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Preço do cacau freia planos de crescimento da Lindt

Vista aérea de unidade industrial.
Visão externa da fábrica de beneficiamento de massa de cacau da Lindt em Olten. Lindt & Sprüngli, Switzerland/Lindt & Sprüngli, Switzerland

O grupo Lindt & Sprüngli acaba de ampliar sua fábrica de produção de massa de cacau em Olten, a um custo de 100 milhões de francos. Os altos preços do cacau podem fazer com que as novas máquinas permaneçam subutilizadas.

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Olten, um entroncamento ferroviário próximo à capital suíça Berna, é o lugar onde os carregamentos de grãos de cacau são entregues à fábrica da Lindt, para serem transformados em chocolate. Ali, os grãos são higienizados, torrados e esmagados, para formar uma massa viscosa de cacau – o ponto de partida para a produção do chocolate. E a LindtLink externo quer expandir ainda mais essas atividades.

Na sexta-feira, a empresa ampliou oficialmente sua fábrica de massa de cacau, uma expansão com custos em torno de 100 milhões de francos (cerca de 110 milhões de dólares). As obras começaram em 2021 e as instalações completas contam com novas linhas de produção, um novo compartimento de carga para massa de cacau e um laboratório de última geração.

Homem de terno e gravata
Marco Peter, que trabalha no grupo Lindt & Sprüngli desde 2014, tornou-se diretor-executivo da Lindt & Sprüngli (Suíça) em 2018. swissinfo.ch

A duplicação da capacidade de produção de massa de cacau da empresa ocorre em um momento complexo, quando os preços do produto atingem níveis recordes no mercado global. swissinfo.ch conversou com Marco Peter, diretor-executivo da Lindt & Sprüngli Suíça, para entender como a empresa pretende debelar essa crise. 

swissinfo.ch: Qual é a importância estratégica dessa expansão para o grupo Lindt & Sprüngli?

Marco Peter: Para nós, ela é muito importante. Precisamos antecipar o volume que será necessário em um futuro próximo ou em médio prazo, para que possamos sustentar o crescimento contínuo que temos.

swissinfo.ch: Em termos de tempo, os preços do cacau estão subindo bastante e recentemente até ultrapassaram a marca dos 10 mil dólares por tonelada. Não é problemático dispor de toda essa capacidade adicional, no momento em que os preços estão tão altos?

M.P: Nem sempre é possível fazer as coisas na hora certa. Quando decidimos iniciar esse projeto, há quatro anos, a situação do mercado do cacau era diferente. Sim, é possível que essa capacidade adicional possa não ser necessária em curto prazo, mas ninguém sabe o que o futuro trará.

Essa linha de produção ficará ativa por 20 a 40 anos, dependendo do quanto poderemos atualizá-la através de reformas. Em longo prazo, achamos que tomamos a decisão certa. Não se esqueça de que somos uma empresa antiga, com quase 180 anos de existência. Esperamos poder solidificar todo o grupo e a rede de produção, para que possamos ser bem-sucedidos nos próximos 180 anos.

swissinfo.ch: Lindt & Sprüngli anunciou que os preços do chocolate estão aumentando este ano e que isso vai continuar acontecendo em 2025. O que essa expansão estratégica significa para os consumidores, que agora estão enfrentando a inflação e o custo mais alto de alguns de seus produtos?

M.P: Ao investir em novas máquinas, adquirimos tecnologia moderna, com maior eficiência e segurança alimentar. No entanto, estritamente do ponto de vista do aumento da capacidade, não há uma correlação direta com o consumidor final.

swissinfo.ch: De que forma você encara essa expansão como compromisso com a Suíça na qualidade de centro e sede de seus negócios?

M.P: Nossas raízes estão na Suíça e vamos nos manter fiéis a elas. Esse investimento é um centro de convergência para nossas outras fábricas europeias de produção – na Alemanha e na Itália. Ele tem uma relevância estratégica adicional, porque podemos produzir massa de cacau fabricado na Suíça também para chocolate fabricado fora do país.

swissinfo.ch: Até o momento, a Europa continua sendo seu maior mercado, mas há muitas regulamentações em andamento, como as que tratam de desmatamento e direitos humanos. O quanto isso vai dificultar a obtenção de grãos de cacau para sua fábrica?

M.P: Com nosso Programa de Cultivo de CacauLink externo, implementado a partir de 2008, a sustentabilidade é algo de suma importância para nós há algum tempo. Podemos rastrear as origens do cacau.

Acreditamos que estamos bem preparados para as novas regulamentações, embora haja alguma incerteza sobre como o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de DesmatamentoLink externo (EUDR) será implementado em todo o setor, não apenas na Suíça ou na Europa, mas também em outros países.

Resta saber se isso terá um efeito perturbador sobre nossas fontes de cacau. Acho que a questão mais urgente no momento é o preço do cacau. 

Grupo de pessoas cortando uma faixa de inauguração
swissinfo.ch

swissinfo.ch: Luca Zaramell, diretor financeiro da Mondelez, peso pesado da confeitaria estadunidense, afirmou que espera uma correção de preços em setembro ou outubro, quando os dados da nova safra estiverem disponíveis. Você acredita que o preço do cacau vai se estabilizar em breve?

M.P: O rendimento dessa colheita será um fator importante. Ainda não se sabe se a demanda vai diminuir, mas acho que, com o aumento dos preços, a demanda vai se autorregular.

O que ainda temos, porém, é um déficit. Há cerca de dois anos, a produção foi menor do que o usual para produzir chocolate. E ainda temos que considerar o clima e as pragas. Não tenho uma bola de cristal.

Sabemos que a última vez que os preços do cacau sofreram perturbações foi na década de 1970. Foi um longo percurso de cerca de cinco anos até voltarmos ao normal.

swissinfo.ch: No caso dos chocolates, há maior fidelidade à marca por parte dos consumidores do que com relação a outros produtos. Você acha que isso pode mudar nos próximos anos, tendo em vista que os preços estão subindo?

M.P: Definitivamente. E é aí que vemos nossa chance, por termos marcas fortes e uma posição privilegiada. As pessoas já estão dispostas a pagar mais pela qualidade excelente que oferecemos.

A elevação dos preços do chocolate depende do custo da matéria-prima. Em comparação com nossos concorrentes, ocupamos uma posição boa.

Edição: Mark Livingston

Adaptação: Soraia Vilela

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