Trump recebe presidente sírio em reunião histórica na Casa Branca
Da lista de terroristas do FBI à Casa Branca: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu na segunda-feira (10) Ahmed al Sharaa, um marco para um chefe de Estado sírio e uma consagração para o ex-jihadista.
Sharaa, que liderou uma coalizão rebelde de islamistas responsável por derrubar Bashar al Assad após décadas no poder, é o primeiro líder sírio a visitar a Casa Branca desde a independência do país, em 1946.
“Gosto dele”, disse Trump após o encontro, que ocorreu longe das câmeras. Ele acrescentou que deseja que a Síria se torne um país “muito bem-sucedido” após 14 anos de guerra civil e que Sharaa “pode conseguir isso”. “Realmente acredito”, afirmou.
“É um líder muito forte”, declarou o republicano. “As pessoas diziam que ele teve um passado difícil, todos nós tivemos passados difíceis (…) E penso sinceramente que sem um passado difícil você não tem nenhuma chance.”
Trump já havia expressado sua simpatia pelo presidente interino sírio durante o primeiro encontro entre os dois, em maio, no Golfo Pérsico.
Agora, por ocasião desta visita histórica, o Departamento de Estado anunciou uma nova pausa nas sanções americanas, enquanto se espera que o Congresso eventualmente as revogue de forma definitiva.
Sharaa chegou discretamente à Casa Branca às 11h37 locais (13h37 no horário de Brasília), sem passar pela entrada principal e sem o protocolo habitualmente reservado a chefes de Estado e de governo estrangeiros, que o presidente quase sempre recebe pessoalmente no pórtico.
– Apoiadores –
Os jornalistas também não foram convidados ao Salão Oval na presença dos dois líderes, como costuma ocorrer nas visitas oficiais.
Sharaa foi embora por volta das 13h20 (15h20 de Brasília), e parou por alguns instantes para cumprimentar os partidários que o aclamavam em frente à Casa Branca.
Em um breve comunicado no X acompanhado de algumas fotos, a presidência síria indicou que os dois dirigentes discutiram “as maneiras de desenvolver e fortalecer” a relação bilateral, bem como “vários temas regionais e internacionais de interesse comum”.
O líder sírio obteve uma nova pausa de 180 dias da Lei César, que impunha sanções americanas drásticas contra o governo de Bashar al Assad, já suspensa em maio.
O governo de Trump quer uma revogação completa desta lei de 2019, que exclui a Síria do sistema bancário internacional e das transações financeiras em dólares, mas isso requer uma votação no Congresso.
Nem Washington nem Damasco comunicaram em um primeiro momento outro anúncio esperado para esta segunda-feira.
Durante a visita, a Síria deveria assinar um acordo para se juntar à coalizão internacional antiterrorista liderada pelos Estados Unidos, segundo o enviado americano para a Síria, Tom Barrack.
– Base militar –
Os Estados Unidos, por sua vez, planejam estabelecer uma base militar perto de Damasco, “para coordenar a ajuda humanitária e observar os desenvolvimentos entre a Síria e Israel”, segundo outra fonte diplomática na Síria.
Washington retirou, na sexta-feira, Ahmed al Sharaa, de 43 anos, de sua lista de terroristas.
De 2017 até dezembro do ano passado, o FBI oferecia uma recompensa de 10 milhões de dólares (532 milhões de reais) por qualquer informação que levasse à prisão do líder do antigo braço local da Al Qaeda, o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Na quinta-feira, o Conselho de Segurança da ONU também levantou as sanções contra Sharaa, por iniciativa dos Estados Unidos.
Desde que assumiu o poder, o dirigente sírio rompeu com seu passado e se abriu ao Ocidente e aos Estados da região, incluindo Israel, com o qual seu país está teoricamente em guerra.
Também prometeu “redefinir” a relação da Síria com a Rússia de Vladimir Putin, com quem Sharaa se reuniu em Moscou há menos de um mês. A Rússia é um aliado-chave de Assad, que se encontra asilado lá.
“Trump leva Sharaa à Casa Branca para dizer que ele não é mais um terrorista (…) mas um líder pragmático e, sobretudo, flexível que, sob a direção americana e saudita, fará da Síria um pilar estratégico regional”, explicou o analista Nick Heras.
Em maio, Trump havia instado Sharaa a se juntar aos Acordos de Abraão, que levaram vários países árabes a reconhecer Israel em 2020.
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