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Salários suíços: altos, estáveis, mas muitas vezes insuficientes

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KEYSTONE/© KEYSTONE / CHRISTIAN BEUTLER

O que dá para fazer com quase 7.000 francos suíços por mês? Novas estatísticas mostram que o salário médio continua crescendo na Suíça, mas que esse crescimento nem sempre compensa o aumento dos custos.

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Em 2022, o salário médio bruto para um trabalho em tempo integral na Suíça era de CHF 6.788, segundo os dados divulgados pelo Departamento Federal de Estatística (OFS). Isso representa um aumento de 123 francos por mês em comparação a 2020, e de 350 francos em comparação ao valor de uma década atrás, ainda segundo as estatísticas do OFS, que são coletadas a cada dois anos. As diferenças entre os salários altos, médios e baixos, por sua vez, permaneceram “relativamente estáveis”: entre 2008 e 2022, todas as faixas de renda tiveram ganhos nominais semelhantes.

Por trás dessa estabilidade, no entanto, existem grandes divergências. Por exemplo, se você deseja um salário mais alto, seria melhor ir para Zurique do que para o Ticino, embora os preços também sejam mais altos. Um diploma universitário, sobretudo aqueles que preparam para cargos com “alto grau de responsabilidade”, também rende pelo menos alguns milhares de francos a mais do que um curso técnico ou tecnólogo. Mas o fator verdadeiramente decisivo é o que você faz: setores com alta “criação de valor” – como a indústria farmacêutica, do tabaco e os bancos – estão muito à frente de setores como os de restaurantes e hotéis, que têm salários mais baixos.

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A desigualdade salarial entre gêneros está diminuindo lentamente

O gênero é outro fator que influencia as diferenças salariais, embora essa situação esteja mudando lentamente. Em 2022, as mulheres ganharam 9,5% a menos que os homens. Em 2020, esse número foi de 10,8% e, em 2018, de 11,5%. Embora o Departamento Federal de Estatística (OFS) não explique os motivos dessa queda, ele indica fatores que influenciam na disparidade salarial entre homens e mulheres: formação, idade, nível de responsabilidade e setor de atuação.

No entanto, como as estatísticas são modeladas com base na remuneração de trabalhos em tempo integral, elas também escondem uma parte da realidade: as mulheres suíças trabalham muito mais em meio período do que os homens. De acordo com o jornal de esquerda Le CourrierLink externo, as estatísticas do OFS apresentam, portanto, um quadro “centrado nos homens” que “não reflete as condições salariais da maioria das mulheres”.

Além disso, as mulheres estão super-representadas (62,5%) em setores de baixa renda (abaixo de 4.500 francos suíços) e sub-representadas (24,6%) em empregos de alta renda (acima de 16.000 francos suíços).

De acordo com o Departamento Federal de Estatística, essas duas situações estão melhorando sutilmente. Uma lei que exige que as maiores empresas públicas da Suíça tenham pelo menos 30% de mulheres em seus conselhos de administração e 20% em seus comitês executivos pode aumentar a participação de mulheres nas faixas salariais mais altas. Mas, como as estatísticas também mostram, a diferença salarial entre homens e mulheres aumenta à medida que se sobe na hierarquia profissional.

Muitos cidadãos suíços enfrentam problemas

Sem dúvida, CHF 6.788 é muito dinheiro. A Suíça é frequentemente classificadaLink externo como um dos países com os salários mais altos do mundo – inclusive entre aqueles que recebem menos.

Ainda assim, esse dinheiro desaparece rapidamente. Zurique e Genebra aparecem regularmente no topo dos rankings das “cidades mais caras” do mundo, e a Suíça também se encontra no topo do Índice Big MacLink externo da revista The Economist. Se somamos as deduções fiscais e previdenciárias, os altos valores médios dos aluguéis (CHF 1.412 por apartamento em 2022), os gastos com transporte público e os custos crescentes do seguro-saúde (CHF 360 por mês), aqueles salários altíssimos não parecem mais tão altos.

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E, embora a inflação tenha sido relativamente menor na Suíça, ela ainda acabou anulando os ganhos salariais divulgados pelo Departamento Federal de Estatística. Desde 2020, os salários reais caíram 0,8%, de acordo com a Secretaria de Estado de Assuntos Econômicos. Essa queda é sutil quando comparada a outros países europeusLink externo, mas ela já está surtindo efeito: uma pesquisa amplamente divulgada revela que metade das famílias suíças não consegue economizar mensalmente dinheiro suficiente para cobrir uma despesa inesperada, como uma visita urgente ao dentista. Quatro em cada dez famílias afirmam que sua situação financeira contribui para sua decisão de não ter mais filhos.

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Quanto às pessoas “em risco de pobreza” – definidas como tendo uma renda disponível inferior a 60% do salário médio –, elas representavam 14,5% da população suíça no ano de 2021. A média na União Europeia foi de 16,8%.

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Os números são neutros, mas não sua interpretação

A ambivalência nas avaliações sobre a situação do país (que alguns consideram boa e outros, grave) se refletiu diretamente nas reações provocadas pela divulgação das estatísticas acima.

Como se quisesse se antecipar aos debates, o Departamento Federal de Estatística chegou mesmo a convidar o chefe da Associação Suíça de Empregadores, Roland Müller, e o economista-chefe da Federação Suíça de Sindicatos, Daniel Lampart, para sua coletiva de imprensa. De acordo com o jornal Le Temps, na ocasião, a “disputa” entre os dois quase ofuscou as notícias do dia, inclusive as positivas, como a diminuição da disparidade salarial entre homens e mulheres.

Para Roland Müller, embora a situação da inflação esteja difícil, a pandemia de Covid-19 e as incertezas geopolíticas poderiam ter acarretado um resultado muito pior. De modo geral, ele disse que a estabilidade observada nas estatísticas é “encorajadora”. Daniel Lampart, por sua vez, considerou que a proporção de trabalhadores que vivem com um “salário baixo” (menos de CHF 4.525 por mês), que foi de 12,5%, era muito alta e que CHF 5.000 deveria ser considerado um mínimo.

Mas, como a Associação Suíça de Empregadores não é a favor de aumentar os salários setoriais, os sindicatos estão se concentrando atualmente em áreas mais promissoras, principalmente nos salários mínimos cantonais e nas votações populares que visam o aumento do poder de compra – como a recente aprovação do 13º salário para a pensão AHV/AVS e a próxima votação sobre os custos do seguro de saúde.

Edição: Balz Rigendinger/fh
(Adaptação: Clarice Dominguez)

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