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Cultivo de esponjas marinhas é salva-vidas para as mulheres de Zanzibar

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Todas as manhãs, mulheres vestidas com hijab e túnicas longas entram nas águas turquesa de Zanzibar para trabalhar em seus cultivos de esponjas marinhas, uma nova fonte de renda que lhes permitiu reconstruir suas vidas após perderem seu sustento anterior devido às mudanças climáticas.

O aumento das temperaturas oceânicas, a pesca excessiva e a poluição degradaram progressivamente os ecossistemas marinhos, afetando especialmente o cultivo de algas, uma atividade essencial para os habitantes da vila de Jambiani, localizada neste arquipélago tanzaniano.

Agora, as mulheres apostam no cultivo de esponjas marinhas, no âmbito de um projeto promovido pela ONG suíça Marine Cultures.

“As altas temperaturas dizimaram as algas e a diminuição dos estoques de peixes levou muitos pescadores a abandonarem sua profissão”, explica Ali Mahmudi, chefe do projeto.

As esponjas, que oferecem abrigo e alimento para as criaturas marinhas, geralmente prosperam em águas mais quentes.

Elas também são lucrativas como produto de cuidado pessoal, usado para esfoliação da pele. Dependendo do tamanho, podem ser vendidas por até 30 dólares cada (pouco menos que 160 reais), e uma única fazenda pode abrigar até 1.500 esponjas.

Da costa, é possível ver estacas pretas emergindo da água, sustentando fileiras de esponjas.

“Fiquei surpresa ao saber que existem esponjas no oceano”, confessa à AFP Nasiri Hassan Haji, de 53 anos, que descobriu essa prática há mais de 10 anos.

Antes disso, essa mãe de quatro filhos cultivava algas, um trabalho que descreve como árduo e pouco rentável.

Em 2009, a Marine Cultures lançou uma fazenda piloto com viúvas em Jambiani para avaliar o potencial dessa atividade no arquipélago, onde mais de um quarto dos 1,9 milhão de habitantes vive abaixo da linha da pobreza.

Com o aumento da demanda por produtos ecológicos, o mercado de esponjas naturais tem experimentado um crescimento constante.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos estimou seu valor em 20 milhões de dólares (103 milhões de reais) em 2020.

– Restauração dos recifes de coral –

“Isso mudou minha vida. Consegui construir minha própria casa”, diz entusiasmada Shemsa Abbasi Suleiman, de 53 anos.

Muitas outras mulheres se juntaram a uma cooperativa para desenvolver o projeto, mas nem sempre foi fácil.

“No início, eu tinha medo de começar porque não sabia nadar. Muitos me desencorajavam, dizendo que (…) eu iria me afogar”, conta Haji.

Graças a um programa de uma ONG, ela aprendeu a nadar aos 39 anos.

Além de gerar renda para a população local, as esponjas são benéficas para o meio marinho.

Estudos mostram que sua estrutura esquelética favorece a captura de carbono nos ecossistemas de corais, enquanto seu corpo poroso filtra e purifica naturalmente a água do mar.

Segundo a ONU, “o oceano está em uma profunda crise”, com aproximadamente 60% dos ecossistemas marinhos mundiais degradados ou explorados de maneira insustentável.

Também se sabe que as esponjas ajudam a restaurar os recifes de coral, que abrigam 25% da vida marinha e atualmente estão ameaçados.

“O que me atraiu nisso foi o fato de que não estamos destruindo o meio ambiente”, acrescenta Haji.

mnk/er/jcp/meb/pb/dd/aa

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