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Suíços preferem Papa liberal

Muitos suíços não concordam com centralismo da Igreja. Keystone

Devido às tradições republicanas, muito católicos suíços vêem o Vaticano com um certo ceticismo. Na escolha do novo Papa, muitos desejam um chefe da Igreja Católica que seja mais moderno e liberal.

O único representante helvético no conclave que irá eleger o sucessor de João Paulo II é o cardeal Henri Schwery, antigo bispo de Sitten.

Não foram poucas as vezes que João Paulo II freou os católicos helvéticos no seu afã por reformas. O relacionamento entre a Suíça e o Vaticano também já viveu muitos períodos de conflito.

Uma das razões está nas diferenças políticas: enquanto a Igreja católica é regida à mão-de-ferro pelo Vaticano, a Suíça é um país de tradição republicana avesso a qualquer forma de poder centralismo.

No país a concentração do poder da Igreja na Cúria Romana é considerada por muitos fiéis como um ponto crítico no pontificado de João Paulo II. Muitos deles abandonaram a Igreja por não concordar com essa posição. Ao mesmo tempo, vozes críticas foram caladas e clérigos incômodos foram transferidos para outras regiões.

A escolha do novo Papa será determinante para os novos rumos da Igreja. Reunidos no conclave em Roma os cardeais também estarão respondendo a perguntas como: – qual será o controle da Cúria Romana sobre os bispos e seu relacionamento com os fiéis?

A opinião das bases

“Eu ficarei satisfeita se o novo Papa for menos ditatorial e se o poder, que atualmente está concentrado em Roma, for melhor distribuído entre os fiéis. A Igreja mundial e a base da Igreja católica devem ser levadas em consideração”, afirma a irmã Elia Marty. Ela é diretora de uma ordem de religiosas que atua no hospital Vitória, em Berna, onde João Paulo II se hospedou durante sua última visita à Suíça.

A religiosa não indica, porém, uma preferência. “Eu não conheço os candidatos, mas acho que o novo Papa deve ser mais jovem. Ele precisar ser dinâmico e ter um espírito aberto, o que é difícil de encontrar em alguém com mais de oitenta anos de idade”.

Na sua opinião, as janelas que foram fechadas nos últimos anos pelos conservadores, devem ser reabertas. “A Igreja deve responder as questões atuais e corresponder ao desenvolvimento da sociedade”.

Também os bispos suíços exigem um espaço no processo decisório para as igrejas locais e mais influência para a conferência nacional de bispos.

Um objeto de conflito com o falecido João Paulo II foi o papel dos laicos e do ecumenismo. Outro conflito foi também a disputa com a Cúria Romana pela denominação de Wolfgang Haase como bispo de Chur, uma decisão muito criticada pelos suíços.

Voto suíço no conclave

Até agora, dois representantes conhecidos da Igreja católica no país indicaram seus candidatos preferidos. Bernard Genoud, bispo de Lausanne, Genebra e Friburgo, daria seu voto ao cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena.

Bernhard Trauffer, o vicário-geral da diocese da Basiléia, gostaria de ver um representante da América Latina no Vaticano. “Oscar Andrés Rodriguez Maradiaga, 62 anos e arcebispo de Tegucigalpa em Honduras, transmite simpatia e tem muito carisma”. Ele acredita que um não-europeu como sucessor do falecido Papa “seria um grande motivo de alegria”.

O único suíço a fazer parte do conclave é o cardeal Henri Schwery. Apesar das especulações sobre seu favorito, o clérigo não quis revelar seu voto antes da viagem a Roma. “Ainda não decidi, mas irei escolher o candidato com mais experiência no trabalho pastoral”, explica o clérigo. Ele explica que dificilmente teria a mesma opinião dos membros da Cúria Romana, clérigos que muitas vezes passaram suas carreiras na burocracia do Vaticano.

Poucas chances para conservador

O teólogo suíço Hans Küng, que abandonou a batina depois de conflitos ideológicos com João Paulo II, deseja um Papa que tenha “coragem de iniciar um novo começo para a Igreja Católica”. Nesse sentido, as questões mais importantes são as descentralizações, a falta de vocações, o celibato, a participação de laicos e de mulheres nas decisões da Igreja.

Para Küng, as chances de um cardeal conservador são mínimas no atual conclave. “Muitos membros da Cúria Romana também consideram que vinte e cinco anos de estagnação através da dupla Wojtyla e Ratzinger já foram suficientes”.

Jovem, com não mais do que 60

A população suíça também deseja um Papa reformador. Como mostram as atuais pesquisas, três quartos dos católicos desejam um Papa que defenda posições mais modernas do que seu predecessor.

A maioria apóia o fim do celibato e a ordenação de mulheres. Os suíços também desejam um Papa mais novo, com não mais do que sessenta anos.

Por outro lado, a política exterior seguida por João Paulo II deve continuar. Cerca de 90% dos católicos entrevistados acreditam que o novo Papa precisa atuar na política internacional e, por exemplo, protestar contra qualquer forma de guerra.

swissinfo, Nicole Aeby
traduzido por Alexander Thoele

O conclave, que se realiza a partir de 18 de abril no Vaticano, é fechado para o público e a imprensa.
Conclave é a reunião do sacro colégio de cardeais com menos de 80 anos, convocado para eleger um novo pontífice.
Atualmente 115 cardeais têm direito a votar o sucessor do Papa João Paulo II, incluindo um suíço: o cardeal Henri Schwery.
A votação ocorre duas vezes por dia na Capela Sistina, um turno pela manhã e outro pela tarde, até que um candidato alcance a maioria de dois terços dos votos.
Se na trigésima vez nenhum candidato for escolhido, ele é decidido através da maioria simples.
Qualquer católico poder ser candidatos a Papa, porém desde 1378 apenas cardeais são escolhidos.

O Concílio Ecumênico Vaticano II é o mais importante ponto de orientação para a Igreja.

Ele foi convocado no dia 11 de outubro de 1962, pelo Papa João XXIII. Ocorreram quatro sessões, uma em cada ano. Seu encerramento deu-se a 8 de dezembro de 1965, pelo Papa Paulo VI.

Duas das mais importantes decisões tomadas na época foram reformas na liturgia e na Cúria Romana.

Nelas foram fixados os princípios de colegialidade, o governo da Igreja, exercido em comum pela totalidade dos bispos. Este reforçou a posição dos bispos em relação ao poder central, ou seja, a Cúria Romana.

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