The Swiss voice in the world since 1935

Honduras vota para guinar à direita ou consolidar a esquerda no poder

afp_tickers

Os hondurenhos decidirão no próximo domingo se a esquerda continuará no governo ou se o país mudará para a direita, em eleições de desfecho incerto cercadas de ceticismo, pois nenhuma das duas forças resolveu problemas históricos de violência, pobreza e corrupção.

Após uma campanha repleta de acusações sobre planos de fraude, cerca de 6,5 milhões de hondurenhos poderão votar para escolher presidente, deputados e prefeitos para os próximos quatro anos.

A tensão é maior na disputa para substituir a presidente de esquerda Xiomara Castro, em uma eleição de turno único e sem um favorito claro entre os três candidatos com chances de vitória (de um total de cinco), segundo pesquisas.

O partido de esquerda Liberdade e Refundação (Libre) busca manter o poder com a advogada Rixi Moncada, que enfrenta dois candidatos de direita, o comunicador Salvador Nasralla do Partido Liberal (PL) e o empresário Nasry Asfura do Partido Nacional (PN).

“Espero que os que perderem aceitem (a derrota) e que as coisas mudem, que haja trabalho e menos violência”, diz à AFP Martha Ramos, empregada doméstica de 50 anos, de Nueva Suyapa, um bairro humilde de Tegucigalpa.

Seu apelo se repete em cada eleição. Cerca de 60% dos 11 milhões de habitantes de Honduras vivem na pobreza e sofrem com o impacto dos narcotraficantes e das gangues Barrio 18 e Mara Salvatrucha.

No domingo “se define a capacidade de garantir estabilidade política e social em um país polarizado, com desconfiança institucional e alta corrupção”, opina Valeria Vásquez, da consultora Control Risks.

– Democracia em risco –

Honduras tem um histórico de eleições questionadas e golpes de Estado. O último, em 2009, derrubou o presidente Manuel Zelaya, esposo da presidente Xiomara Castro, e ainda divide o país.

A esquerdista Moncada qualifica seus rivais de direita como “fantoches da oligarquia golpista”. Nasralla e Asfura a chamam de “comunista” e afirmam que com ela continuará governando a família Zelaya-Castro, aliada da Venezuela e Cuba, e a acusam de nepotismo.

As eleições serão realizadas em meio a uma forte tensão sem árbitro independente, pois os três partidos dividem o poder no conselho e tribunal eleitorais.

Direita e esquerda se acusam de preparar uma fraude, cenário diante do qual os Estados Unidos advertiram que agiriam com “rapidez e firmeza”. A OEA e a União Europeia enviaram observadores e apelaram para o respeito ao voto.

Somaram-se à desconfiança as Forças Armadas, cuja cúpula, próxima a Castro e Zelaya, pediu as atas eleitorais para verificar a contagem dos votos.

O pedido foi rejeitado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), mas gera temor de uma interferência a favor do governo.

O Congresso está dominado pela oposição, embora com uma mesa diretora governista eleita em uma votação questionada, o que o mantém praticamente paralisado.

– O impasse –

Em meio à retórica incendiária, os candidatos mal abordaram os temas cruciais: Asfura prometeu atrair investimentos, Nasralla impulsionar a produção, e Moncada impor impostos aos ricos.

Os dois candidatos de direita manifestaram sua intenção de se aproximar de Taiwan, após a presidente restabelecer relações com a China em 2023.

“O país precisa sair do impasse. Mas a corrupção e as tensões entre as elites dos partidos não permitem que vejam o que o hondurenho precisa”, opina Manuel Orozco, analista do Diálogo Interamericano.

Johana Rodríguez, cabeleireira de 47 anos, pensa que economia e segurança são fundamentais “para que as pessoas não precisem emigrar” para os Estados Unidos.

Mas a migração hoje não é alternativa. O governo de Donald Trump deportou este ano cerca de 27.000 hondurenhos e revogou o status de proteção temporária de 51.000, um duro golpe para um país que em 2024 recebeu 10 bilhões de dólares (53,9 bilhões de reais) em remessas (27% do PIB).

Embora os assassinatos tenham diminuído com um estado de exceção imposto por Castro – semelhante ao de El Salvador -, Honduras ainda é um dos países mais violentos do continente. Registra 26,8 homicídios por cada 100.000 habitantes e persistem as extorsões das gangues.

Os três partidos estão envolvidos em denúncias de vínculos com o narcotráfico. O ex-presidente Juan Orlando Hernández, acusado de transformar o país em um narco-Estado, está preso por narcotráfico nos Estados Unidos.

As urnas estarão abertas por 10 horas a partir das 07h locais (10h em Brasília). O CNE prevê divulgar os primeiros resultados na mesma noite.

bur/mis/lbc/dd-jc 

Mais lidos

Os mais discutidos

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR