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Parques naturais suíços lideram a preservação ambiental na Europa

Blick in den Schweizerischen Nationalpark
O Vale Trupchun, no Parque Nacional Suíço. Esse parque foi fundado em 1914 e listado como uma biosfera pela UNESCO em 1979. © Keystone / Gaetan Bally

Uma delegação de países da Europa Central e Oriental vai encontrar inspiração para suas reservas naturais no Parque Nacional Suíço. Por trás disso está o início da implementação, depois de um longo cabo de guerra, da Contribuição para a Coesão, que é um instrumento da política suíça em relação à Uniao Europeia (UE).

O grupo caminha sempre bem ao longo da trilha, pois deixá-la é estritamente proibido no Parque Nacional Suíço. Ninguém precisa ser lembrado disso aqui, já que todos são profissionais de parques. A convite da Suíça, a delegação com participantes da Bulgária, Estónia, Eslováquia e República Checa passou vários dias no país em setembro, e a excursão ao parque nacional dos Grisões foi um dos pontos centrais da agenda.

Como promover e, se necessário, combinar o turismo sustentável e a proteção da biodiversidade nas reservas naturais? Essa questão surge com frequência. Fundado em 1914, o Parque Nacional Suíço é o mais antigo de seu tipo nos Alpes e na Europa Central, uma reserva intocada há um século com o mais alto nível de proteção e um importante local de pesquisa.

A Secretaria de Estado para a Economia (SECO, na sigla em alemão) convidou a delegação porque, depois de um longo cabo de guerra com a Comissão Europeia, a Suíça concluiu os correspondentes acordos com vários países da Europa Central e Oriental no âmbito da chamada contribuição para a coesão, que a Suíça paga à UE como uma espécie de compensação pelo acesso ao mercado único europeu. São pouco mais de um bilhão de francos destinados aos estados do leste. Além da segurança social e do crescimento econômico, a proteção do ambiente é um objetivo estratégico que a Suíça busca avançar com estes pagamentos. (Mais informações no quadro no final do texto.)

Parque sem igual

O intercâmbio entre os participantes aumenta a cada metro de altitude, e não é sem uma certa ironia que, de todos os lugares, especialistas de países da UE estabeleçam sua rede logo nos Alpes suíços. “Este intercâmbio é muito importante. Ao final das contas, estamos todos mais ou menos diante das mesmas questões, dentro e fora da UE”, diz Marqueta Konecna. Ela trabalha no Ministério do Meio Ambiente da República Tcheca e é conceitualmente responsável pelo projeto de parques no país.

Eine Frau im Wald
Marqueta Konecna no Parque Nacional Suíço. “Há registros ininterruptos dos últimos cem anos aqui, o que é inimaginável para nós.” swissinfo.ch

Ela enfatiza que os muitos anos de experiência da Suíça em gestão e monitoração de parques são particularmente importantes para os países do antigo bloco do leste. No século 20, a Suíça foi praticamente o único país da Europa que não teve rupturas históricas e foi poupado de guerras e mudanças de sistema. “Essa estabilidade é única e produz experiência que é muito valiosa para nós. Além, é claro, de a Suíça ser muito inovadora. Não podemos fazer tudo, mas isso nos dá ideias.”

Nesta viagem, ela está particularmente interessada na gestão dos fluxos de visitantes em parques protegidos; por exemplo, como combinar mobilidade e turismo sustentável? “É claro que um sistema de transporte público bem desenvolvido é importante. Mas também é a coordenação entre todas as partes envolvidas: municípios, profissionais do turismo, funcionários do parque e assim por diante”, diz Konecna. Há muito a aprender com a estrutura federal da Suíça e a estreita cooperação entre agências governamentais e particulares, e o Parque Nacional Suíço é um bom exemplo a este respeito.

O parque recebe uma média de mais de 100 mil visitantes por ano, e toda a região, que também inclui o mundialmente famoso destino de St. Moritz, por exemplo, tem cerca de um milhão de visitantes e uma população de apenas 9.300 pessoas. Você não obtém esses números nos parques tchecos, mas como em outros lugares, eles se tornaram mais populares entre os moradores locais durante a pandemia, diz Konecna. “Temos que ponderar: mais vagas de estacionamento ou ampliação do transporte público?” A resposta seria clara, mas você tem que ser capaz de pagar pela sustentabilidade.

