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Pecuaristas europeus querem barrar entrada de carne brasileira anabolizada

Gado se alimenta em um confinamento operado pelo grupo Otavio Lage em Goianésia, estado de Goiás. Europeus dizem que criadores brasileiros continuam enchendo o gado de hormônios e antibióticos.
Gado se alimenta em um confinamento operado pelo grupo Otavio Lage em Goianésia, estado de Goiás. Europeus dizem que criadores brasileiros continuam enchendo o gado de hormônios e antibióticos. Keystone-AP/Eraldo Peres

Para além dos assuntos dominantes da semana, como o sorteio da Copa e a novela da prisão de Jair Bolsonaro, a imprensa suíça trouxe algumas histórias originais: questões agrícolas, incluindo uma polêmica em livro infantil, um passeio pela Cracolândia, e como Cristiano Ronaldo vendeu sua alma.

Gado anabolizado

O jornal Schweizer Bauer (Agricultor Suíço) chamou a atenção para pesquisa realizada pelo seu par irlandês, o Irish Farmers Journal, revelando graves irregularidades no uso de antibióticos e hormônios na criação de gado no Brasil.Por conta disso, a federação de agricultores irlandesa exige a suspensão imediata do acordo de livre comércio com os países do Mercosul.

As investigações realizadas no local em conjunto com a Federação dos Agricultores Irlandeses (IFA) comprovam, segundo o semanário agrícola, que no Brasil a administração de antibióticos e hormônios para a produção de carne bovina ocorre de forma amplamente descontrolada.

Os jornalistas puderam, a qualquer momento e em diversos locais, adquirir antibióticos sujeitos a receita médica em lojas rurais, sem precisar apresentar qualquer tipo de documento ou comprovante de identidade. Também não foram exigidas marcas auriculares ou números de rebanho. Muitas vezes, os vendedores ofereceram diretamente a compra de quantidades maiores.

De acordo com o jornal, os antibióticos são vendidos no comércio rural brasileiro sem códigos de barras nas garrafas ou embalagens. Na opinião do Irish Farmers Journal isso prova que não há registro das quantidades vendidas, por exemplo, em um banco de dados central. Como enfatizam os jornalistas, todos os medicamentos veterinários adquiridos nas compras de teste exigem receita médica e acompanhamento veterinário.

“Ainda mais preocupante” foi a quantidade de antibióticos usada nas fazendas de gado visitadas, que ofereciam aos animais uma mistura de minerais e do antibiótico monensina. O uso dessa substância como antibiótico na alimentação para aumentar o rendimento é proibido na União Europeia desde 2006.

Segundo os jornalistas, além de antibióticos, eles também puderam comprar sem problemas hormônios para a engorda de gado no comércio rural, incluindo o estradiol, há muito tempo proibido na UE para fins de refinamento.

Em outubro de 2024, a substância gerou críticas ao acordo de livre comércio ainda em aberto entre a UE e os países do Mercosul, dos quais o Brasil também faz parte. Uma auditoria da Comissão Europeia concluiu que os mecanismos estabelecidos pelo Brasil para impedir o fornecimento de carne de gado tratado com hormônios à UE são insuficientes.

Fonte: Schweizer BauerLink externo, 03.12.2025 (em alemão) 

Globi e o caso da soja maldita 

Enquanto isso, um pequeno detalhe no novo livro infantil do papagaio azul Globi, ícone suíço desde os anos 1930, irritou profundamente os pecuaristas suíços.

O Globi moderno abandonou o racismo, o sexismo e as
representações violentas dos primeiros volumes. Desde a década de
1980, ele se apresenta principalmente como um educador e informa sobre diferentes setores, profissões, países e ecossistemas. O fato de que ainda hoje podem ocorrer representações problemáticas é demonstrado pela edição publicada em novembro, intitulada Globi e a floresta – sobre animais selvagens, pássaros
loucos e árvores fortes
.

Capa do livro "Globi e a floresta".
Capa do livro “Globi e a floresta”. Globi Verlag

Na página 64, um Globi indignado encontra um agricultor que acabou de derrubar uma árvore na floresta tropical. O agricultor diz que precisa criar espaço para sua fazenda de soja e gado. A soja colhida vai para a Europa – inclusive para a Suíça. A companheira de Globi, a pesquisadora florestal Marielle, confirma que 80% da alimentação das vacas suíças consiste em grãos e soja. Globi pergunta: “Então o leite, o queijo e a carne suíços contêm um pedaço da floresta tropical?” Marielle responde: “Infelizmente, parece que sim.”

