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Regras severas podem criar “sistema bancário paralelo”

Patrick Odier falou no WEF sobre as lições a serem tiradas da crise financeira. Keystone

Uma pesada regulamentação financeira poderia criar um sistema bancário paralelo fora do controle das entidades reguladoras, adverte o presidente Associação dos Banqueiros Suíços, Patrick Odier.

Na semana passada, o presidente dos EUA, Barack Obama, apresentou suas propostas sobre a futura fiscalização do sistema bancário, cuja aplicação Odier considera problemática.

A chamada regra Volcker dividiria as atividades dos grandes bancos e proibiria as instituições financeiras de fazer operações com seu próprio dinheiro, para proteger as economias nacionais e os depósitos dos correntistas comuns.

Durante a reunião do Fórum Econômico Mundial em Davos, Patrick Odier adertiu em entrevista à swissinfo.ch que a proibição das operações próprias em determinados setores poderia levar certos operadores a fazer essas atividades às escondidas.

Ele também defendeu os grandes bancos – rotulados por alguns como “too big to fail” (grandes demais para falir) – como essenciais para a prestação de serviços financeiros transnacionais.

swissinfo.ch: Qual a sua avaliação das propostas da regra Volcker?
Patrick Odier: As diretrizes propostas pelo presidente Obama são realmente muito interessantes, mas algumas seriam difíceis de implementar e executar. Isto se aplica particularmente à separação das atividades [a proibição das operações com dinheiro próprio e o envolvimento com fundos de hedge].

Precisamos garantir que as operações com dinheiro próprio não se tornem o único ponto de atenção para a gestão dos bancos. A diversificação de serviços [engajamento em atividades múltiplas] garante que os bancos não estejam à mercê de uma única área durante um tempo muito difícil.

Operar com o capital próprio de um banco deve ter o objetivo de agregar valor ao cliente do banco e não só ao trader [na forma de bônus].

swissinfo.ch: Podem tais novas regras resultar em consequências adversas? P.O.: Se a regulação foca demais em áreas específicas, você corre o risco de empurrar as pessoas para fora da área regulamentada em direção a novas indústrias sub-regulamentadas, onde seria muito mais difícil de controlar o resultado dessas atividades.

Se eu fosse um excelente trader (operador de mercado financeiro) em matéria de operações por conta própria e visse que está se tornando extremamente difícil fazer isso em um banco, eu poderia participar de uma nova empresa fora do âmbito da regulamentação bancária, justamente para poder exercer a minha profissão de uma forma flexível. Esse é um argumento para manter essa atividade tão próxima quanto possível do âmbito do setor bancário.

swissinfo.ch: Uma consequência dessa regulamentação pode ser a quebra dos bancos maiores, que são considerados grandes demais para falir. Este é um objetivo sensato?
P.O.: Bancos universais têm a responsabilidade de garantir que o crédito esteja disponível para além das fronteiras nacionais, de modo que facilite os fluxos de capitais em todo o mundo.

Os bancos suíços têm geralmente aplicado o princípio do banco universal com sucesso, e devemos proteger esse modelo enquanto for possível gerenciá-lo de forma prudente e eficiente.

swissinfo.ch: Poderemos ver operações bancárias estrangeiras se mudar para a Suíça para fugir às regras draconianas em outras partes do mundo?
P.O.: Eu não penso que atrairíamos instituições estrangeiras por essa razão. Mas atrairíamos as mais qualificadas porque os nossos regulamentos são avançados. Acreditamos que uma regulação forte, coerente e bem equilibrada é uma vantagem competitiva.

O foco da regulamentação deveria ser sobre o reforço das exigências de capitalização [reservas de capital para o caso de perdas]. A regulamentação do mercado financeiro suíço (“swiss finish”) representa mais um dispositivo de segurança das medidas anticíclicas. Isto aponta claramente na direção certa.

swissinfo.ch: Qual é a importância de ter um nível de igualdade na regulação global?
P.O.: Os reguladores desenvolveram um diálogo internacional muito mais coerente, mas é normal que isso leve tempo. Nenhuma instituição quer ser tratada em desvantagem, por isso todos os grandes bancos esperam igualdade de condições nas regras.

[O importante é que] o raciocínio por trás da exigência da base de capital próprio seja aplicado da mesma forma para nós como para o resto do mundo. No caso de unwinding [desfazer e
reprocessar a compensação de um banco que opera em diferentes países], precisamos de um mecanismo que assegure que cada país assuma sua parcela justa de responsabilidade.

swissinfo.ch: Como o WEF ajuda a coordenar a regulação global?
P.O.: É muito importante poder desenvolver um diálogo com os políticos de diferentes países. Também é importante que os políticos entendam que os banqueiros não estão tentando proteger o que fizeram [no passado]. E é importante que os banqueiros ouçam o que o público tem a dizer sobre eles.

O que eu temo é que o público tome como certo que os bancos não sabem o que estão fazendo – é claro que eles entendem do que fazem. Só que eles precisam comunicar isso e também que eles querem mudar.

Matthew Allen, em Davos, swissinfo.ch
(Adaptação: Geraldo Hoffmann)

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