Lenda do reggae, Jimmy Cliff morre aos 81 anos
O jamaicano Jimmy Cliff, astro do reggae que ajudou a transformar a música da ilha em um fenômeno cultural global, morreu aos 81 anos, informou sua família nesta segunda-feira (24).
Durante mais de quatro décadas, Jimmy Cliff, nome artístico de James Chambers, escreveu e interpretou canções que uniram o reggae com o folk, o soul, o ska e o rock, com letras de protesto contra a pobreza, as injustiças e as guerras.
“É com profunda tristeza que compartilho a notícia de que meu marido, Jimmy Cliff, faleceu devido a uma convulsão em decorrência de uma pneumonia”, anunciou sua esposa, Latifa Chambers, na conta oficial do artista no Instagram. Na mensagem, ela agradeceu a “familiares, amigos, colegas artistas e companheiros de trabalho que compartilharam sua jornada com ele”.
“A todos os seus fãs ao redor do mundo, saibam que o apoio de vocês foi a força dele durante toda a carreira. Realmente apreciava cada um de seus fãs por seu amor”, afirmou.
“Será dada informação adicional mais adiante” sobre o funeral, acrescentou, em mensagem assinada também por seus filhos, Lilty e Aken.
Artista de renome internacional, Cliff foi o criador de sucessos que deram a volta ao mundo, como “Many Rivers to Cross”, “You Can Get It If You Really Want” e “Reggae Night”.
Em 2010, entrou para o Hall da Fama do Rock and Roll.
Ele é considerado a figura mais influente do reggae depois de Bob Marley (1945-1981), com quem colaborou no início de sua carreira.
“A primeira vez que gravei um disco, me deram 1 xelim”, contou Cliff ao jornal francês Le Monde em 2012. “Os Waylers (banda de Marley) tiveram mais sorte que eu no Studio One: eles lhes davam 2 libras por semana”. O xelim foi uma antiga unidade monetária britânica usada até 1971 e que equivalia à vigésima parte da libra.
– “O seu legado vive” –
Nascido em julho de 1944 em Saint James, oeste da Jamaica, em um entorno modesto, Cliff nunca deixou de se interessar pelas múltiplas influências musicais, e manteve um discurso político engajado.
“Fui inspirado pelos distúrbios de Londres [em 2011], mas também pela Primavera Árabe”, disse ao Le Monde na mesma entrevista de 2012, na qual também mencionou “as injustiças sociais, a hipocrisia religiosa e os clãs políticos”.
Ao longo dos anos, colaborou com grupos como The Class, Kool and the Gang, e artistas como Sting e Annie Lennox. Também colaborou em várias ocasiões com o cinema.
Com o sucesso do filme de 1972, “The Harder They Come”, que protagonizou inspirado em parte nas experiências de sua infância na pobreza, Cliff ficou conhecido no mundo e apresentou o reggae para um público global.
“Jimmy Cliff é um paradoxo da música jamaicana. Reconhecido desde sua época no ska, primeiro artista de reggae a assinar com [a gravadora] Island, ator e cantor (…), compositor de múltiplos sucessos mundiais, astro na América Latina e na África”, também foi “um incompreendido do público do reggae devido à sua imagem ‘comercial’, ‘popular’ e seu lado estrela muito assumido, longe do imaginário rasta” habitual.
O primeiro-ministro da Jamaica, Andrew Holness, disse que o país deve reservar um momento para prestar homenagem a Cliff, “um verdadeiro gigante cultural, cuja música levou o coração de nossa nação ao mundo”.
“Sua música animou as pessoas em tempos difíceis, inspirou gerações e ajudou a moldar o respeito global que a cultura jamaicana tem hoje”, acrescentou Holness. “Boa viagem, Jimmy Cliff. Seu legado vive em cada canto de nossa ilha e nos corações do povo jamaicano”, afirmou.
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