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Hermann Hesse adorava o Ticino

Hermann Hesse admira o lago de Lugano e arredores (foto: herdeiros de Hesse, Zurich) hessemontagnola.ch

Hermann Hesse é uma verdadeira instituição. O Prêmio Nobel de Literatura continua sendo o escritor de língua alemã mais lido no mundo.

Em 1919, ao chegar ao cantão do Ticino, Hesse não passava de “um alemão esquisito de chapéu de palha”.

Os traços do autor de Siddharta nos levam a Montagnola, esplêndida localidade da Collina d’Oro, que domina Lugano, no sul da Suíça.

Essa comuna ticinesa foi o último refúgio de Hermann Hesse de 1919 a 1942. Foi ali que se tornou célebre.

“Aqui, escreve o autor, o sol é mais forte e mais quente, as montanhas são mais vermelhas, aqui crescem as castanheiras, a vinha, amendoeiras e figueiras. Aqui as pessoas são gentis e corteses…”

Naturalizado suíço em 1924, Hermann Hesse chegou a Montagnola em 1919, aos 42 anos de idade. O escritor nunca mais saiu da Collina d’Oro onde se estabelecera definitivamente.

“Ele era fascinado pela cultura italiana, apreciava a paisagem e os ticineses, que considerava pessoas simples, pouco incômodas”, explica a swissinfo Regina Bucher, diretora do Museu Hermann Hesse.

Museu inaugurado em 1997, bem ao lado da primeira casa do escritor em Montagnola.

O rabiscador

“Eu tinha seis anos quando o encontrei pela primeira vez. Ele acabava de se instalar em Montagnola, conta Giulio Petrini, chefe do correio do vilarejo, em CD sobre a vida de Hermann Hesse no Ticino, à venda no Museu.

Com 92 anos de idade, Giulio Petrini nunca saiu do vilarejo. “E ele ainda está em plena forma”, diz Regina Bucher.

Para os garotos da região, esse estranho alemão, discreto e sonhador, que gostava tanto de pintar, principalmente ao ar livre no jardim de sua casa, era simplesmente il paciügon, ou seja, o rabiscador, em dialeto local.

Com o passar do tempo, Giulio Petrini, um dos moleques de Montagnola, tornou-se responsável pelo correio local. E Hermann Hesse tornou-se Prêmio Nobel de literatura.

“Ele era gentil e discreto, mas me dava um trabalho danado! Recebia pacotes, telegramas, e grande quantidade de cartas. Chegava mais correio para ele que para o resto do vilarejo”, conta Petrini.

Desde 1946, graças ao prêmio, Hermann Hesse fica ainda mais conhecido do grande público. O correio de Montagnola deve então comprar um novo carrinho, especialmente para levar a correspondência do escritor.

Hesse achava que devia responder a todos que lhe escrevessem. E assim redigiu mais de 35 mil cartas. Mas não gostava muito de ser o centro de atenções. No auge de glória, não hesitava em dependurar na sua porta “nenhuma visita, por favor”.

Um ilustre desconhecido

Cerca de 20 anos antes, quando ele chega à região, pouco seguro de si, pobre e marcado por uma vida difícil (divórcio e tentativa de suicídio), Hermann Hesse instala-se num modesto apartamento sem aquecimento, na magnífica Casa Camuzzi, situada à entrada de Montagnola.

“No início, ninguém o conhecia, explica Regina Bucher. Ele vendia suas aquarelas no pátio, na frente da casa, escrevia, passava horas no jardim e fazia longas caminhadas pelo vilarejo”.

Esse costume de vagabundear em paisagens ainda desconhecidas fez com que recebesse o apelido de “eterno andante”.

Um antimilitarista

Adversário declarado do nazismo, Hermann Hesse – bem como seus amigos escritores Thomas Mann e Bertolt Brecht – tomou firmemente posição contra a ascensão de Adolf Hitler ao poder, através de numerosos artigos publicados em jornais da época.

Durante a Segunda Guerra, o escritor ajudou centenas de pessoas perseguidas a deixarem a Alemanha. E acolheu muitas em sua própria casa.

Mas Hesse nunca se filiou a um partido político. “Ele recusava os dogmas e as visões preconcebidas da realidade”, realça Regina Bucher.

E, com certeza, vem dessa independência de espírito que o caracterizava o fato de ainda hoje Hermann Hesse ser um autor muito apreciado pelos jovens.

Cem milhões de exemplares

Hesse é uma personagem culta. Como é também sua obra-prima, Siddharta, história do filho de um rico brâmane, em busca da felicidade, e de um percurso não-conformista.

“Hermann Hesse soube transmitir uma mensagem universal, válida ainda hoje”, analisa a diretora do museu.

“Numa sociedade que promete tudo a qualquer um, é fácil de se perder. Precisa-se, então, saber reconhecer os próprios limites sem, no entanto, ir adiante na rota que cada um escolhe”.

Os livros de Hesse foram traduzidos em 60 idiomas e publicados em mais de 100 milhões de exemplares.

swissinfo, M.Pescia/G.d’Urso
(Traducão de Gabriel Barbosa)

Hermann Hesse é o autor de língua alemã mais lido e traduzido no mundo.
Ele passou os últimos 43 anos de sua vida em Montagnola, no cantão suíço do Ticino (sul).
Foi enterrado no cemitério da localidade, que se tornou lugar de peregrinação.

– Hermann Hesse nasceu em 2 de julho de 1877 em Calw, no sul da Alemanha.

– De 1899 a 1903, trabalhou como livreiro em Basiléia. Torna-se conhecido com a narrativa Peter Camezind.

– Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, Hesse lança-se em verdadeira cruzada pacifista. A imprensa alemã o considera um “traidor da pátria”.

– Em 1919, instala-se em Montagnola, no cantão do Ticino onde se dedica à pintura. É ali que escreve Siddharta, sua obra mais conhecida, e vários outros livros que se tornarão célebres.

– Em 1924, obtém a nacionalidade suíça.

– Em 1946, recebe o Prêmio Nobel de Literatura.

– Hermann Hesse morre em Montagnola em 9 de agosto de 1962.

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