
Existe uma Casa Suíça-Brasileira no Ceará

A vontade de conhecer o mundo, o curso de técnico em enfermagem, dois mil dólares no bolso e algumas roupas na mala.
Era a bagagem trazida pelo jovem suíço Jürg Adrian Bryner quando chegou pela primeira vez na então aldeia de pescadores Jericoacoara (Jeri) na costa oeste do Ceará, Brasil, em 1985.
Desde essa época ele vive entre Jeri, hoje cidade turística, e a Suíça. Construiu a Casa Suíça Brasileira, uma pousada familiar onde turistas do mundo inteiro são bem-vindos.
“Eu tinha um amigo brasileiro em Fortaleza. Depois que terminei meus estudos queria viajar antes de entrar definitivamente na vida profissional. Quando cheguei no Ceará ouvi falar dos hippies que viviam com pescadores em Jericoacoara. Naquele tempo as estradas que ligavam a capital ao resto do estado eram muito precárias. Por isso havia uma situação de isolamento. Morei com os pescadores e o dinheiro que trouxe foi suficiente para sobreviver um ano”, afirma Jürg Adrian Bryner.
Entre o Brasil e a Suíça
Depois da estadia na aldeia, onde não contava com nenhum tipo de conforto como energia elétrica, água encanada ou instalações sanitárias, Adrian retornou à Suíça com a intenção de juntar dinheiro e voltar para Jeri. Permaneceu alguns anos entre idas e vindas Brasil-Suíça. Em 1988 comprou um terreno na aldeia, perto da praia, um lote cheio de mato. Nesse período recebeu a visita da mãe que o aconselhou a voltar para casa, devido à falta de infra-estrutura local e as dificuldades no desenvolvimento de uma atividade econômica.
No início dos anos 90 Adrian casou-se com uma brasileira, com quem teve três filhas. Sua principal fonte de renda era o transporte de material de construção em uma pick-up, assim como, nos finais de semana, o transporte de jogadores de futebol de Jeri para campeonatos em cidades vizinhas.
Em 1994, devido às dificuldades financeiras, mudou-se com a família para a Suíça, onde permaneceram um ano e meio. “Durante o verão corria tudo bem, mas sofríamos muito no inverno. Além disso, sentíamos saudades da vida no Brasil”, conta. Sua casa em Jeri foi uma das primeiras a ter instalações sanitárias. Com a chegada do turismo pessoas que vinham a Jericoacoara procuravam locais para se hospedarem. Chegavam à casa de Adrian para perguntar por estadia. A partir daí teve a idéia de construir uma pousada, finalmente pôde ter um negócio próprio para o sustento da família.
Tranqüilidade e turismo
“Quando vim morar aqui as casas não tinham fechaduras. Por diversas vezes plantei coqueiros e outras plantas que geralmente eram devoradas durante a noite pelos jegues e vacas que andam soltos na região. Na terceira vez que eles destruíram o jardim sentei na varanda e chorei de raiva. Com o tempo fiz uma cerca melhor e coloquei um portão. Até hoje, quando durante a noite esquecemos de fechar o portão, há um jegue que come a grama e gosta de beber água da piscina”, afirma Adrian sorrindo.
Segundo o dono da pousada a Casa Suíca Brasileira, que tem sete chalés, jardim e piscina, recebeu esse nome para expressar as características mais conhecidas dos dois países. A qualidade dos produtos suíços assim como a hospitalidade brasileira. De acordo com seus hóspedes o nome realmente influencia na escolha da pousada, pois sempre imaginam que um negócio suíço na praia simboliza seriedade e confiabilidade em um ambiente tropical descontraído.
Turistas do mundo inteiro visitam Jericoacoara, que já foi considerada pelo Washington Post como uma das dez praias mais belas do mundo. Entre os hóspedes de lugares mais distantes que já estiveram na Casa Suíça Brasileira estão alguns turistas do Reino do Butão, um pequeno país situado na encosta da cordilheira do Himalaia, entre a China e a Índia. No entanto grande parte dos turistas que freqüentam Jeri são europeus ou brasileiros e têm interesse em praticar Windsurfe, Kitesurf ou simplesmente apreciar as belezas locais.
Pousadas suíças
Adrian não é o único suíço a viver em Jericoacoara. Há pelo menos mais duas outras pousadas de suíços na vila. Uma é a Pousada Atlantis, que serve cardápio suíço. A outra é a Pousada Calanda, que promove periodicamente um “luau” em noites de lua cheia. Uma festa que reúne moradores da vila e onde o proprietário, Urs, adora contar suas histórias de mochileiro ao redor do mundo.
Apesar de viver há tantos anos no Brasil e agora ter uma vida estável Adrian sente falta da Suíça e de seu trabalho como enfermeiro na área de psiquiatria. “Ainda tenho muitos contatos em uma clínica psiquiátrica na Suíça e ultimamente tenho pensado em passar o inverno no Brasil e o verão na Suíça. Acho que seria muito bom para mim poder voltar a viver no meu país natal. Os pacientes também se sentem felizes com a minha presença, pois estou sempre de bom humor. Com a experiência humana que adquiri no Brasil, que tem uma maior tolerância comportamental do diferente, tenho habilidade em lidar com os considerados doentes psíquicos na Suíça.”
A grande diferença cultural entre o Brasil e a Suíça são os pólos que movimentam a vida de Adrian. Talvez por isso tem sempre o portão da Casa Suíça Brasileira aberto aos visitantes e nunca deixou que as portas suíças se fechassem para o dia em que decidisse voltar a viver em casa.
Gleice Mere, Jericoacoara, Ceará, Brasil
Existem pelo menos três pousadas suíças em Jericoacoara, litoral oeste do Ceará. A praia de Jericoacoara já foi considerada pela imprensa norte-americana como uma das mais bonitas do mundo.
Jürg Adrian Bryner, dono da pousada Casa Suíça-Brasileira, chegou a Jericoacara pela primeira vez em 1985, quando era apenas uma aldeia de pescadores, sem qualquer infra-estrutura.
Também há pelo menos mais duas pousadas de suíços no litoral baiano.

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