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Plano de economia ameaça linhas de ônibus

Os ônibus dos Correios Suíços atendem até os mais distantes rincões da Suíça. swissinfo.ch

Um grande pacote de redução de despesas anunciado pelo governo suíço inclui também várias linhas regionais de ônibus mantidas pelos Correios Suíços.

Enquanto o governo considera que elas podem cortadas devido à baixa lotação, há grupos que defendem sua manutenção.

Quando o ministro suíço das Finanças, Hans-Rudolf Merz, anunciou no final de fevereiro um ambicioso programa de corte de despesas, no qual se prevê economia de até 2,7 bilhões de francos no orçamento entre 2011 e 2013, já imaginou que estaria mexendo em um vespeiro. Todos os ministérios são atingidos.

Entre as ideias apresentadas, uma tem provocado forte polêmica: o corte de linhas regionais de ônibus com baixo número de passageiros transportados da Post Auto, a rede de ônibus dos Correios Suíços (ler coluna da direita). Segundo o jornal Le Temps, as reações imediatas de grupos de interesse e governos estaduais mostram o “apreço que os suíços têm pelos seus transportes públicos”.

Um deles foi o governo do cantão do Jura, que se mostrou “chocado” através de um comunicado público. A Conferência de Transportes da Suíça Ocidental tomou posição na semana passada. Seu presidente, Claude Nicati, declarou: “Não haveria uma forma melhor de quebrar o entusiasmo atual em relação aos transportes públicos.”

Após ter publicado no seu site a lista das linhas ameaçadas, a Associação de Transportes e Meio Ambiente anunciou no final da semana passada o lançamento de uma petição. Ela é apoiada pelo Sindicato dos Trabalhadores nos Transportes, o grupo de interesses Pro Bahn Schweiz (Pró Trens Suíça) e a Comunidade de Interesse pelos Transportes Públicos na Suíça.

O problema da escassez de passageiros

Os critérios apresentados pelo governo para justificar o corte são técnicos: aumentar o limite de 32 passageiros diários para 100 como justificativa para permitir que uma linha regional continue a receber subvenções estatais. “Assim não estamos nos limitando a regiões específicas, mas sim a utilização real das linhas”, justifica Gregor Saladin, porta-voz do Departamento Federal de Transportes.

Segundo o Le Temps, a proposta levanta uma questão real: “Ela traz ao público uma verdade indiscutível, ou seja, que os transportes de periferia são pouco usados e que está na hora de procurar alternativas?”

Nas regiões mais atingidas, os chefes de serviço são obrigados a admitir, em parte, o problema. “Existe, de fato, paralelismo entre as linhas e que justificariam soluções mais racionais”, constata Pascal Bovey, no cantão do Valais (sul da Suíça). Seu colega do cantão de Neuchâtel (oeste), Pascal Vuilleumier, confessou recentemente ao semanário L’Express, a existência de “uma oferta por vezes luxuosa em relação à demanda.”

Um exemplo citado pelo Le Temps mostra a raiz do problema. A linha de ônibus Cully-Chexbrex-Puidoux, uma região de vilarejos localizadas dentro dos vinhais do Lavaux, às margens do lago de Genebra e tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, tem uma média de 74 passageiros por dia. Sua manutenção custa 223 mil francos por ano, mas ela traz apenas 31 mil francos de receita. A subvenção é dividida pela metade entre o cantão (estado) de Vaud e o governo federal: 192 mil francos.

Debate acirrado

O processo de consulta política do plano de cortes deve iniciar no início de abril. Nele vários grupos de interesse são ouvidos até o projeto definitivo ser apresentado às duas câmaras no Parlamento helvético. “Acreditamos que o projeto deve ser votado até o final do ano, sobretudo para podermos definir o orçamento federal dos próximos anos”, acrescenta Gregor Saladin.

Segundo Daniel Bach, o número de linhas que não deverão mais receber subvenções, caso o projeto seja aprovado, é de 175. Caso exista interesse em sua manutenção, os cantões deverão assumir a conta, explica o porta-voz do Ministério do Meio Ambiente, Transporte, Energia e Comunicação è emissora de televisão pública SF1.

Os cantões mais atingidos pelos cortes seriam Berna (28 linhas), Vaud (26), Grisões (21), Valais (18) e Ticino (14). O governo federal subvenciona atualmente 1.700 linhas regionais que incluem ônibus, barcos, trens e outros meios de transporte.

As subvenções federais totalizam 800 milhões de francos anuais. Os cantões entram com uma segunda parte no mesmo valor. Com o plano de cortes, o governo federal pretende economizar anualmente 15 milhões de francos no período entre 2011 e 2015.

Alexander Thoele, swissinfo.ch (com agências)

Post Auto é uma companhia de ônibus dos Correios Suíços,

Ela mantém atualmente 761 linhas de ônibus

A rede de transporte corresponde a 10.345 quilômetros.

Em todo país são 12.395 paradas de ônibus.

Número de passageiros transportados por ano: 114,7 milhões.

Número de veículos: 2001

A Post Auto foi criada em 1849 ainda como uma rede de transporte através de carruagens.

Em 1906 foi inaugurada a primeira linha de ônibus da Post Auto. Ela trafegava de Berna à Detlingen, um vilarejo localizado a aproximadamente 30 km da capital suíça.

Subvenções federais dadas ao transporte regional: 800 milhões de francos. A parte de subvenções dos cantões corresponde ao mesmo valor.

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