Indígenas bloqueiam rodovias em protesto contra presidente da Guatelama
Milhares de indígenas maias bloquearam ao menos seis importantes trechos de rodovias no oeste da Guatemala nesta segunda-feira (30) na mais recente manifestação para exigir a renúncia do presidente Alejandro Giammattei pela suposta má gestão de seu governo.
“O presidente é muito arrogante em sua forma de se expressar e no Congresso eles são guiados mais por suas bancadas e suas necessidades, (mas) não vão de acordo com as necessidades de nosso país”, disse Santiago Cux, um dos líderes dos protestos, a uma rádio local.
O Congresso, dominado por forças pró-governo, teve que anular um polêmico orçamento para o país para 2021, o maior da história, em meio a protestos que acusavam a iniciativa de beneficiar os setores empresariais em detrimento do financiamento da saúde e o combate à pobreza.
As manifestações continuaram, com pedidos pela renúncia do presidente, também criticado pela má gestão da pandemia de covid-19.
Cux garantiu que o apelo foi apoiado pelas 83 comunidades do distrito de Sololá para “fazer com que o governo central e os deputados saibam que o que eles vêm realizando com o orçamento de 2021 deixa muito a desejar”.
Sololá, a oeste, é um distrito com mais de meio milhão de habitantes onde convivem três povoados maias, local também do turístico e paradisíaco Lago Atitlán.
“Que todos se levantem e que ninguém fique para trás, por um Estado com democracia comunitária, representativa e plurinacional. O poder é do povo”, dizia um comunicado do distrito indígena de Sololá.
De acordo com Cux, centros comerciais e lojas de bairro em Sololá foram fechadas, embora farmácias estivessem funcionando.
O porta-voz da Unidade de Execução de Conservação de Estradas do Estado, Juan Carlos Aquino, disse aos jornalistas que quatro trechos da Rodovia Interamericana estão fechados por indígenas, com pedras ou veículos pesados. Moradores próximos de outras duas comunidades se juntaram ao protesto.
Assim como os protestos recentes dos últimos dois finais de semana na capital, os indígenas exigem a “limpeza” do Congresso, a renúncia do Ministro de Interiores, Gendri Reyes, da Procuradora-Geral da República, Consuelo Porras, e do diretor da Polícia, José Tzubán.
– Marginalizados do diálogo –
Seus pedidos foram formulados por meio de uma carta aberta dirigida ao presidente Giammattei, na qual se queixavam de sua “falta de resposta” aos pedidos de reconhecimento dos direitos dos povos originários.
A vencedora do Prêmio Nobel da Paz, a guatemalteca Rigoberta Menchú, criticou há poucos dias que o governo não incluiu os indígenas no diálogo convocado para resolver a crise que o país enfrenta.
Estabelecidos principalmente no oeste, os indígenas representam 43% dos quase 17 milhões de habitantes da Guatemala, mas costumam se queixar por serem discriminados e marginalizados. Em algumas comunidades, a pobreza ultrapassa 80%, segundo números oficiais.
Além disso, a desnutrição crônica está concentrada nos povos indígenas, afetando quase 50% das crianças abaixo de cinco anos, a maior taxa da América Latina.
As manifestações pedindo a renúncia de Giammattei – um político conservador de direita que assumiu o poder em janeiro – começaram no sábado, 21 de novembro, na praça localizada em frente à antiga sede do governo da capital. Embora os protestos tenham começado pacificamente, vários escritórios do Parlamento foram queimados.
Os opositores responsabilizam Giammattei pela falta de transparência na elaboração do orçamento do país para 2021, que logo foi anulado devido às demandas dos cidadãos.
Segundo eles, o orçamento não atendeu a problemas como a pobreza, que atinge quase 60% dos 17 milhões de cidadãos do país.
Também acusam o presidente, médico de profissão, de gerenciar de forma inadequada a pandemia do novo coronavírus, que até esta segunda-feira tinha 4.171 mortes e 122.062 casos de infecção registrados no país.
No sábado passado, milhares de guatemaltecos retomaram os protestos. Um grupo de pessoas com os rostos cobertos ateou fogo a um ônibus. O ministro Reyes garantiu que foi “um ato totalmente planejado e financiado por algum grupo de pessoas que tenta desestabilizar a ordem institucional do país”.
Para o advogado de Direitos Humanos, Jordán Rodas, o governo tenta “criminalizar” os protestos, usando como argumento atos de violência ocorridos fora das manifestações.