Iraque elege novo Parlamento em momento crucial para a região
Os iraquianos votaram, nesta terça-feira (11), para eleger um novo Parlamento em um momento crucial para o país e para a região, em eleições acompanhadas de perto pelo Irã e pelos Estados Unidos.
O Iraque desfrutou de uma estabilidade incomum nos últimos anos, enquanto tenta superar décadas de guerra e repressão sob o regime de Saddam Hussein, deposto por uma invasão liderada pelos Estados Unidos que gerou danos ao país.
Esta nação, de 46 milhões de habitantes, sofre com infraestruturas e serviços públicos precários, além de uma corrupção endêmica.
Muitos iraquianos perderam a fé na política e veem as eleições como uma farsa que beneficia apenas as elites e as potências regionais. Os eleitores escolherão os candidatos que ocuparão as 329 cadeiras do Parlamento.
Não há novas lideranças no cenário político: os representantes tradicionais das comunidades xiita, sunita e curda permanecem na linha de frente.
“A cada quatro anos, a história se repete. Não vemos rostos jovens ou novas energias” capazes de “promover mudanças”, lamentou o estudante universitário Al Hassan Yasin.
As urnas fecharam às 18h00 (12h00 no horário de Brasília) e os resultados preliminares devem ser divulgados cerca de 24 horas depois.
Um indicador importante pode ser a taxa de participação, mas a Comissão Eleitoral ainda não divulgou dados sobre o número de eleitores.
Minutos após a abertura das seções eleitorais, diversos líderes políticos já haviam votado no luxuoso Hotel Al Rasheed, em Bagdá. Porém, quatro horas depois, jornalistas da AFP observaram uma baixa participação em várias cidades.
– Boicote –
Em Bagdá, as ruas adornadas com cartazes eleitorais estavam praticamente desertas, com exceção da presença de agentes de segurança, embora houvesse eleitores nas seções eleitorais em alguns bairros.
Mais de 21 milhões de pessoas estão aptas a votar para as 329 cadeiras em disputa, mas há receios de que a participação seja menor do que os 41% alcançados nas eleições de 2021.
Desde a invasão de 2003 pelas forças lideradas pelos Estados Unidos – que depuseram Hussein, um muçulmano sunita – a maioria xiita do Iraque, há muito oprimida, permanece no poder, e grande parte dos partidos políticos mantém laços com o Irã.
Por convenção, desde a invasão, um muçulmano xiita ocupa o cargo de primeiro-ministro e um muçulmano sunita o de presidente do Parlamento, enquanto a Presidência, em grande parte cerimonial, é ocupada por um curdo.
As eleições são marcadas pela ausência do influente clérigo xiita Moqtada al Sadr, que instou sua congregação a boicotar a votação, o que poderia reduzir ainda mais a participação.
Sadr acusou a classe política de ser “corrupta” e de se recusar a passar por uma reforma. Um membro de seu círculo íntimo convocou seus milhões de seguidores, na segunda-feira, a ficarem em casa e fazerem do dia da eleição “um dia em família”.
“Por amor e obediência, boicotarei a eleição, seguindo as ordens de Moqtada al Sadr”, disse Hatem Kazem, de 28 anos, que fechou sua loja e planejava tirar o dia de folga.
“Estamos boicotando para promover mudanças”, afirmou. “Não temos bons hospitais ou escolas. Tudo o que queremos é ser como outros países”.
Apesar do ceticismo, mais de 7.740 candidatos, quase um terço deles mulheres, concorrem a vagas no Parlamento. Apenas 75 candidatos independentes estão na disputa, sob uma lei eleitoral que, segundo críticos, favorece os partidos maiores.
O primeiro-ministro xiita, Mohammad Shia al Sudani, que busca um segundo mandato após governar com base na estabilidade e reconstrução, provavelmente obterá uma vitória significativa.
Sudani chegou ao poder em 2022 por meio de uma aliança governista de partidos e facções xiitas ligados ao Irã. Ele destacou seu “sucesso” em manter o Iraque relativamente ileso da instabilidade no Oriente Médio.
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