A Associação Suíça de Produtores de Leite rebateu na plataforma Linkedin que as afirmações no livro Globi são inventadas: as vacas leiteiras suíças comem em média apenas 13% de ração concentrada. De acordo com o selo Bio Suisse, a proporção de ração concentrada na pecuária leiteira convencional é de cerca de 20%, enquanto nas fazendas bio é previsto um valor máximo de 5%.

De fato, a Suíça diminuiu consideravelmente sua dependência de soja e grãos do Brasil, sendo que 90% vem da Europa. O autor do Globi, Atlant Bieri, desculpou-se pelo erro também na mesma plataforma, mas mantém sua afirmação: afinal, mesmo que grande parte da soja seja proveniente da Europa, os bifes suíços contêm ainda um pouco de floresta tropical.

Fonte: nzz.chLink externo, 03.12.2025 (em alemão) 

Sucesso na Cracolândia?

Consumo de crack à céu aberto em São Paulo.
Consumo de crack à céu aberto em São Paulo. The Associated Press

O correspondente do diário zuriqueno Neue Zürcher Zeitung (NZZ) no Brasil, Alexander Busch, relata como a região do centro de São Paulo ocupada por viciados em crack, a chamada Cracolândia, foi “dissolvida” graças à ação do Gaeco, a divisão especial da polícia de combate ao crime organizado.

A reportagem de Busch, ilustrada com imagens da fotógrafa Dan Agostini, acompanha não só os agentes da lei, mas também os interesses por trás da economia paralela da Cracolândia – principalmente receptação de artigos roubados e coleta de lixo – explorada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).

Fonte: nzz.chLink externo, 04.12.2025 (em alemão)

Como CR7 vendeu sua alma

O crítico Christian Finkbeiner, do jornal dominical Sonntagsblick, escreveu uma reportagem detonando o astro do futebol português. “Cristiano Ronaldo é a maior marca do futebol mundial”, começa o autor. “Ninguém tem mais seguidores, ninguém ganha mais. Para
isso, CR7 vendeu sua alma e fez um pacto com os poderosos. A recompensa: ele pode jogar desde o início da Copa do Mundo, apesar do cartão vermelho contra a Irlanda.”

Depois de elencar uma impressionante série de récordes e sucessos, Finkbeiner joga luz nos outros lados da vida do jogador: Mesmo entre as estrelas do futebol, Ronaldo está há muito tempo
numa esfera própria. De acordo com a revista econômica Forbes,
ele foi o esportista mais bem pago do mundo em 2025, com um
salário anual de 275 milhões de dólares.

Cristiano Ronaldo deixa o campo após receber um cartão vermelho durante as eliminatórias europeias para a Copa do Mundo de 2026, entre Irlanda e Portugal, em Dublin, Irlanda, 13 de novembro de 2025.
Cristiano Ronaldo deixa o campo após receber um cartão vermelho durante as eliminatórias europeias para a Copa do Mundo de 2026, entre Irlanda e Portugal, em Dublin, Irlanda, 13 de novembro de 2025. EPA/JOSE SENA GOULAO

Ele obtém receitas através de contratos vitalícios (entre outros, com a Nike) e com os produtos da sua marca CR7. O seu portfólio de negócios inclui também participações em imóveis, hotéis, clubes, clínicas capilares e restaurantes.

No entanto, a maior parte de sua renda vem do clube Al-Nassr,
cujo proprietário majoritário é o fundo soberano saudita Public
Investment Fund (PIF). No final de 2022, Ronaldo sucumbiu à
propaganda dos xeques e aos petrodólares e se transferiu para a
Arábia Saudita por um salário anual de 200 milhões de euros – por
dois anos e meio, sendo que uma parte do salário também deveria remunerar seu papel como embaixador da candidatura saudita à Copa do Mundo.

Como pioneiro de uma série de outras estrelas das principais ligas europeias e como ponta de lança do sportswashing saudita. O contrato foi prorrogado por dois anos neste verão – de acordo com o jornal inglês Sun por incríveis 541 milhões de francos suíços, incluindo 16 funcionários que trabalham para o astro: três motoristas, quatro empregados domésticos, dois cozinheiros, três jardineiros e quatro seguranças.

Financeiramente, o pacto com os poderosos valeu a pena para
CR7, então é aceitável que o boom da liga tenha se estabilizado
novamente. Várias estrelas voltaram com a carteira cheia, mas
desiludidas com o esporte – Ronaldo ficou, por ser lucrativo demais. É isso mesmo, afinal, todos os desejos da superestrela são
realizados. Embora na Arábia Saudita seja proibido por lei que
casais não casados vivam juntos, foi feita uma exceção para a
superestrela e sua namorada Georgina.

Fonte: SonntagsblickLink externo, 29.11.2025 (em alemão)

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Luana Lopes Lara: a mais jovem bilionária que fez fortuna por conta própriaLink externo (27.11)

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