Pesquisadores estudam rastros da vida em vestígios de luz
Detectar a vida através da luz. Essa é uma das técnicas aplicáveis para rastrear possíveis organismos extraterrestres. Uma equipe internacional liderada pela Universidade de Berna acaba de dar um passo nessa direção. Mas, por enquanto, suas observações vêm de um helicóptero voando sobre ... a Terra.
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Depois de iniciar a carreira na imprensa regional (jornal e rádio) na Suíça francófona, entrei para a Rádio Suíça Internacional (RSI) em 2000, que depois veio se tornar a plataforma online swissinfo.ch. Desde então, escrevo - e às vezes rodo até vídeos - sobre todos os tipos de assuntos: de política à economia, cultura e ciência.
É a questão eterna: há mais vida no universo? Se houver outro planeta habitado, a distância entre ele e nós é, por definição, astronômica. Então, como poderíamos ver homenzinhos verdes lá ou mesmo bactérias? Na ausência de espaçonaves capazes de mergulhar no hiperespaço e espelhos telescópicos do tamanho de continentes, tudo o que resta é a detecção indireta, também conhecida como busca de bioassinaturas.
Desde a década de 1960, as antenas dos radiotelescópios do programa SETI têm “escutado” nossa vizinhança galáctica na esperança de receber uma transmissão de rádio extraterrestre – mas, sem sucesso. Porém, recentemente, pesquisadores têm procurado a assinatura química do oxigênio em contato com a luz que pode chegar até nós vinda da atmosfera dos exoplanetas. Isso porque, segundo os cientistas, temos todos os motivos para acreditar que o oxigênio presente em abundância na atmosfera pode vir de organismos vivos.
Uma luz que se acende
O método aplicado pelos cientistas do projeto MERMOZLink externo, que reúne as Universidades de Berna, Leyden e Delft (Holanda), com o apoio do centro de pesquisa nacional suíço PlanetSLink externo, parte da análise de feixes de luz, que podem carregar em seu própria estrutura o traço de vida.
Muito esquematicamente, podemos dizer que a maioria das moléculas biológicas tem uma forma espiral, como a famosa dupla hélice do DNA. E quando um raio de luz é refletido ali, parte da onda assume essa forma. Isso é chamado de polarização circular. Essa parte da luz que se move em espiral é muito fraca, mas conseguimos detectá-la e o fenômeno não pode ter outra causa que a presença de alguma matéria viva.
Medir essa luz “giratória” é um verdadeiro desafio técnico. “Trabalhamos nisso há oito anos”, explica Lucas Patty, pós-doutorado na Universidade de Berna e coautor de um artigo publicadoLink externo em maio na revista Astronomy and Astrophysics . “Até 4 anos atrás, só conseguíamos detectar o sinal a uma distância de cerca de 20 cm, observando o mesmo local por vários minutos”.
Visto de um helicóptero, depois do espaço
Hoje, graças a melhorias graduais no equipamento, composto por uma câmera com lentes especiais e receptores capazes de separar a polarização circular do resto da luz, os 20 centímetros passaram para dois quilômetros. A detecção é muito mais rápida e estável, e a força da assinatura circularmente polarizada na luz é preservada mesmo nessa distância. Resultado: a detecção de vida no solo poderia ser feita em poucos segundos a partir de um helicóptero voando a 70 km/h. Seria possível captar até sinais de algas nos lagos, para você ter uma ideia.
O próximo passo será instalar uma versão leve do aparelho na Estação Espacial Internacional (ISS), que olha para a Terra de uma altitude de 400 quilômetros. “Já estamos trabalhando na miniaturização. Acho que podemos estar prontos em cinco anos ”, disse Lucas Patty com cautela. Mas nada está certo ainda, a competição é acirrada para que os experimentos sejam embarcados a bordo da ISS. Nesta área, os pesquisadores de Berna contam com o apoio das autoridades espaciais suíças. Membro fundador e muito ativo da Agência Espacial Europeia (ESA), o país goza de uma reputação de parceiro inovador e confiável.
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A observação da Terra usando o detector de polarização circular pode ser de interesse como um método complementar no monitoramento da evolução dos ecossistemas. Por exemplo, poderíamos medir o desmatamento ou doenças das plantas e até monitorar a proliferação de algas tóxicas, recifes de coral e os efeitos da acidificação sobre eles.
E além disso, é claro, os pesquisadores já estão pensando na vida extraterrestre. Por exemplo, em Marte ou nas luas de Júpiter e Saturno. Pode-se até imaginar a possibilidade de apontar o instrumento para mundos fora do sistema solar, algum dia. Começando com os exoplanetas do sistema Proxima Centauri, nosso vizinho mais próximo na galáxia, “apenas” 4,2 anos-luz da Terra. Para objetos tão distantes, porém, “teremos que esperar pela próxima geração de telescópios”, alerta Lucas Patty.
E se encontrarmos a luz em espiral, como saberemos de que tipo de organismo vivo ela emana? Na Terra, isso não é um problema, já que conhecemos o catálogo dos seres vivos, mas em outro lugar? “Não saberemos o que é, exceto que é vida”, responde o pesquisador de Berna.
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