The Swiss voice in the world since 1935

Sem Trump, Lula abre a COP30 com apelo contra o negacionismo

afp_tickers

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo, nesta segunda-feira (10), para que se imponha uma “nova derrota para os negacionistas”, ao inaugurar a COP30, em Belém. A conferência climática da ONU é realizada pela primeira vez com a ausência dos Estados Unidos, o segundo maior contaminante mundial.

O cheiro de combustíveis fósseis que recebeu os negociadores da COP29 em Baku, no Azerbaijão, em 2024, deu lugar este ano à umidade da floresta. O objetivo da cúpula de Belém é salvar os esforços mundiais no combate ao aquecimento global.

“É o momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, disse o presidente no discurso inaugural do evento, no qual ressaltou que é “muito mais barato” combater as mudanças do clima do que travar guerras, acrescentou, em alusão aos conflitos atuais no planeta, como o da Ucrânia.

Os Estados Unidos, primeira economia mundial e segundo maior emissor de gases de efeito estufa, atrás da China, se ausentaram em Belém: o presidente americano, Donald Trump, considera o aquecimento global como a “maior fraude” da história.

Vários líderes mundiais, como o presidente francês, Emmanuel Macron, pediram na semana passada, durante uma cúpula prévia à COP, que se defenda “a ciência frente à ideologia”.

Esta será “uma das COP mais difíceis”, resumiu Bill Hare, presidente do ‘think tank’ Climate Analytics. Ele cita “o contexto geopolítico, com os Estados Unidos em modo de negação climática”.

– Conhecer a Amazônia –

A sessão plenária da COP30 começou ao ritmo da música brasileira: a ministra da Cultura, Margareth Menezes, cantou e dançou “Emoriô”, canção escrita por Gilberto Gil, ao lado de Fafá de Belém.

Lula resistiu a todas as objeções para realizar a COP em Belém, que receberá cerca de 50.000 pessoas durante o evento, apesar da falta de hotéis e da disparada de preços das acomodações. 

Sua intenção é que o mundo abra os olhos diante da Amazônia e que os participantes da COP30 mergulhem na vida de Belém, uma cidade onde os moradores usam sombrinhas para se proteger do sol pela manhã e da chuva à tarde.

A floresta amazônica, que desempenha um papel crucial no combate às mudanças climáticas pela absorção de gases do efeito estufa, sofre embates como o desmatamento e o garimpo ilegal.

Diplomaticamente, o Brasil prepara ativamente a COP30 há um ano.

Mas logisticamente, os trabalhos se estenderam até o último minuto e, nesta segunda-feira, operários retiravam as fitas de plástico do pavilhão justo a tempo da chegada das delegações.

– “Mapa do caminho” –

A maior incerteza sobre a mesa consiste em como o mundo vai reagir às últimas projeções desastrosas para o clima e, como sempre, à questão do dinheiro.

“Lamentar não é uma estratégia. Precisamos de soluções”, declarou, nesta segunda-feira, Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), que há semanas pede resultados concretos.

Como reunir as quantias necessárias para ajudar os países afetados por ciclones ou secas? O furacão Melissa, que varreu a Jamaica no mês passado, o mais violento em quase um século, é uma clara demonstração das necessidades.

Lula também propôs um “mapa do caminho” para sair progressivamente das energias fósseis, que será apresentado na terça-feira aos demais países, disse André Corrêa do Lago, presidente da COP30.

Esta promessa foi adotada na COP28, em Dubai, mas atualmente enfrenta um apoio renovado à indústria petroleira, especialmente desde a eleição de Trump. 

“Vamos conseguir um consenso [sobre energias fósseis]? É um dos mistérios da COP30”, admitiu no domingo Corrêa do Lago.

Há 30 anos, os países-membros da UNFCCC negociam para fortalecer o regime climático.

O esforço culminou com o Acordo de Paris, em 2015, que compromete o mundo a limitar o aquecimento 2° C e manter os esforços para contê-lo a 1,5° C com relação à era pré-industrial.

Mas o secretário-geral da ONU, António Guterres, agora admite que é “inevitável” que este limite seja ultrapassado em breve, e pede que seja feito o necessário para que isso dure o menor tempo possível.

Isto implica em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, principalmente as causadas pela combustão de petróleo, gás e carvão.

“O 1,5°C não é apenas um número ou um objetivo, é uma questão de sobrevivência”, disse à AFP Manjeet Dhakal, assessor do grupo de países menos desenvolvidos na COP. “Não poderemos apoiar nenhuma decisão que não inclua uma discussão sobre nosso fracasso em evitar o 1,5° C”. 

fbb-lg-app-ico/mar/mvv/aa

Mais lidos

Os mais discutidos

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR