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Saída dos combustíveis fósseis bloqueia a COP30

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A eventual saída dos combustíveis fósseis bloqueia, nesta sexta-feira (21), o final da conferência climática da ONU (COP30) em Belém, com cerca de 30 países críticos ao esboço proposto pela presidência brasileira do evento, que sequer menciona o tema.

A COP da Amazônia viveu horas dramáticas na quinta-feira, com um incêndio na zona dos pavilhões nacionais, que obrigou a evacuação da sede em meio às negociações. Cerca de 20 pessoas foram intoxicadas pela fumaça.

A conferência não pode acabar “sem um mapa do caminho claro, justo e equitativo para abandonar os combustíveis fósseis no mundo”, declarou, durante coletiva de imprensa, a ministra colombiana do Ambiente, Irene Vélez, representando cerca de 30 países.

A palavra “fósseis” nem sequer aparece no texto principal apresentado nesta sexta-feira pela presidência brasileira.

“O que está em cima da mesa agora é inaceitável. E dado que estamos muito longe de onde deveríamos estar, isto pode acabar sem acordo, lamento dizê-lo”, disse o comissário europeu para o Clima, Wopke Hoekstra.

Os quase 200 países presentes nesta conferência da ONU sobre as mudanças climáticas aprovaram, há dois anos, na COP28 de Dubai, um chamado histórico para realizar uma “transição” das energias fósseis, as principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa que esquentam o clima.

Embora não estivesse previsto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs em Belém dar um passo adiante para iniciar esse processo delicado, apesar da oposição de produtores poderosos, como a Arábia Saudita, e de muitos países emergentes que são consumidores.

Os Estados Unidos, país que é o principal produtor de petróleo do mundo atualmente, nem mesmo está presente em Belém.

“Não pedimos um documento vazio, um anúncio vazio”, disse Vélez durante a coletiva de imprensa, cercada de ministros e negociadores.

A colombiana anunciou que seu país vai organizar uma conferência internacional para impulsionar o abandono dos combustíveis fósseis em 28 e 29 de abril do próximo ano em Santa Marta.

“Quem são aqueles que mais bloqueiam? Todos sabemos. São os países produtores de petróleo, logicamente. Rússia, Índia, Arábia Saudita. Mas também muitos países emergentes se unem a eles”, declarou à AFP a ministra francesa de Transição Ecológica, Monique Barbut.

“O texto não pode permanecer como está”, afirmou, por sua vez, o ministro alemão do Meio Ambiente, Carsten Schneider, em uma declaração transmitida à AFP, na qual advertiu que “as negociações serão difíceis”.

As conferências das partes (COPs) sobre as mudanças climáticas costumam ultrapassar suas datas limite.

– Uma cabeça em chamas –

Esta é a primeira COP realizada na Amazônia. O mascote do evento é o Curupira, um guardião das florestas para alguns indígenas, que exibe uma cabeleira em forma de chamas.

O recinto no chamado Parque da Cidade, construído especialmente para o evento, sofreu, na quinta-feira, um incêndio que danificou parte da zona dos pavilhões nacionais, perto da entrada. 

Essa zona estava cercada e inacessível aos visitantes, constatou a AFP nesta sexta-feira.

Muitos bombeiros inspecionavam os corredores e cantos da vasta sede da conferência, que está coberta com uma lona gigantesca, sustentada por pilares.

As autoridades brasileiras não anunciaram até o momento as causas do incêndio, que deixou um buraco no teto da lona.

Após o incêndio, a presidência brasileira do evento e a ONU pediram, em mensagem conjunta, que os delegados voltem à mesa de negociações “em um espírito de determinação e solidariedade”.

A COP30, que começou em 10 de novembro, sofreu vários incidentes.

A presidência brasileira da COP recebeu, na semana passada, uma queixa da ONU depois que um protesto indígena forçou o dispositivo de segurança para entrar no recinto.

Na carta, o chefe da ONU para o Clima, Simon Stiell, se queixou da segurança, mas também das infiltrações de água, que, segundo o governo brasileiro, foram corrigidas.

bur-jz-app/mel/mvv-jc

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