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Trump recebe presidente sírio em reunião histórica na Casa Branca

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Da lista de terroristas do FBI à Casa Branca: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu nesta segunda-feira (10) Ahmed al Sharaa, um feito inédito para um chefe de Estado sírio e uma conquista extraordinária para o ex-jihadista.

Sharaa, que liderou uma coalizão rebelde de islamistas responsável por derrubar Bashar al Assad em dezembro do ano passado, após décadas no poder, é o primeiro líder sírio a visitar a Casa Branca desde a independência do país, em 1946.

“Gosto dele”, disse Trump após o encontro, que ocorreu longe das câmeras. O dirigente republicano acrescentou que deseja que a Síria se torne um país “muito bem-sucedido” após 14 anos de guerra civil e que Sharaa “pode conseguir isso”.

Trump declarou que a Síria é “parte importante” de seu plano de paz para o Oriente Médio. Mas não confirmou se Damasco firmaria um pacto de não agressão com Israel, seu inimigo de longa data.

Depois do encontro entre o republicano e Sharaa, um alto funcionário americano informou que Damasco poderá reabrir sua embaixada em Washington e, além disso, se unirá à coalizão internacional dirigida pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico.

“A Síria anunciou que se unirá à Coalizão Global para Derrotar o ISIS”, uma das siglas pelas quais é conhecido o Estado Islâmico, acrescentou a fonte. 

Também informou que a Síria terá permissão para reabrir sua embaixada em Washington “para promover a coordenação em matéria de contraterrorismo, segurança e economia”.

Por ocasião desta visita histórica, o Departamento de Estado anunciou uma nova pausa nas sanções americanas sobre o país árabe, enquanto se espera que o Congresso eventualmente as revogue de forma definitiva.

Sharaa chegou discretamente à Casa Branca, entrou por uma porta lateral, sem o protocolo habitualmente reservado aos chefes de Estado e de governo estrangeiros, que o presidente quase sempre recebe pessoalmente no pórtico.

– Apoiadores –

Os jornalistas também não foram convidados ao Salão Oval na presença dos dois líderes, como costuma ocorrer nas visitas oficiais.

Sharaa foi embora por volta de 13h20 (15h20 de Brasília), e parou por alguns instantes para cumprimentar apoiadores que o aclamavam em frente à Casa Branca.

Depois, Sharaa foi entrevistado pela emissora conservadora Fox News, e afirmou que a disputa em curso da Síria com Israel sobre o território das Colinas de Golã dificultaria o início de conversas de paz neste momento. 

No entanto, sugeriu que as conversas facilitadas por Trump e Washington poderiam ajudar a iniciar negociações.

O líder sírio obteve uma nova pausa de 180 dias da Lei César, que impunha sanções americanas drásticas contra o governo de Bashar al Assad, já suspensa em maio.

O governo de Trump quer uma revogação completa desta lei de 2019, que exclui a Síria do sistema bancário internacional e das transações financeiras em dólares, mas isso requer a aprovação do Congresso.

– Base militar –

Os Estados Unidos, por sua vez, planejam estabelecer uma base militar perto de Damasco, “para coordenar a ajuda humanitária e observar os desenvolvimentos entre a Síria e Israel”, segundo outra fonte diplomática na Síria.

Na sexta-feira, Washington retirou Sharaa, de 43 anos, de sua lista de terroristas.

De 2017 até dezembro do ano passado, o FBI oferecia uma recompensa de 10 milhões de dólares (532 milhões de reais, na cotação atual) por qualquer informação que levasse à prisão do líder do antigo braço local da Al Qaeda, o grupo Hayat Tahrir al Sham (HTS).

Desde que assumiu o poder, o dirigente sírio rompeu com seu passado e se abriu ao Ocidente e aos Estados da região, incluindo Israel, com o qual a Síria está tecnicamente em guerra.

Também prometeu “redefinir” a relação da Síria com a Rússia de Vladimir Putin, com quem Sharaa se reuniu em Moscou há menos de um mês. A Rússia é um aliado-chave de Assad, que se encontra asilado nesse país.

“Trump leva Sharaa à Casa Branca para dizer que ele não é mais um terrorista […], mas um líder pragmático e, sobretudo, flexível que, sob direção americana e saudita, fará da Síria um pilar estratégico regional”, explicou o analista Nick Heras.

bur-aue/cyb/ad/mr/cr/mr/ic/am/rpr

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