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Evangélicos e Islã à conquista

Missa na igreja de St. Josef em Zurique: enquanto os bancos se esvaziam, outras religiões se expandem. Keystone

O Censo revela: o número de católicos e protestantes na Suíça caiu de 95% para 75% da população entre 1970 e 2000. Ao mesmo tempo: país tem cada vez mais muçulmanos e membros de igrejas evangélicas.

Brasileiros como o pastor Renato Souza dão exemplo: em apenas sete anos, o carioca já abriu cinco igrejas na Suíça.

Os anúncios sãos discretos e podem ser encontrados em jornais de comunidade brasileira na Suíça ou pregados nas estações de trem. Títulos como “Se você precisa de ajuda espiritual, visite a Igreja Evangélica de Zurique” ou “Escute a palavra de Deus em português” chamam a atenção dos leitores, sobretudo daqueles que se sentem sós.

Uma revolução silenciosa está ocorrendo no campo espiritual helvético. As duas religiões majoritárias na Suíça – o protestantismo reformado e o catolicismo – estão perdendo espaço, enquanto o islamismo ou novas religiões ganham cada vez mais fiéis.

Em 2000, protestantes e católicos representavam respectivamente 33% e 41,8% da população, ou seja, 75% do total. Em 1970, essa proporção chegava a 95%. Esses são alguns dos resultados de uma pesquisa intitulada “O cenário religioso na Suíça”, e publicada hoje pelo Departamento Federal de Estatísticas.

Cada vez mais muçulmanos

Os grupos religiosos minoritários estão crescendo. Dentre eles os muçulmanos são o mais importante, representando 4,3% da população, contra 2,2% em 1990. O crescimento da população islâmica é forte nas grandes cidades e nos cantões de língua alemã.

Essa comunidade compreende a maior proporção de estrangeiros (88,3%) do país. Estes são proveniente, em grande parte, dos países da ex-Iugoslávia (56,4%) e da Turquia (20,2%). Os muçulmanos são também o grupo religioso mais jovem da Suíça, sendo ainda composto por uma maioria de homens, mesmo se a proporção de mulheres passou de 36,4% para 45,4% entre 1990 e 2000.

A adaptação lingüística dos muçulmanos tem melhorado nos últimos anos: em 1970, somente 10,5% deles declararam um dos idiomas nacionais (francês, alemão, italiano ou reto-romano) como sua língua principal, contra 47,6% hoje em dia. Por outro lado, a integração no mercado de trabalho continua ruim, sobretudo pelo fato de muitos deles disporem de níveis baixos de educação.

Quanto a outros grupos cristãos, incluindo as igrejas evangélicas livres, os Testemunhos de Jeová, a Igreja neo-apostólica, os católicos-cristãos ou os cristãos-ortodoxos, estes também estão em ascensão e já representam 4,4% da população.

O número de judeus na Suíça continuou, por outro lado, estável. Eles totalizam 0,2% da população e vivem em grande parte em centros urbanos como Genebra e Zurique (42%). O nível de educação também é mais elevado do que em outros grupos religiosos: 42,7% dos judeus têm nível superior, enquanto que a média suíça é de apenas 19,2%.

Ateus

Outro fenômeno observado na análise dos dados recolhidos pelo censo 2000 está relacionado aos ateus ou pessoas sem religião declarada. Se em 1970 seu número era apenas marginal, hoje em dia 11,1% da população se encontra nessa situação.

Nas cidades com mais de 100 mil habitantes, sua proporção aumenta para 20%, enquanto que em cantões rurais como Uri, Obwalden, Appenzell Innerrhoden ou Schwyz, os ateus não são mais do que 5% do total.

Outro dado interessante diz respeito aos casais: em 1970, 13,3% dos casais eram mistos (católicos e protestantes). Trinta anos depois, esse número aumentou para 17%.

Por outro lado, no caso dos membros de igrejas livres, muçulmanos ou hindus, o número de relacionamentos mistos é bem mais reduzido. Além disso, um quinto dos casais mistos não passa sua religião para as crianças. Observação: desde 1970 esse grupo mais do que dobrou.

O estudo “O cenário religioso na Suíça” foi encomendado pelo governo suíço para a Faculdade de Estudos Sociais de Lausanne.

Evangélicos brasileiros se expandem

O brasileiro Renato Souza é um dos exemplos da revolução espiritual vivida na Suíça nos últimos anos. Assim como outros líderes, ele aproveita a procura crescente no país por novas alternativas às religiões estabelecidas. Se em 1990, apenas 0,7% da população declarava pertencer às novas religiões, dez anos depois esse número passou para 7,1% da população.

O pastor dessa igreja protestante criada no Rio de Janeiro, a “Comunidade Internacional da Zona Sul”, chegou am agosto de 1997 na Suíça acompanhado apenas pela esposa e filhos. Sua principal missão era abertura de novos cultos no país.

Nos seus últimos sete anos de pregação, sua igreja já tem quatro sedes espalhadas pela Suíça e uma em Constância, uma cidade fronteiriça alemã. Seus cultos em português, espanhol e alemão reúnem semanalmente até 400 fiéis. Eles vêm não apenas da comunidade brasileira, mas também de outros países latino-americanos, africanos e, de forma crescente, da própria Suíça.

“Os fiéis suíços descobrem nossa igreja através de pessoas próximas como os amigos ou a esposa”, explica Souza.

A igreja do pastor foi rebatizada na Suíça de “Comunidade Internacional Evangélica”. Assim como na casa-matriz no Brasil, ela oferece missas emotivas, com cantoria, dança e muita eloqüência no palco, com críticas ao demônio e louvor a Jesus Cristo. Para ajudar na catequização, o pastor Renato Souza já dispõe de “30 obreiros”, sendo que outros estão sendo formados no momento.

Samba evangélico

Uma explicação para o sucesso das novas igrejas evangélicas está na sua versatilidade. A abordagem de novos fiéis pode se dar em qualquer lugar, até mesmo em festas populares.

Uma delas é a “Street Parade”, uma das maiores festas de rua de Zurique, cujas ruas chegam a abrigar no momento até mais de um milhão de fanáticos pela música eletrônica.

Na sua última versão no verão de 2004, membros da Comunidade Internacional Evangélica colocaram pela terceira vez nas ruas o seu bloco autodenominado “Samba-Gospler”. Mais de 500 pessoas sambaram e batucaram ritmos brasileiros, trazendo nos seus corpos camisetas com inscrições como “Jesus te ama” ou “Não às drogas”.

No próximo ano eles prometeram uma participação ainda maior.

swissinfo, Alexander Thoele

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