescer a nível global”.

Dez anos após o Acordo de Paris, as energias renováveis se tornaram um pilar irrenunciável da transição energética. Mas sem escolhas políticas à altura dos objetivos climáticos e investimentos estruturais, seu potencial corre o risco de permanecer apenas uma promessa.

Edição: Gabe Bullard/Vdv

Adaptação: Alexander Thoele/com ajuda da IA

Mais lidos

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR