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Suíça é campeã do comércio justo

Cada vez mais consumidores suíços compram arroz do comércio justo. flickr.com

As ONGs suíças Ação Quaresmal (católica) e Pão para o Próximo (protestante) realizam em 2010 uma campanha em favor do comércio justo e contra a especulação com alimentos.

A Suíça é campeã mundial de consumo per capita de produtos do chamado comércio justo (equitativo ou solidário). Apesar da crise, esse mercado continua crescendo.

Com gastos de 32,75 francos anuais per capita, os suíços são disparados os maiores consumidores mundiais de produtos do comércio justo, seguidos pelos britânicos (18 francos) e dinamarqueses (11,30 francos).

Estes números fazem do relatório “Trade Fair 2007: Fatos e Números”, divulgado no final de dezembro de 2008 e que reúne dados de 28 países europeus mais os EUA, Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia.

O relatório destaca o sucesso de um movimento nascido há 60 anos, que promove o comércio justo em 33 países do mundo. De 2004 a 2007, as vendas globais de produtos certificados pela Organização Internacional de Rotulagem “Fair Trade” (FLO) quase triplicaram, movimentado 832 milhões de euros em 2007.

Os parceiros sociais na Suíça

A primeira loja de produtos do comércio justo na Suíça foi aberta em dezembro de 1974, em Lausanne. Hoje existem quase 300 assim chamadas Lojas do Mundo (Worldshops) em todo o país, e os produtos fair trade também podem ser comprados em 2,5 mil supermercados.

A Claro Fair Trade é a principal importadora desses produtos na Suíça. A empresa tem 30 anos de experiência e está presente com mais de 140 lojas na região alemã do país. Atuam também na área de importações organizações menores, mas muito dinâmicas, como a TerrEspoir, kalebasse Zur e Helvetas.

A Caritas-Fairtrade, uma empresa ligada à organização humanitária Caritas Suíça, concentra-se exclusivamente no comércio justo, fazendo o papel de importador, varejista e fornecedor, com uma atenção muito especial ao artesanato.

A organização Geban está entre as pioneiras na Europa. Seu trabalho é muito apreciado graças ao seus enfoques inovadores. A empresa importa e distribui produtos orgânicos e trabalha há 30 anos com os pequenos agricultores em Burquina Faso, no Brasil e na Tunísia.

A Fundação Max Havelaar tem competência para certificar com o selo de qualidade “Max Havelaar” bens produzidos e comercializados de acordo com os critérios do comércio justo garantidos pela FLO. Um de seus maiores sucessos foi conseguir entrar em supermercados suíços, como Migros e Coop.

Em 2007 foi criado o Swiss Fair Trade, o fórum suíço para o comércio justo, com o objetivo de coordenar e reforçar as medidas e o peso dos principais protagonistas desta tendência: importadores, ONGs, organismos de certificação de marcas e associações promotoras do comércio justo.

Por um mundo mais justo

A Suíça italiana comemora os 30 anos de existência do movimento do comércio justo. “Desde então muita coisa mudou. A globalização dos mercados e a feroz concorrência transformaram o mundo do trabalho e a sociedade, gerando novas formas de desigualdade”, diz a presidente da Associação das Lojas do Mundo, Claire Fischer Torricelli.

“O comércio solidário contribui para tornar o mundo um pouco mais justo. Os números relativos à solidariedade internacional falam por si: participam mais de 5 milhões de produtores e trabalhadores, mais de 50 países do Sul, 3 mil associações e cooperativas de base, 450 organizações de importação, 100 mil voluntários, 4 mil Lojas do Mundo.”

Embora o comércio justo hoje não possa mais prescindir da lógica do marketing, é igualmente verdade que a força e os ideais de que se alimenta persistem e há até sinais encorajadores. Enquanto a crise corrói cada vez mais espaço de consumo na Europa, o nicho de comércio justo continua estável. E isso não acontece tanto pelas características do produto, como pelos valores transportados por esta iniciativa.

Num contexto de grandes mudanças, até mesmo o comércio justo passou por pequenas e grandes transformações. No mercado surgem não apenas as grandes marcas (como Max Havelaar, por exemplo), como também poderosos varejistas. “Para as Lojas do Mundo, esta nova competição representa um grande desafio: tornar-se também agentes econômicos, sem perder a nossa identidade e nosso ideal, que continua sendo, em primeiro lugar, dar aos pequenos produtores do Sul a possibilidade de uma vida mais digna”, explica Claire Fischer Torricelli.

A qualidade e o desafio do voluntariado

A crescente aceitação do comércio justo nos últimos anos se deve também à constante melhora da qualidade. “Os primeiros produtos preenchiam quase que exclusivamente um critério solidário”, explicam Daniela Sgarbi Sciolli e Ingrid Joray, responsáveis pela sede das Lojas do Mundo na Suíça italiana.

Mas, com o tempo, a qualidade tornou-se um parâmetro cada vez mais importante, mesmo sem afetar os princípios da equidade e solidariedade, garantindo aos produtores do Sul uma remuneração justa que lhes permita ter acesso a uma vida decente, levando em conta o tipo de trabalho realizado e as suas condições de vida.

“Mas a qualidade não basta. Deve-se profissionalizar o voluntariado, a fim de manter as Lojas do Mundo a médio e longo prazos”, afirmam Sgarbi Sciolli e Joray. “Assumir como próprias algumas regras do mercado não significa sacrificar os ideais de solidariedade e de justiça e sim usar os instrumentos adequados para continuar a vender de forma duradoura a maravilhosa ideia do comércio justo. Esse é o caminho para garantir um futuro às Lojas do Mundo. ”

Françoise Gehring swissinfo.ch
(Adaptação: Geraldo Hoffmann)

Gastos anuais per capita com compras no comércio justo (em francos suíços):

1. Suíça: 32,75
2. Grã-Bretanha: 18,00
3. Dinamarca: 11,30
4. Luxemburgo: 10,45
5. Finlândia: 10,20
6. Áustria: 9,90
7. Irlanda: 8,40
8. Suécia: 7,25
9. Noruega: 6,00
10. França e Bélgica: 5,15

Fonte: ‘Trade 2007: Facts and Figures’, FINE Advocacy Office, Bruxelas

O comércio justo representa 0,01 % do comércio mundial.

É um dos nichos de mercado que mais cresce: em média, 20% ao ano desde 2000.

Participam desse movimento mais de 5 milhões de produtores e trabalhadores, mais de 50 países do Sul, 3 mil associações e cooperativas de base, 450 organizações de importação, 100 mil voluntários, 4 mil assim chamada Lojas do Mundo.

Na Suíça há cerca de 300 dessas lojas e os produtos são vendidos também em 2,5 mil supermercados.

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