
Vice-presidente da UE para o clima busca ‘concorrência justa’ com a China em energia verde

A União Europeia busca uma “concorrência justa” com a China, não uma corrida para o fundo do poço em termos de salários e padrões ambientais, disse à AFP nesta segunda-feira (14) a vice-presidente do bloco para uma transição limpa, Teresa Ribera.
Há profundos atritos nas relações econômicas entre o bloco de 27 países e Pequim.
Bruxelas teme que um excesso de produção industrial impulsionado por amplos subsídios estatais possa ampliar um déficit comercial abismal e resultar em uma enxurrada de produtos chineses baratos, o que prejudicaria as empresas europeias.
A espanhola Teresa Ribera, atual vice-presidente executiva da União Europeia para uma Transição Limpa, Justa e Competitiva, falou sobre o assunto durante uma visita a Pequim antes de uma importante cúpula UE-China neste mês, e rejeitou as alegações da China de que o bloco estaria praticando “protecionismo”.
“Nós, europeus, não queremos entrar em uma corrida para baixas rendas, menos direitos trabalhistas ou padrões ambientais mais baixos”, disse Ribera, que também atua como chefe de concorrência do bloco.
“É óbvio que não estaríamos em uma boa posição se houvesse um (…) excesso em nossos mercados que pudesse nos prejudicar com preços que não refletem o custo real”, disse ele.
Em outubro, a UE lançou impostos de importação adicionais de até 35% sobre os veículos elétricos chineses e investigou fabricantes chineses de painéis solares.
Questionada se as medidas da UE contra as empresas chinesas de energia verde poderiam prejudicar a transição global para as energias renováveis, Ribera respondeu: “É justo dizer que, sim, poderíamos nos beneficiar no curtíssimo prazo”.
No entanto, ela também alertou que isso “poderia acabar com a possibilidade” de investimentos de longo prazo no futuro do bloco.
– Disrupção global –
A visita de Ribera ocorre em um momento em que Pequim busca melhorar as relações com a União Europeia como contrapeso ao seu poderoso rival, os Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, perturbou a ordem global e retirou Washington dos acordos internacionais sobre o clima.
“Acho que não vimos muitas ocasiões no passado em que uma grande economia, um grande país, decidiu se isolar de forma tão significativa”, disse à AFP. “É uma pena”, observou.
“Os chineses podem pensar que os Estados Unidos lhes deram uma grande oportunidade de se tornarem muito mais relevantes no cenário internacional”, disse Ribera.
A visita também ocorre em um momento em que o bloco e os Estados Unidos entram em conflito por causa de um acordo comercial. Trump alterou a situação novamente no sábado, após meses de negociações, ao anunciar tarifas abrangentes caso um acordo com a UE não seja alcançado até 1º de agosto.
Nesta segunda-feira, a Comissão Europeia reagiu com uma proposta aos 27 países do bloco, incluindo medidas no valor de 72 bilhões de euros (R$ 466 bilhões) caso Washington imponha tarifas de 30%.
– “Há muito espaço para melhorias” –
Uma solução para as tensões comerciais relacionadas às preocupações de Bruxelas sobre o excesso de capacidade industrial da China “virá”, mas “não hoje”, disse Teresa Ribera, após uma reunião nesta segunda-feira com o vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, em Pequim.
Teresa Ribera expressou satisfação após uma troca “profunda e positiva” com as autoridades chinesas, mas considerou que ainda há “muito espaço para melhorias” em entrevista coletiva após a reunião.
“Para progredir, precisamos identificar os pontos de preocupação de cada lado”, destacou.
Questionada sobre se um acordo estava próximo, respondeu: “Quem sabe? Faremos o nosso melhor”.
No entanto, ela insistiu que as regras de concorrência digital da UE — frequentemente condenadas por Trump como “barreiras não tarifárias” ao comércio — não estavam em pauta. “É uma questão de soberania”, disse Ribera.
“Não vamos abrir mão da forma como entendemos que precisamos defender os nossos cidadãos e a nossa sociedade, os nossos valores e o nosso mercado”, destacou Ribera, que tem a tarefa de modernizar a política de concorrência da UE para apoiar as empresas europeias na inovação, na concorrência e na liderança global.
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