
COP30 no foco da Suíça: esperança, contradições e muito petróleo

A COP30 ainda nem começou, mas já está dando o que falar….e não só no Brasil. Nesta edição, a imprensa suíça mergulhou de cabeça nos bastidores do encontro climático que vai transformar Belém no centro do mundo em novembro.
E, enquanto o debate climático esquenta, a política portuguesa também ferve. A RTS, televisão pública da Suíça, destacou o avanço inédito da extrema direita no país. De florestas ameaçadas a eleições imprevisíveis, o noticiário europeu desta semana está cheio de temas que vão moldar o futuro, seja ambiental, político ou social. Vem entender como o Brasil e Portugal estão no centro dessas histórias que o mundo inteiro está acompanhando de perto.
Esperança apesar da devastação das florestas do mundo
O jornal Blick.ch, o de maior circulação na Suíça, publicou um artigo sobre a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que será realizada de 10 a 21 de novembro em Belém (Brasil): um tema que tem recebido ampla cobertura da imprensa suíça por se tratar de um encontro mundial decisivo.
O texto destaca que, segundo um relatório da Forest Declaration Assessment, a destruição das florestas continuou em 2024, com 8,1 milhões de hectares perdidos globalmente, metade do tamanho da Inglaterra. A agricultura segue como a principal causa do desmatamento (responsável por 85% das perdas), mas o setor de mineração também tem avançado, impulsionado pela demanda por minerais usados na transição energética.
A “crise silenciosa” das florestas tropicais preocupa especialistas: só em 2024, 6,7 milhões de hectares de florestas primárias desapareceram, especialmente na Bacia do Congo e na Indonésia, enquanto novos alertas surgem sobre Papua Nova Guiné, onde licenças controversas (FCA) ameaçam milhões de hectares de floresta.
O artigo ressalta que o mundo está longe da meta de eliminar o desmatamento até 2030, mas aponta expectativas positivas para a COP30, considerada “a COP das florestas e da implementação”. O Brasil deve propor a criação do Fundo de Financiamento das Florestas Tropicais (TFFF), que pretende mobilizar US$ 125 bilhões para recompensar países que preservam suas florestas.
Fonte: blick.ch, 14.10.2025Link externo (em francês)
Extrema direita de Portugal atinge novos patamares
O portal da RTS, canal público de televisão da Suíça, publicou um artigo sobre as eleições municipais em Portugal, destacando o avanço inédito da extrema direita no país. O texto informa que o partido Chega conquistou, pela primeira vez, duas prefeituras nas eleições de domingo, marcando um novo capítulo na política portuguesa. O partido venceu nos municípios de Entroncamento, no centro do país, e São Vicente, na ilha da Madeira.

Fundado em 2019, o Chega atingiu um novo patamar político ao consolidar sua presença local, após ter se tornado, nas eleições legislativas de maio, a segunda maior força política de Portugal, com 18% dos votos. Seu líder, André Ventura, celebrou os resultados como “uma grande vitória”, afirmando que o partido está se transformando em uma força com “raízes municipais” e ampliando sua influência em todo o território nacional.
O artigo recorda que, nas eleições municipais anteriores, realizadas em 2021, o Chega havia obtido apenas 4,2% dos votos e nenhuma prefeitura, o que evidencia o crescimento acelerado da sigla em apenas três anos. Enquanto isso, os resultados nas principais cidades portuguesas, como Lisboa e Porto, permanecem indefinidos, uma vez que as pesquisas de boca de urna não conseguiram apontar vencedores claros.
Em Lisboa, a disputa é descrita como acirrada entre o atual prefeito de direita, Carlos Moedas, e a candidata socialista Alexandra Leitão. A campanha eleitoral na capital foi marcada por um grave acidente ocorrido em 3 de setembro, quando o descarrilamento de um funicular provocou 16 mortes, incluindo cinco portugueses e 11 estrangeiros, além de cerca de vinte feridos , um episódio que impactou fortemente o debate público durante o pleito.
No Porto, a segunda maior cidade do país, a situação também segue indefinida. O prefeito independente, apoiado pela direita, não concorreu à reeleição, e as pesquisas indicam um empate técnico entre o candidato governista Pedro Duarte, ligeiramente à frente, e o socialista Manuel Pizarro. A cobertura da RTS ressalta que o crescimento do Chega e a incerteza nas principais cidades refletem um momento de transformação política em Portugal, acompanhado com atenção pela imprensa europeia.
Fonte: rts.ch, 13.10.2025Link externo (em francês)
COP30 e o dilema brasileiro
O jornal Le Courrier, publicação francófona suíça, dedicou um extenso artigo à COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que ocorrerá de 10 a 21 de novembro, em Belém (Brasil). O texto analisa as contradições da política ambiental do governo Lula, que promete liderar uma “transição justa e equitativa”, mas simultaneamente avança em projetos que favorecem os mercados financeiros e as indústrias de combustíveis fósseis. A reportagem, assinada por Gabriella Lima, questiona se o Brasil busca proteger a Amazônia ou monetizá-la, destacando as tensões entre o discurso verde e a prática econômica.

O artigo explica que a principal proposta do Brasil para a COP30 é o Tropical Forest Financing Facility (TFFF), um fundo de investimento que pretende transformar as florestas tropicais em ativos financeiros. Com a meta de captar US$ 125 bilhões, 80% vindos de investidores privados, o TFFF promete gerar lucros anuais de US$ 4 bilhões e pagar US$ 4 por hectare preservado. No entanto, Le Courrier observa que o modelo segue a lógica bancária – empréstimos em vez de doações – e pode aumentar o endividamento dos países florestais, já que os pagamentos à conservação dependeriam do desempenho financeiro do fundo.
A reportagem também alerta que as florestas e os povos indígenas receberiam apenas o que sobrar após o pagamento dos investidores e custos administrativos. Mesmo que o fundo prospere, apenas 20% dos recursos destinados por hectare seriam repassados às comunidades locais, e de forma irregular. A Global Forest Coalition (GFC), que reúne 144 organizações indígenas, denuncia o projeto como uma “falsa solução”, criticando a falta de garantias sobre o reconhecimento dos direitos dos povos originários e sobre sua autonomia na gestão dos territórios.
Outro ponto destacado é o megaprojeto de exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, que revela as contradições do governo Lula às vésperas da COP30. Apesar de defender a transição energética, o Brasil planeja extrair 14 bilhões de barris de petróleo, com participação da Petrobras e de grandes petroleiras estrangeiras, o que poderia liberar 11 bilhões de toneladas de CO₂. Segundo Le Courrier, a política de Lula busca conciliar soberania nacional e interesses do capital internacional, já que 63% do capital da Petrobras pertence a investidores privados, dois terços deles estrangeiros. A exploração petrolífera, observa o jornal, reforça a dependência do Brasil das exportações de “ouro negro”.
Por fim, o artigo apresenta alternativas às políticas de Lula e ao TFFF. A Global Forest Coalition propõe que 1% dos orçamentos de defesa nacionais seja destinado à conservação das florestas tropicais – o que, no caso do Brasil, representaria US$ 226 milhões anuais. Outra proposta é a suspensão dos pagamentos da dívida pública, que consome 42% do orçamento federal e sufoca os investimentos sociais e ambientais. Le Courrier conclui que apenas mudanças estruturais na política econômica – e não a financeirização das florestas – poderão garantir a transição ecológica justa prometida pela presidência da COP30.
Fonte: Le Courrier, 12.10.2025Link externo (em francês)
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