Problemas com ursos e caçadores 

Enquanto o Parque Nacional Suíço sofre com o grande fluxo de visitantes, na Bulgária é exatamente o oposto: “As pessoas muitas vezes veem a natureza como um recurso econômico aqui. A ideia de espaços naturais protegidos não convence a todos”, diz Angel Ispirov. Ele é um guarda no Parque Nacional dos Balcãs Centrais, no centro da Bulgária. Com 720 quilômetros quadrados, é o segundo maior do país, mas ainda muitas vezes maior do que o Parque Nacional Suíço, que abrange 170 quilômetros quadrados.

Ein Mann im Zug
Angel Ispirov experimenta em primeira mão as mudanças induzidas pelo clima em seu parque: “Tudo está mudando constantemente, por isso é melhor planejar com antecedência. swissinfo.ch

Os desafios são correspondentemente diferentes. A Bulgária é um dos países economicamente mais pobres da UE e as prioridades são naturalmente diferentes. “O parque foi fundado oficialmente em 1991, mas nos primeiros anos só existia no papel, porque a equipe só foi contratada seis anos depois”, diz Ispirov. Ainda hoje, o monitoramento do parque é subfinanciado, o que é particularmente problemático no que diz respeito aos dois maiores desafios: ursos e caçadores clandestinos. “A população de ursos está aumentando. Os animais estão se deslocando cada vez mais para áreas povoadas. E a caça clandestina sempre foi um problema, e igualmente perigosa.” Ispirov patrulha armado por esse motivo.

Mas a viagem à Suíça também é valiosa para ele: “É como olhar para o futuro: graças à experiência aqui, posso adivinhar o que pode estar reservado para nós no futuro.” Além disso, ele aprende com experimentos práticos que são realizados, por exemplo, sobre como usar materiais e técnicas simples para tornar o tratamento de águas residuais de cabanas ecologicamente correto e autônomo. “Temos uma rede de cabanas bem desenvolvida em nosso parque, mas a manutenção é difícil. Estamos sempre buscando soluções para torná-las mais autônomas”, diz Ispirov.

Jogo político 

De acordo com a fórmula de distribuição, os quatro países da delegação representam pouco menos de um quinto do financiamento atribuído no âmbito da Contribuição para a Coesão, ou seja, cerca de 210 milhões de francos suíços. Os projetos relevantes para os participantes somam 83 milhões, mais os 15% de contribuição própria do Estado. Daniel Birchmeier, da Seco, está envolvido nos projetos há anos. Ele explica: “Alguns dos países recebem pagamentos significativos de coesão da UE. É por isso que é importante para nós identificar as melhores práticas que são úteis para eles.”

O espectro vai desde investimentos tangíveis em instalações de alta qualidade (especialmente nas áreas da energia, saúde e formação profissional) até trabalho conceptual e transferência de conhecimentos. Muitas vezes é um trabalho de nicho, com modelos piloto projetados para dar impulsos criativos. Birchmeier, que está no comando da delegação, fala muito sobre inspiração nesses dias. Ele conduzirá o grupo pela Suíça por mais alguns dias, até o Planalto Suíço, para apresentar novas ideias. O ar alpino no parque nacional aparentemente aguçou o apetite dos participantes por mais.

Embora Berna e Bruxelas provavelmente ainda passem algum tempo na mesa de negociações para definir sua futura relação, essa cooperação suíço-europeia já começou.

Ajuda suíça

Desde 2004 a Suíça contribuiu para o alargamento da União Europeia a Leste sob o nome de “Contribuição suíça para determinados Estados-Membros da UE”. Esta substituiu a anterior ajuda à Europa do leste, que chegava a cerca de 1,3 bilhões de francos e destinava-se a projetos que beneficiavam a coesão da União. A Suíça recebeu em troca um amplo acesso ao mercado único europeu.

A segunda contribuição chega ao mesmo montante, com 200 milhões destinados a países particularmente afetados pela migração. Os restantes 1,1 mil milhão de francos será implementado pela Seco e pela Agência Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação (SDC) com 13 Estados parceiros até 2029.

Entretanto, a contribuição tornou-se um joguete e, na disputa política sobre o acordo-quadro institucional, a Comissão Europeia decidiu abolir a equivalência das bolsas de valores, o que foi massivamente criticado como discriminação na Suíça. Em 2019, a Suíça suspendeu a contribuição. Quando o governo federal da Suíça encerrou unilateralmente as negociações sobre o acordo-quadro em 2021, o Parlamento decidiu desbloquear a contribuição como um sinal de boa vontade.

Em comparação com as transferências europeias, a contribuição da Suíça para a coesão é modesta e representa menos de um por cento de todos os fundos fornecidos pela UE.

Edição: Balz Rigendinger

Adaptação: DvSperling

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