
Alasca, um estado americano com passado russo

O Alasca, que receberá na sexta-feira uma cúpula entre os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin, esteve sob controle russo antes de ser vendido aos Estados Unidos no século XIX.
Apesar da passagem do tempo, a influência russa continua presente neste estado ártico americano.
– Ex-colônia russa
Quando o explorador dinamarquês Vitus Bering navegou pela primeira vez pelo estreito que separa a Ásia da América em 1728, estava em meio a uma expedição para a Rússia czarista.
A descoberta do que hoje se conhece como estreito de Bering revelou a existência do Alasca a oeste, onde os povos indígenas viviam há milhares de anos.
A expedição de Bering deu início a um século de caça de focas na Rússia, com a primeira colônia estabelecida na ilha Kodiak, no sul.
Em 1799, o czar Paulo I fundou a companhia russo-americana para organizar o comércio de peles.
Superexploradas, as populações de focas e lontras-marinhas colapsaram, e com elas as economias dos colonos.
Em 1867, Moscou vendeu o território a Washington por 7,2 milhões de dólares, uma compra criticada na época.
O Alasca se tornou um estado americano com plenos direitos em 1959.
– Língua e igrejas
A igreja ortodoxa, estabelecida no Alasca desde a fundação da Companhia russo-americana, continua sendo um dos principais legados russos no território.
Mais de 35 igrejas históricas, algumas com as típicas cúpulas da arquitetura ortodoxa, estão presentes no litoral do Alasca, segundo uma associação que busca protegê-las.
A diocese ortodoxa do estado afirma ser a mais antiga da América do Norte, contando com um seminário na ilha Kodiak.
Um dialeto derivado do russo e misturado com línguas indígenas locais sobreviveu por décadas em várias comunidades, sobretudo perto da importante cidade de Anchorage, até que praticamente desapareceu.
Mas perto das imensas geleiras da península de Kenai, o russo ainda é ensinado.
A pequena escola rural de uma comunidade ortodoxa conhecida como “Velhos Crentes”, nascida de um cisma do século XVII e estabelecida na localidade na década de 1960, oferece aulas de russo para uma centena de estudantes.
– Vizinhos
Os russos “são nossos vizinhos de frente, é possível até ver a Rússia de uma ilha no Alasca”, declarou Sarah Palin em 2008, então governadora do estado e candidata à vice-presidência ao lado do republicano John McCain.
De fato, no estreito de Bering, duas ilhas estão frente a frente. Grande Diomedes, a oeste, é russa, e Pequena Diomedes, habitada por algumas dezenas de pessoas, americana. Elas estão separadas por menos de quatro quilômetros.
Mais ao sul, dois russos desembarcaram em outubro de 2022 na ilha de São Lourenço, a menos de 100 km da costa russa, para solicitar asilo nos Estados Unidos e escapar de uma mobilização militar em apoio à guerra na Ucrânia.
Por anos, o Exército americano anunciou que intercepta aviões russos que se aproximam de seu espaço aéreo na região.
Mas a Rússia não está interessada em se apoderar do Alasca, onde “também faz frio”, ironizou Putin em 2014.
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