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Entre o caos e o brilho: Rio em guerra, Bolsonaro na Justiça e Fonseca no topo do tênis

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Keystone

O Brasil vive hoje uma mistura de tragédia, tensão política e celebração esportiva. No Rio de Janeiro, uma operação policial nas favelas deixou mais de 130 mortos e expôs a escalada da violência urbana. Enquanto isso, o ex-presidente Jair Bolsonaro recorre da condenação de 27 anos por tentativa de golpe de Estado, mantendo-se em prisão domiciliar. Em Basileia, o jovem tenista João Fonseca, de 19 anos, conquista o título dos Swiss Indoors e entra no top 30 mundial, dando ao país um motivo de orgulho em meio às notícias pesadas.

Hoje em Berna, o frio já anuncia novembro — mas as manchetes que chegam do Brasil seguem quentes. Entre a violência que abala o Rio, a disputa política em torno de Bolsonaro e o brilho juvenil de João Fonseca em Basileia, a imprensa suíça dedicou espaço ao contraste entre tragédia, poder e talento.

Banho de sangue no Rio de Janeiro expõe fracasso da política de segurança e reacende disputa entre Lula e a direita 

Os principais jornais suíços destacaram na sexta-feira (31) o massacre ocorrido em favelas do Rio de Janeiro, em uma operação policial que terminou com mais de 130 mortos — entre eles quatro policiais — e centenas de feridos. A ação, parte da chamada Operação Contenção, tinha como alvo o Comando Vermelho, uma das facções mais poderosas do tráfico de drogas no país. 

Segundo o Tages-AnzeigerLink externo (Zurique), o confronto transformou o norte da cidade em um “cenário de guerra civil”, com drones lançando explosivos, ruas bloqueadas por veículos incendiados e 2.500 agentes das forças de segurança envolvidos. O jornal relata que a operação, a maior já realizada no Rio, deixou “um número de vítimas comparável ao de um conflito armado”. 

O Le CourrierLink externo (Genebra) descreveu a cena com tom ainda mais dramático: “Cadáveres, e mais cadáveres”. O diário relata que moradores de Penha passaram a noite procurando corpos na mata, elevando o número de mortos de 64 para 132. A publicação observa que o episódio “coloca a segurança pública no centro da campanha presidencial de 2026” e questiona o momento político da ofensiva, liderada pelo governador Cláudio Castro, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

O jornal suíço lembra que Bolsonaro foi condenado em setembro a 27 anos de prisão e sugere que a operação pode ter sido uma tentativa da direita de “interromper a sequência vitoriosa” de Lula, que vinha colhendo ganhos diplomáticos após um encontro cordial com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. 

Já a Berner ZeitungLink externo (Berna) ouviu o sociólogo Luís Flávio Sapori, da PUC Minas, para quem a violência policial é “um problema estrutural da sociedade brasileira”. Ele criticou a política de confronto e defendeu medidas de longo prazo: enfraquecer o poder econômico das facções e garantir presença policial permanente nos territórios. “Essas operações não têm como objetivo recuperar o controle das favelas, mas eliminar o maior número possível de suspeitos”, afirmou. 

A mesma análise aparece no Tages-Anzeiger, que cita Sapori ao dizer que o padrão dessas ações é “entrar atirando e sair sem estratégia”, perpetuando o ciclo de violência. Para o pesquisador, “o número de mortos mostra o fracasso total das autoridades na condução da política de segurança pública”. 

O Le Courrier acrescenta que tanto o governo estadual quanto o federal trocam acusações. Enquanto Castro afirma ter pedido apoio das Forças Armadas e sido ignorado por Brasília, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, negou qualquer solicitação e disse que Lula ficou “chocado” com a dimensão do massacre. 

Entre as poucas vozes de consenso está a da Human Rights Watch, citada pelo Tages-Anzeiger, que classificou o episódio como “uma grande tragédia” e exigiu investigação independente para cada morte. 

Com a cidade em choque e a população das favelas novamente no centro da tragédia, a imprensa europeia vê o episódio como um divisor de águas: mais do que uma operação policial, um retrato brutal da crise de segurança e da polarização política que marcam o Brasil às vésperas de mais uma eleição. 

Fonte: Tages-AnzeigerLink externo, Berner ZeitungLink externo (em alemão) e Le CourrierLink externo (em francês), em 31.10.2025 

Bolsonaro recorre da condenação e tenta adiar a prisão, alegando “contradições” no julgamento 

Os jornais suíços Le TempsLink externo e RTNLink externo noticiam nesta semana a ofensiva judicial da defesa de Jair Bolsonaro, que tenta reverter ou ao menos adiar os efeitos de sua condenação por tentativa de golpe de Estado. O ex-presidente brasileiro, de 70 anos, foi sentenciado em 11 de setembro a 27 anos de prisão por ter chefiado uma “organização criminosa” que conspirou para garantir sua permanência no poder “independentemente do resultado eleitoral” de 2022 — pleito no qual foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva. 

