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Líder do PKK pede dissolução do grupo curdo em declaração histórica

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O fundador do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), Abdullah Öcalan, preso na Turquia, pediu, nesta quinta-feira (27), que o movimento deponha as armas e se dissolva, em uma declaração histórica lida em Istambul.

“Todos os grupos devem depor as armas, e o PKK deve se dissolver”, ordenou Öcalan em uma declaração redigida em sua cela na ilha-prisão de Imrali, onde está em regime de isolamento desde 1999.

Seu mensagem, que era aguardada há semanas, foi lida em curdo e em turco em uma sala lotada em um hotel de Istambul, sob uma grande foto tirada nesta mesma manhã, mostrando Öcalan com cabelo grisalho, diante de uma multidão de jornalistas e das “Mães de Sábado”, mulheres curdas que se manifestam toda semana por seus familiares desaparecidos pelas mãos das autoridades.

O chamado ocorre quatro meses depois de um aceno de Ancara ao líder histórico do PKK, grupo considerado terrorista pela Turquia e por seus aliados, e que tem liderado por décadas uma insurgência contra o Estado turco, a qual custou dezenas de milhares de vidas.

Öcalan, de 75 anos, disse “assumir a responsabilidade histórica por este apelo”.

Em Diyarbakir, cidade de maioria curda no sudeste da Turquia, onde cerca de 3 mil pessoas haviam se reunido em uma praça para ouvir a transmissão sonora do apelo de Öcalan, alguns reagiram com aplausos, enquanto outros começaram a chorar.

– “Âmbito político” –

“O apelo de Öcalan ao PKK para que se desarme e se dissolva representa uma mudança radical. Não apenas para a Turquia, que travou uma guerra de décadas contra o grupo, mas para toda a região”, afirmou Hamish Kinnear, analista da Verisk Maplecroft.

A grande incógnita é como os combatentes, cuja cúpula militar tem sua base nas montanhas do norte do Iraque, irão receber a mensagem.

Para Boris James, historiador francês especialista na questão curda, “quando Öcalan fala sobre a autodissolução do PKK, […] ele não considera o problema curdo em uma escala regional”.

A Turquia, por sua vez, acusa o PKK de combater no nordeste da Síria, ao lado das Forças Democráticas Sírias (FDS), ao longo de sua fronteira sul.

O chefe das FDS, Mazlum Abdi, precisou que “este chamado do PKK diz respeito a ele e não às nossas forças”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou a mensagem do líder curdo como “um raio de esperança”.

Desde que Öcalan foi preso em 1999, houve várias tentativas de pôr fim ao derramamento de sangue que teve início em 1984.

A última rodada de negociações fracassou em meio à violência em 2015.

Depois disso, não houve contato até outubro, quando o principal aliado de Erdogan, o ultranacionalista Devlet Bahceli, ofereceu a Öcalan um gesto de paz, caso ele concordasse em acabar com a violência.

Em encontros anteriores com deputados pró-curdos, Öcalan já havia expressado sua “determinação” de virar a página da luta armada.

“Se as condições forem dadas, tenho o poder teórico e prático para transferir o conflito do âmbito da violência para o âmbito jurídico e político”, disse no final de outubro a um de seus interlocutores.

Fundado em 1978, o PKK, considerado um movimento “terrorista” por Ancara e pela UE, optou pela guerrilha em 1984, inicialmente para conseguir a criação de um Estado curdo. O conflito entre os guerrilheiros curdos e as forças turcas deixou mais de 40 mil mortos em quatro décadas.

Öcalan continua detido na ilha-prisão de Imrali, no mar de Mármara, ao sul de Istambul.

fo-ach/avl/meb/mb/jb/aa/jb/am

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