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Se o líder supremo do Irã cair, quem o substituirá?

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A queda do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, não garantiria a implantação de um regime democrático no país onde a oposição está muito dividida, afirmam os analistas.

Israel lançou em 13 de junho uma onda de bombardeios contra instalações nucleares e balísticas no Irã, mas também contra infraestruturas como a radiodifusão estatal (IRIB), o que deixa poucas dúvidas de que o objetivo é uma mudança de regime.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assegura que sabe onde Khamenei está escondido, mas a eventualidade de uma derrota do aiatolá que dirige o Irã desde a Revolução Islâmica de 1979 levanta muitas incógnitas.

Na Europa, muitos governos temem que a queda do regime iraniano tenha consequências tão negativas quanto a invasão do Iraque liderada pelos EUA em 2003 ou a intervenção da Otan na Líbia em 2011.

A queda dos regimes de Saddam Hussein no Iraque e de Muammar Gaddafi na Líbia abriram um período de anos de caos e violência em ambos os países.

“O maior erro agora seria buscar uma mudança de regime no Irã por meios militares porque isso conduziria ao caos” disse, na terça-feira, o presidente da França, Emmanuel Macron, na cúpula do G7 no Canadá.

“Alguém acredita que o que se fez no Iraque em 2003 (…) ou na Líbia há uma década foi uma boa ideia? Não!”, garantiu.

Muitos analistas acreditam que derrubar Khamenei e o governo da República Islâmica criaria um vácuo que poderiam preencher os partidários da linha dura, como a Guarda Revolucionária do Irã ou o exército.

“Os ataques de Israel parecem estar mais voltados à mudança de regime do que à não proliferação” de armas nucleares, aponta Nicole Grajewski do centro de estudos Carnegie Endowment, com sede em Washington.

“É certo que Israel está atacando mísseis balísticos e instalações militares relacionadas, mas também atacam líderes e símbolos do regime, como a televisão pública”, disse à AFP.

“Se o regime caísse, a esperança seria um governo liberal e democrático (…) No entanto, existe grande probabilidade de que outras entidades poderosas como a Guarda Revolucionária surjam como substitutos”, acrescentou.

– Sem alternativa democrática –

Reza Pahlavi, filho de Mohammad Reza Pahlavi, o xá deposto da Pérsia, é uma das principais figuras da oposição que afirma que a República Islâmica está “à beira do colapso” e que Khamenei está escondido como um “rato assustado”.

Pahlavi, que vive nos Estados Unidos, quer restabelecer a boa relação que existia entre seu pai e Israel, mas não tem apoio maioritário no Irã nem entre os exilados.

O nacionalismo de seus partidários e seus vínculos com Israel são controversos, assim como sua recusa em condenar os ataques aéreos israelenses contra o Irã.

Outro grupo de oposição é o Mujahedines do Povo (MEK, em persa), cuja líder Maryam Rajavi assegurou na quarta-feira no Parlamento Europeu que “o povo do Irã quer derrubar este regime”.

No entanto, o MEK não tem o respaldo de outros grupos da oposição e alguns iranianos olham com desconfiança seu apoio a Saddam Hussein na época da guerra Irã-Iraque.

Segundo Thomas Juneau, professor da Universidade de Ottawa, “em caso de um colapso, não existe uma alternativa democrática organizada”.

“A única alternativa, e é um dos cenários preocupantes, é um golpe de Estado da Guarda Revolucionária, ou seja, passar de uma teocracia a uma ditadura militar”, aponta o especialista.

Os analistas também advertem sobre a composição étnica complexa do Irã, com minorias curdas, árabes, balúchis e turcas, que coexistem junto à população persa.

sjw/ekf/pc/an/lm/yr

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