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Vista aérea de uma manifestação contra o ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, na Avenida Paulista, em São Paulo, Brasil, em 30 de março de 2025. Keystone

Segundo o Le Temps, o recurso apresentado pela defesa de Bolsonaro busca corrigir “as ambiguidades, omissões, contradições e obscuridades” apontadas no acórdão da Suprema Corte. O jornal lembra que, embora raras, revisões parciais de decisões já ocorreram nesse tribunal, sobretudo na reavaliação de cálculos de pena. O professor de direito Thiago Bottino, da Fundação Getulio Vargas, ouvido pela AFP, citada pelo jornal, explica que a corte “não tem prazo determinado” para julgar o pedido, e que a execução da pena só ocorrerá após o esgotamento de todos os recursos. 

Enquanto isso, Bolsonaro permanece em prisão domiciliar desde agosto, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, que o proibiu de usar redes sociais. O magistrado entendeu que o ex-presidente descumpriu ordens judiciais ao continuar fazendo declarações políticas e críticas ao Judiciário por meios digitais. 

O Le Temps também informa que Bolsonaro foi diagnosticado em setembro com câncer de pele e sofre de complicações no abdômen, decorrentes da facada sofrida durante a campanha de 2018. Por esses motivos, ele poderá solicitar que sua pena seja cumprida em casa — precedendo o caso do ex-presidente Fernando Collor de Mello, autorizado a cumprir em regime domiciliar uma sentença de mais de oito anos por corrupção. 

A emissora RTN destaca que o caso Bolsonaro tem peso histórico: é a primeira vez que um ex-presidente brasileiro é condenado por tentativa de golpe de Estado. A emissora de Neuchâtel lembra ainda que os advogados do ex-presidente prometem recorrer “inclusive em instâncias internacionais”, enquanto a Suprema Corte segue sem prazo para decidir sobre o recurso. 

O desfecho judicial do caso, ressaltam os dois veículos, terá impacto direto sobre o futuro político do país e sobre a polarização que continua a dividir o Brasil. 

Fonte: Le TempsLink externo (28.10.2025) e RTNLink externo (27.10.2025), ambos em francês 

João Fonseca conquista Basileia e leva o tênis brasileiro de volta ao topo 

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Keystone / Georgios Kefalas

A imprensa suíça se rendeu a João Fonseca. O BlickLink externo o descreve como o “supertalento que faz o Brasil sonhar”, enquanto o 24 HeuresLink externo celebra sua vitória em Basileia como um marco para o tênis sul-americano. Com uma atuação madura e dominante, o carioca derrotou o espanhol Alejandro Davidovich Fokina por 6-3, 6-4, garantindo o título do Swiss Indoors e escalando ao 28º lugar do ranking ATP — o melhor de sua curta carreira profissional 

O Blick destaca que Fonseca, dono de uma “forehand estrondosa e estilo agressivo”, vem impressionando desde sua estreia nos Grand Slams. Em janeiro, no Australian Open, ele eliminou o então top 10 Andrei Rublev e, semanas depois, conquistou seu primeiro título ATP em Buenos Aires. A trajetória o consolidou como uma das maiores promessas do circuito, com a imprensa suíça perguntando se ele será “o rival que faltava a Alcaraz e Sinner”. 

O diário suíço também chama atenção para os laços de Fonseca com a Suíça — e com Roger Federer. Fã do ídolo suíço desde criança, o brasileiro contou que jogava apenas com camisas de Federer e tentou imitar a clássica esquerda com uma mão, até desistir por dor no braço. Aos 16 anos, assinou com a marca esportiva On, da qual Federer é investidor, e recentemente o conheceu pessoalmente durante o Laver Cup. “Eu tremia e minhas mãos suavam”, contou o jovem, rindo. 

Segundo o 24 Heures, Fonseca chegou à final após vencer o espanhol Jaume Munar e aproveitou desistências de Mensik e Shapovalov. Na decisão, exibiu frieza e consistência: perdeu o saque apenas uma vez e fechou o jogo em seu primeiro match point, diante dos pais que vieram do Brasil. Após o troféu, prometeu raspar a cabeça em homenagem aos treinadores — e voltar a Basileia nos próximos anos. 

O Blick observa que o impacto de Fonseca vai além das quadras: Neymar e Ronaldo se declararam fãs, e o Cristo Redentor foi iluminado nas cores do Brasil após sua vitória em Buenos Aires. Agora, com o título em Basileia, o jovem consolida sua posição entre os grandes nomes emergentes do tênis mundial — e devolve ao Brasil um protagonista no circuito masculino, algo que o país não via desde Gustavo Kuerten. 

Fonte:Blick (em alemão) e 24Heures (em francês), em 26.10.2025 

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