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Paquistão: “Governo e exército estão sobrecarregados”

Centenas de milhares de desabrigados precisam de ajuda alimentar no Paquistão. AP Photo/Mohammad Sajjad

Infraestrutura destruída, água contaminada, ameaças de epidemias: a dimensão da catástrofe das enchentes é enorme e o governo não dá conta. É assim que Sher Zaman, da organização suíça de comércio justo "Step", descreve a situação em seu país.

As inundações no Paquistão deixaram um saldo de 1500 mortos e milhares de desabrigados. Centenas de milhares de pessoas foram evacuadas e precisam de ajuda alimentar.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de três milhões de paquistaneses foram atingidos pelas enchentes. Há ameaças de epidemias e fome, e o calor é insuportável.

Em entrevista à swissinfo.ch, Sher Zaman explica a difícil a situação em que se encontra seu país. Integrante da etnia pashtun da região de Peshawar, ele controla para o selo de garantia tapetes “Step”, de Basileia, as condições de trabalho dos tecelões de tapete no Paquistão e Afeganistão.

swissinfo.ch: O senhor vive em Pesawar, capital da província de Khyber Pakhtunkhwa, duramente atingida pelas inundações, e viajou pela região nos últimos dias. Como está a situação?
Sher Zaman: A infraestrutura está destruída. Em Charsada e Nowshehra, a cerca de 30 km de Peshawar, 25 pontes foram danificadas, estradas soterradas, as ligações de comunicação estão interrompidas e o transporte ferroviário parou porque os trilhos estão inundados.

Nos últimos dias não havia eletricidade e faltavam combustíveis. A maioria das pessoas perdeu suas casas. Em muitos lugares, elas ainda estão sendo inundadas. Geladeiras, televisores, roupas – tudo está estragado e perdido.

swissinfo.ch: E como está a situação da saúde pública? As organizações humanitárias temem que possa se propagar doenças como a cólera.
S.Z.: Há ameaças não só de cólera, mas também de outras doenças. Muitas pessoas sofrem de doenças intestinais e diarreia, porque a água está totalmente poluída. A água da inundação se mistura com a água potável.

Em muitos lugares, o abastecimento de água entrou em colapso. São lançadas garrafas de água potável através de pontes aéreas, mas isso não é suficiente.

swissinfo.ch: Existem abrigos emergenciais para as vítimas das enchentes?
S.Z.: Sim, em alguns lugares há barracas e outros abrigos mantidos pelo exército e por voluntários. Os atingidos são evacuados das áreas e dos povoados afetados. Acabo de visitar uma escola pública em Charsada, onde estão abrigadas 6 mil pessoas.

swissinfo.ch: As pessoas têm o que comer?
S.Z.: O governo e o exército tentam abastecer a população. Mas eles estão completamente sobrecarregados por essa imensa catástrofe.

Seis helicópteros vieram dos Estados Unidos para ajudar. Mas a população é tão numerosa que isso simplesmente não é suficiente para todos. Embaixadas de vários países também nos apoiam. No entanto, parece impossível ajudar a todos, especialmente em regiões remotas.

swissinfo.ch: Fala-se de três milhões de pessoas afetadas pelas inundações. Esse número confere?
S.Z.: O governo paquistanês falou de um milhão de atingidos, enquanto organizações não governamentais que estão nas áreas de catástrofe falam de pelo menos três milhões. E esse número ainda deverá aumentar nos próximos dias.

swissinfo.ch: Como o governo paquistanês lida com a catástrofe?
S.Z.: Nosso azar é que o governo paquistanês tem pouco know-how e está mal preparado para tal situação. Sozinho, o governo não conseguirá controlar essa situação. Há ministros, políticos, militares e várias instituições que realmente se empenham, mas o problema é enorme.

Muitas regiões só são acessíveis de helicóptero. Além disso, o governo não tem helicópteros suficientes para chegar a cada região, cidade ou casa e a cada família carente.

O resultado é que as pessoas estão cada vez mais frustradas e reclamam do governo. Isso eu posso entender.

swissinfo.ch: Então, o Paquistão precisa urgentemente de ajuda internacional?
S.Z.: Sim, mas o estranho é que até agora ouvi pouco das grandes entidades ou organizações como a UE, que participam de missões no país. Pequenas organizações estrangeiras talvez prestem alguma ajuda. Mas, na área onde eu estive, não vi nenhuma organização estrangeira.

swissinfo.ch: Como o senhor se informa atualmente sobre os acontecimentos no país?
S.Z.: Eu me informo através do celular. E emissoras de televisão de Lahore e Islamabad sobrevoam a região da catástrofe, têm repórteres no local e noticiam sobre a situação no país. Dependendo de onde se está, tem-se acesso à televisão. O mesmo vale para a internet.

swissinfo.ch: O Paquistão é frequentemente assolado por catástrofes naturais. Esta é uma enchente do século, como se diz?
S.Z.: De acordo com a Comissão Federal de Inundações, é a pior enchente dos últimos 50 anos. Desde o terremoto de 2005, que causou dezenas de milhares de mortes, esta é a pior catástrofe natural que eu vivenciei.

Gaby Ochsenbein, swissinfo.ch
(Adaptação: Geraldo Hoffmann)

A ONU mandou um enviado especial à região inundada do Paquistão para obter um quadro da situação e dos danos.

O ex-embaixador francês na ONU, Jean-Maurice Ripert, vai avaliar a situação humanitária e identificar a necessidade de ajuda.

Ripert é atualmente responsável por assuntos humanitários no Paquistão.

Segundo a ONU, mais de três milhões de pessoas, incluindo 1,4 milhão de crianças, foram atingidas pelas enchentes no noroeste do Paquistão.

Autoridades da região mais afetada, a província de Khyber Pakhtunkhwa, informaram que cerca de 1600 pessoas morreram na catástrofe.

O selo STEP foi criado em 26 de outubro de 1995 pelas organizações de ajuda ao desenvolvimento Pão para o Mundo, Caritas, Declaração de Berna, Ação Quaresmal, Swissaid e Associação Suíça do Tapete Oriental.

Desde 1° de janeiro de 2007, é uma unidade autônoma da Fundação Max Havelaar (Suíça), que promove o comércio justo.

O selo STEP está presente nos principais países produtores de tapetes (Afeganistão, Índia, Irã, Quirguistão, Marrocos, Nepal, Paquistão e Turquia, onde controla as condições de trabalho da mão de obra, principalmente artesanal, desse setor.

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